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Aneel segura reajuste e distribuidoras têm perda de R$ 412 mi
Após pressão política, agência represa aumento de tarifa para distribuidoras de MS e MG; consumidor deve pagar com correção
Origem do problema é o processo de revisão tarifária da Enersul e da Cemig;
investidores privados criticam posição da Aneel
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) cedeu a pressões políticas, decidiu represar
reajuste de tarifa e deu calote
de R$ 412 milhões nas distribuidoras Enersul (MS) e Cemig
(MG). Com a decisão da agência, o consumidor teve um reajuste menor, mas deverá ser
chamado a pagar a conta depois, com juros.
Durante a semana que antecedeu o reajuste, os diretores
da agência foram procurados,
entre outros, por políticos como o governador de Mato
Grosso do Sul, André Pucinelli
(PMDB), e o senador Delcídio
Amaral (PT-MS). Eles pediam
que a agência "congelasse" a tarifa da Enersul, uma vez que a
concessionária já vende a energia mais cara do país.
A pressão surtiu efeito -a
Aneel não congelou, mas decidiu não aplicar uma regra que
ela mesma havia criado em
2003 e represou entre cinco e
seis pontos percentuais no aumento das concessionárias
Enersul e Cemig. Dessa forma,
os reajustes, que poderiam chegar a 12% para consumidores
residenciais, ficaram entre
3,5% (Enersul) e 6,5% (Cemig).
A decisão da agência alarmou
investidores privados. "Ficamos assustados. A Aneel foi alvo de pressão política, e o que
nos surpreendeu foi que ela cedeu. O que é grave é que a agência está mudando o critério",
disse Cláudio Sales, presidente
do Instituto Acende Brasil, que
reúne os principais investidores privados no setor elétrico,
entre eles o Energias do Brasil,
proprietário da Enersul e controlado pela EDP (Energias de
Portugal).
"A Aneel deu um passo para
trás, colocou uma cortina preta
na transparência", disse Sales.
Ele ressaltou que a agência reguladora deixou também de
computar no cálculo da tarifa
os custos com a implantação do
programa Luz para Todos
-programa do governo federal
que tem como meta levar energia a todo o país.
Segundo Sales, ao deixar de
fazer o reajuste correto, a Aneel
dá um sinal equivocado ao mercado e ao consumidor. "Isso
obscurece a percepção da sociedade em relação ao custo da
energia. Nada é de graça."
Na avaliação da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica),
com a decisão da Aneel, na prática, é como se o consumidor tivesse ido ao mercado e tomado
um empréstimo, que ele terá
que pagar depois, com juros. "A
decisão da Aneel é um erro porque não resolve o problema, joga ele para a frente. O consumidor terá de pagar o valor, corrigido", disse Luiz Carlos Guimarães, presidente da associação.
Segundo ele, houve frustração com a posição da agência
reguladora. "A nossa expectativa era que a Aneel tivesse condições de resistir às pressões e
aplicasse a regra", disse.
Guimarães reconheceu que a
tarifa é alta, especialmente para uma área de concessão com o
perfil da Enersul (com baixa
densidade populacional), mas
que essa questão precisa ser resolvida de outra forma, possivelmente com uma subvenção
ao valor cobrado.
Ele destacou que boa parte
da tarifa é composta de impostos e encargos. O diretor de regulação da Enersul, José Simões Neto, evitou criticar a posição da agência, mas deixou
claro que, do ponto de vista da
concessionária, há direito sobre o que não foi repassado.
"Nossa avaliação é que o regulador fez sua avaliação e nós temos que nos submeter", disse.
Simões Neto é ex-superintendente de Regulação Econômica
da própria Aneel.
Origem do problema
A origem do problema é o
processo de revisão tarifária da
Enersul e da Cemig, que aconteceu em 2003. No processo de
revisão tarifária, a Aneel analisa a estrutura de custo e o retorno do investimento de cada
concessionária. Após essa análise, é definido um valor para a
tarifa, que remunere adequadamente o investidor e garanta
o equilíbrio econômico-financeiro da concessão.
Após essas análises, a Aneel
chegou à conclusão de que a tarifa da Enersul deveria subir
50,81%, e a da Cemig, 44,41%.
Para amenizar os efeitos do
reajuste que calculou, a Aneel
decidiu conceder aumento menor -31,53% para a Enersul e
32,59% para a Cemig- e parcelar a diferença em quatro anos.
Em 2003, quando decidiu
não reajustar a tarifa nos percentuais tecnicamente necessários de acordo com os cálculos feitos no processo de revisão, a agência reguladora informou às concessionárias que as
parcelas anuais dos valores não
repassados seriam corrigidas.
A última parcela, no entanto,
não foi paga para evitar altas
maiores na tarifa. O total para
as duas distribuidoras é R$ 412
milhões. A agência se comprometeu a pagar em 2008.
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