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Governo vê excesso de normas sindicais
Secretária-adjunta de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho diz que atrativo para criar sindicatos é o imposto sindical
Uma categoria chega a ter 25 descrições diferentes, o que, diz secretária, cria dificuldade para ministério conceder os registros
DA REPORTAGEM LOCAL
Ana Paula Cerca, secretária-adjunta de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho,
admite que existe uma "bagunça" na questão de cadastros de
categorias no órgão. Há também "sobreposição de normas"
para a concessão de registros
sindicais, segundo diz.
"Isso tudo dificulta o entendimento sobre os limites de
atuação do ministério. Mas,
desde 2005, existe uma campanha de recadastramento de sindicatos para corrigir essas distorções." Até agora, 13 mil entidades já se recadastraram.
Ela afirma que existe um cadastro de sindicatos no Ministério do Trabalho, com informações desde 1931, "que não é
confiável", com mais de 25 mil
entidades sindicais, e um universo de mais de 5.000 classificações diferentes para as categorias de trabalhadores.
"Às vezes, uma categoria tem
25 descrições diferentes, como
a de metalúrgicos, a de trabalhadores na indústria metalúrgica e a de trabalhadores nas
empresas de metalurgia. Percebe a nossa dificuldade?"
Fácil de montar
Para Cerca, é fácil montar um
sindicato no Brasil. "Os requisitos para que o sindicato se
constitua são: publicação de
edital para dar ciência à categoria de que será feita assembléia
para estabelecer a fundação da
entidade, envio do estatuto para informar qual é a base que o
sindicato representa, lista de
presença, ata dessa assembléia,
taxa de recolhimento do valor
equivalente à publicação no
"Diário Oficial" e pronto."
Ela diz que o MTE tenta fazer
um "filtro" nos pedidos. "O fato
é que, às vezes, escapa. Há dificuldade para identificar se existe uma entidade já representando o sindicato que pede registro. Por isso é dado 30 dias
de prazo para o sindicato já
existente (com registro) impugnar o surgimento de outra
instituição."
A partir do pedido de impugnação, segundo diz, o Ministério do Trabalho verifica se a entidade que impugnou o sindicato tem registro, apresentou documentos necessários, recolheu taxa e se há conflito de representação.
"Às vezes, o sindicato de indústria quer impugnar o de comércio. Se não há conflito, o registro é concedido. Se há, ou as
partes se entendem ou vão à
Justiça. É a Justiça que determina o que o MTE deve fazer",
afirma.
O atrativo para criar sindicatos, segundo diz, é o imposto
sindical. "Fizemos uma grande
discussão sobre isso no Fórum
Nacional do Trabalho, elaboramos uma Proposta de Emenda
Constitucional e um projeto de
lei que está no Congresso. Mas
a conjuntura política não foi favorável à implementação desse
projeto."
Festa do peão
Questionada se o governo,
mesmo sem aprovação da reforma sindical, poderia barrar o
surgimento de sindicatos, que,
muitas vezes, só têm interesses
financeiros, afirma: "Não podemos barrar nada, não podemos
interferir no setor. Se uma assembléia foi fraudulenta, se
ocorreu no dia da festa do peão,
se o sindicato tem só aparência,
se a assembléia ocorreu com
três gatos pingados, o Ministério do Trabalho não pode fazer
nada. O que podemos fazer,
diante de uma denúncia, é encaminhá-la para o Ministério
Público fazer a investigação."
Ouvidoria
Ela diz que os interessados
em abrir sindicatos tinham fácil acesso a técnicos do MTE.
"O que não quer dizer que havia
favorecimentos. Mas dava margem para um possível conflito
de interesses. O que fizemos?
Construímos uma ouvidoria
específica para tratar dos registros. Por e-mail, telefone ou no
ministério, a entidade pode obter informações."
(FF e CR)
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