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ENTRETENIMENTO
Estúdios filmam em idiomas de vários países ou procuram parcerias para escapar da estagnação nos EUA
Hollywood investe em produções locais
LAURA M. HOLSON
DO "NEW YORK TIMES"
Se produzir um filme em Hollywood é complicado, considerem
as negociações para "Kung-Fusão", a comédia de ação chinesa
dirigida pelo ator Stephen Chow.
Gareth Wigan, executivo de filmes internacionais na Sony Picture Entertainment, foi apresentado
a Chow em 2002, quando eles começaram a discutir o financiamento de "Kung-Fusão".
Desde 1998, a Sony Pictures,
controlada pela Sony, vinha produzindo filmes para audiências
locais no exterior -um mercado
ainda pequeno, mas visto por
muitos executivos como dotado
de grande potencial para o futuro.
Wigan estava entusiasmado
com o filme até que Chow, conhecido por improvisar cenas e diálogos, entregou a ele uma folha de
papel com uma sinopse de duas
frases e explicou que estava pronto para começar as filmagens. "Eu
disse que ele teria de escrever um
roteiro de verdade", disse Wigan.
O diretor concordou. Foram necessárias quatro versões, mas
mesmo assim Wigan teve que
aceitar um arranjo incomum.
Embora Chow tivesse em seu poder uma cópia do roteiro, nenhum dos atores era obrigado a
memorizá-lo.
"O que queríamos era ter uma
estrutura clara e firme para o filme", disse Wigan. Quando ela foi
desenvolvida, acrescentou, "demos a Stephen liberdade para manipular o roteiro como quisesse".
E a aposta deu certo. "Kung-Fusão" foi grande sucesso na Ásia
em 2004, arrecadando US$ 67 milhões na região e mais US$ 34 milhões em outros países, entre os
quais os Estados Unidos.
Com a nova queda nas vendas
de ingressos de cinema registrada
em 2005 no mercado norte-americano e o debate cada vez mais
intenso sobre a forma e data de
lançamento de novos filmes, mais
estúdios de Hollywood começam
a prestar atenção ao florescente
mercado para filmes em idiomas
locais, como um segmento relativamente próspero em meio a um
mercado fraco.
Sucesso brasileiro
No ano passado, a Walt Disney
formou uma parceria para lançar
seu primeiro filme falado em chinês, que sai este ano. Em janeiro, a
Twentieth Century Fox, divisão
da News Corp., conquistou um
sucesso no Brasil com uma comédia em português sobre troca de
identidades entre um homem e
uma mulher, "Se Eu Fosse Você".
A Sony, junto com a Warner
Brothers, é líder no mercado de
produções em idiomas locais, e
está realizando filmes na Índia,
Rússia e México em 2006.
Um dos motivos para que os estúdios procurem oportunidades
no exterior é que as audiências
crescem mais em outros países do
que nos Estados Unidos.
Em 2005, as bilheterias mundiais de cinema arrecadaram
US$ 23,24 bilhões, queda de 7,9%
ante 2004, mas ainda assim 46% a
mais do que o total de 2000, de
acordo com a MPAA (Motion
Picture Association of America), a
organização setorial dos estúdios.
Em contraste, as bilheterias norte-americanas, que representavam
US$ 8,99 bilhões, ou 39%, do total
mundial, registraram alta de apenas 17% com relação a 2000.
"O modelo para a cultura popular vem de Hollywood, mas os interesses estão se tornando mais
locais", disse Tomas Jegeus, co-presidente da divisão de distribuição cinematográfica internacional da Twentieth Century Fox.
Inicialmente, os estúdios de
Hollywood tentavam adquirir direitos de distribuição de filmes estrangeiros, a fim de ocupar suas
vastas estruturas de distribuição,
cuja manutenção é dispendiosa.
Mas, a despeito do influxo de dinheiro e do crescente interesse, o
mercado continua pequeno.
A maioria dos estúdios, na verdade, não financia projetos a não
ser que eles tenham chance de recuperar custos nas bilheterias.
Considerem esse dado: no ano
passado, 549 filmes foram lançados nos Estados Unidos, de acordo com a MPAA. Em contraste, o
número de filmes em idioma local
produzidos pelos grandes estúdios de Hollywood desde 2000
(sozinhos ou em parceria) atinge
mal e mal um terço disso.
Os lucros também são mínimos. Faturar entre US$ 3 milhões
e US$ 5 milhões com um filme cuja produção tenha custado US$ 1
milhão é "excelente", disse Richard Fox, vice-presidente executivo da divisão internacional da
Warner Brothers, divisão da Time
Warner. O estúdio dele produziu
ou co-produziu 30 filmes em idiomas locais, entre os quais "A Very
Long Engagement" (Um Noivado
Muito Longo], rodado na França
e lançado em 2004. "Comparar a
maioria dos mercados ao dos Estados Unidos é uma distorção."
Salas de cinema
Mas o que pode representar o
maior obstáculo para os estúdios
é aquilo sobre o qual eles têm menos controle: as salas de exibição.
Muitos países, entre os quais Rússia, Brasil e Coréia do Sul, têm número limitado de salas de exibição, o que dificulta um lançamento à maneira norte-americana.
"Se Eu Fosse Você", da Fox, por
exemplo, teve lançamento amplo
no Brasil. Estreou em 200 salas e,
até agora, arrecadou US$ 11,5 milhões nas bilheterias. Em contraste, um grande filme norte-americano estréia em até 3.700 salas e
pode arrecadar US$ 65 milhões
em seu primeiro final de semana
de exibição no país.
Ainda assim, o que a maioria
dos executivos espera poder encontrar é aquela rara pérola que
atravessa fronteiras e se torna sucesso também nos EUA ou, melhor ainda, em todo o mundo.
"O que faço ao conversar com
cineastas é dizer que estou lá para
aprender", afirma Wigan, que é
vice-presidente do conselho da
Columbia TriStar, subsidiária da
Sony Pictures. "Estou lá em grande parte para fazer perguntas".
"O Tigre e o Dragão", dirigido
pelo taiwanês Ang Lee em 2000,
foi um desses raros sucessos para
a Sony. Foi distribuído pela Sony
Pictures Classics nos Estados Unidos e arrecadou US$ 128 milhões
nas bilheterias norte-americanas.
O filme arrecadou US$ 209 milhões no mundo.
A Sony produziu ou co-produziu 27 filmes em idiomas estrangeiros desde 1998, diz Wigan, dos
quais 8 na China, 4 em Hong
Kong e Taiwan, 14 no Reino Unido e Europa e 1 no México.
A empresa, como a Warner
Brothers e a Fox, esteve ativa no
Brasil em larga medida devido aos
incentivos fiscais. Os incentivos
referentes a impostos recolhidos
sobre a distribuição de filmes no
Brasil tornam vantajoso para os
estúdios investir no país, ou teriam de se contentar em ter mais
dinheiro retido.
Embora muitas empresas prevejam que a Índia será o próximo
mercado quente, a maior parte
dos estúdios tem a China na mira,
no momento. Uma razão para o
investimento nesse país é que o
governo chinês restringe a importação de filmes estrangeiros a 20
por ano (a lista incluía "Harry
Potter e o Cálice de Fogo" e "Crônicas de Nárnia" no ano passado).
Mas os analistas do setor dizem
que, ao estimular a produção local
de filmes na China, os estúdios
podem procurar termos mais favoráveis ao negociar com as autoridades regulatórias chinesas, que
controlam não apenas que filmes
estrangeiros podem ser importados mas também os títulos que
passam na televisão e chegam às
lojas em DVD.
Tradução de Paulo Migliacci
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