São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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POBREZA

Pesquisa mostra que sobe número de chefes de família sem renda; pobres são cada vez mais jovens e escolarizados

Brasil tem 4,1 milhões de "sem-renda"

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de chefes de família sem renda mais que triplicou na última década. Em 1991, 1,4 milhão de chefes de família não recebiam nenhum tipo de renda monetária. O número chegou a 4,1 milhões no ano passado.
Eles representam cerca de 9,2% dos chefes de família no Brasil, são cada vez mais jovens, têm maior escolaridade e concentram-se cada vez mais nas grandes cidades, revela pesquisa da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo.
A pesquisa foi feita com base nos dados do Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados mostram que o perfil das pessoas que vivem sem renda no Brasil mudou no período de 1991 a 2000.

Mais jovens
Em 1991, a proporção de chefes de família com até 24 anos e sem renda era de 4,8%. Em 2000, os jovens sem renda já representavam 12,6% dos chefes de família.
A mesma tendência foi verificada em relação à escolaridade. Segundo a pesquisa, a proporção de chefes de família sem renda e que haviam completado um curso universitário, era de 9,8%. Uma proporção 263% maior do que a registrada dez anos antes, quando era de 2,7%.
A pobreza aumenta mais rápido também nos maiores centros urbanos. Na década, a proporção dos sem-renda nas cidades com mais de 300 mil habitantes saltou de 2,5% para 9,2%.
Até o início da década, a proporção de chefes de família sem rendimentos era menor nas grandes cidades. Hoje, não há grandes diferenças: a taxa oscila de 8,6% nas cidades de 50 mil a 100 mil habitantes a 9,4% nas pequenas cidades -com até 50 mil.
Para o secretário Marcio Pochmann, que elaborou a pesquisa, os dados mostram uma mudança importante no padrão do que ele chama de "reprodução" da pobreza no Brasil. Na sua avaliação, o aumento ou manutenção da pobreza ocorria, até o início da década, por meio das condições do mercado de trabalho brasileiro.
Os trabalhadores menos qualificados, diz Pochmann, obtinham pouca renda e, ainda que em condições precárias, estavam inseridos no mercado de trabalho. Hoje, diz o secretário, os mais pobres nem sequer conseguem trabalho, e vivem à margem do mercado.
"Esse é um mundo que nós não conhecemos. Um mundo em que as pessoas não têm renda monetária", diz Pochmann.
Pior: antes, a escolaridade era garantia de uma vaga no mercado de trabalho. Hoje, mostra a pesquisa, mesmo os mais escolarizados têm dificuldades de inserção.

Melhora relativa
Mesmo com o aumento dos sem-renda, os dados mostram também que o fim da inflação ajudou a reduzir a pobreza.
Cerca de 12,7 milhões de chefes de família estavam, em 2000, abaixo da linha de pobreza. O número absoluto é maior do que os 11,7 milhões de 1991, mas em termos relativos os "pobres" representavam, em 2000, 28,4% do total de chefes de família, uma queda de 4,9 pontos percentuais em relação aos 33,3% de 1991.
A pesquisa considerou que estava abaixo da linha de pobreza todo chefe de família que ganhava 1,46 salário mínimo em 1991 e 1,47 salário mínimo em 2000.
Em 2000, no entanto, três em cada dez chefes de família pobres não tinham nenhuma fonte de renda. Em 1991, apenas um em cada dez chefes de família não tinha rendimento.



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