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POBREZA
Pesquisa mostra que sobe número de chefes de família sem renda; pobres são cada vez mais jovens e escolarizados
Brasil tem 4,1 milhões de "sem-renda"
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de chefes de família
sem renda mais que triplicou na
última década. Em 1991, 1,4 milhão de chefes de família não recebiam nenhum tipo de renda monetária. O número chegou a 4,1
milhões no ano passado.
Eles representam cerca de 9,2%
dos chefes de família no Brasil,
são cada vez mais jovens, têm
maior escolaridade e concentram-se cada vez mais nas grandes cidades, revela pesquisa da Secretaria do Desenvolvimento,
Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo.
A pesquisa foi feita com base
nos dados do Censo 2000 do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística). Os dados mostram
que o perfil das pessoas que vivem
sem renda no Brasil mudou no
período de 1991 a 2000.
Mais jovens
Em 1991, a proporção de chefes
de família com até 24 anos e sem
renda era de 4,8%. Em 2000, os jovens sem renda já representavam
12,6% dos chefes de família.
A mesma tendência foi verificada em relação à escolaridade. Segundo a pesquisa, a proporção de
chefes de família sem renda e que
haviam completado um curso
universitário, era de 9,8%. Uma
proporção 263% maior do que a
registrada dez anos antes, quando
era de 2,7%.
A pobreza aumenta mais rápido
também nos maiores centros urbanos. Na década, a proporção
dos sem-renda nas cidades com
mais de 300 mil habitantes saltou
de 2,5% para 9,2%.
Até o início da década, a proporção de chefes de família sem
rendimentos era menor nas grandes cidades. Hoje, não há grandes
diferenças: a taxa oscila de 8,6%
nas cidades de 50 mil a 100 mil habitantes a 9,4% nas pequenas cidades -com até 50 mil.
Para o secretário Marcio Pochmann, que elaborou a pesquisa,
os dados mostram uma mudança
importante no padrão do que ele
chama de "reprodução" da pobreza no Brasil. Na sua avaliação,
o aumento ou manutenção da pobreza ocorria, até o início da década, por meio das condições do
mercado de trabalho brasileiro.
Os trabalhadores menos qualificados, diz Pochmann, obtinham
pouca renda e, ainda que em condições precárias, estavam inseridos no mercado de trabalho. Hoje, diz o secretário, os mais pobres
nem sequer conseguem trabalho,
e vivem à margem do mercado.
"Esse é um mundo que nós não
conhecemos. Um mundo em que
as pessoas não têm renda monetária", diz Pochmann.
Pior: antes, a escolaridade era
garantia de uma vaga no mercado
de trabalho. Hoje, mostra a pesquisa, mesmo os mais escolarizados têm dificuldades de inserção.
Melhora relativa
Mesmo com o aumento dos
sem-renda, os dados mostram
também que o fim da inflação ajudou a reduzir a pobreza.
Cerca de 12,7 milhões de chefes
de família estavam, em 2000, abaixo da linha de pobreza. O número
absoluto é maior do que os 11,7
milhões de 1991, mas em termos
relativos os "pobres" representavam, em 2000, 28,4% do total de
chefes de família, uma queda de
4,9 pontos percentuais em relação
aos 33,3% de 1991.
A pesquisa considerou que estava abaixo da linha de pobreza todo chefe de família que ganhava
1,46 salário mínimo em 1991 e 1,47
salário mínimo em 2000.
Em 2000, no entanto, três em
cada dez chefes de família pobres
não tinham nenhuma fonte de
renda. Em 1991, apenas um em cada dez chefes de família não tinha rendimento.
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