São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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Ipea aumenta projeção do PIB para 3,8%

Investimento eleva previsão anterior, de 3,4%; para o instituto, país não cresce acima de 4% sem aprovação de reformas

Órgão do Planejamento estima que crescimento da economia no próximo ano continuará no patamar de 3,8%, a previsão para 2006


JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, elevou sua projeção para o crescimento da economia deste ano de 3,4% para 3,8%. A alteração foi motivada pelo resultado dos investimentos no primeiro trimestre, que cresceram 9% em relação a igual período de 2005.
Mesmo com o aumento da projeção, a estimativa ainda é mais conservadora do que a do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que projeta expansão de 4,5%. Para o Ipea, o país não tem condições de acelerar o ritmo de crescimento sem a aprovação de reformas.
Fábio Giambiagi, economista do instituto, atribui as diferenças nas projeções ao carregamento estatístico do PIB (Produto Interno Bruto). Segundo o economista, a expansão da economia de 4,9% em 2004 pode ser atribuída em parte a um carregamento estatístico de 3,2%, resultado da comparação da posição do final do ano com a média do ano anterior.
Mesmo com o resultado fraco de 2003, a recuperação do segundo semestre trouxe efeitos positivos para o desempenho da economia em 2004. Em 2006, esse efeito estatístico, que reflete o desempenho do ano anterior, é de apenas 2%. Na prática, isso significa que, se o país não avançasse mais nada até o fim do ano, já teria garantido o crescimento de 2%.
O Ipea revisou sua projeção de investimentos de 5,8% para 7,8%. Segundo Giambiagi, o investimento em alta deverá ser ditado pelo comportamento da construção civil. "Temos a percepção de que o dinamismo da construção civil representa movimentos naturais associados a anos eleitorais, como o aumento no número de obras, e o efeito com alguma defasagem das medidas de estímulo ao setor. Além disso, há também a superação do trauma da crise política do terceiro trimestre, que dá mais confiança ao empresariado, e o efeito da redução dos juros", disse.

Quem sustenta
Para o instituto, a redução dos juros, o aumento do salário mínimo e a maior disposição de investimento são os elementos que vão sustentar o crescimento da economia em 2006. Do ponto de vista dos setores, o crescimento deve ser liderado pela expansão da indústria, estimada em 5,3% do PIB, com destaque para a extrativa mineral e para a construção civil.
A expansão da indústria de transformação deverá ser alavancada pelo aumento na produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) e de bens de consumo, o que representa maior demanda por parte das famílias e das empresas.
O Ipea estima que a taxa básica de juros vai chegar ao final do ano na faixa de 14,2% ao ano e que dificilmente ficará abaixo de 14%. "O cenário do comportamento recente da inflação, da utilização da capacidade [instalada], que continua baixa, deixam o Banco Central em posição muito confortável para dar continuidade ao processo de redução da taxa de juros", disse.
A projeção do instituto para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é de 4,4% neste ano, abaixo da meta definida pelo Banco Central, de 4,5%.

Fenômeno passageiro
As projeções do instituto consideram que a turbulência que tomou conta do mercado financeiro nas últimas semanas é um fenômeno passageiro. Os principais entraves para o crescimento do país continuam ligados a questões internas.
O Ipea destaca que a turbulência verificada sugere que pode estar próximo do fim o ambiente de forte expansão do produto mundial, de elevada liquidez e de preços crescentes de commodities, o que não é sinal de crise, mas de condições menos favoráveis. As projeções incorporam a previsão do FMI de avanço mundial de 4,9% neste ano e de 4,7% em 2007.
O instituto reduziu sua projeção do saldo da balança comercial de US$ 41,8 bilhões para US$ 40,4 bilhões. Para 2007, a expectativa é que o saldo caia para US$ 36,3 bilhões. Para o Ipea, o país se aproxima de uma situação de equilíbrio na balança comercial no próximo ano. A taxa do câmbio no último trimestre deve ficar em R$ 2,30.
A projeção do instituto para 2007 é de manutenção do patamar de crescimento da economia em 3,8%. Segundo Giambiagi, ainda existem dúvidas sobre o cenário que se desenha para o próximo ano.
Além disso, o economista destaca que ainda existem dúvidas sobre quem vencerá as eleições e que cardápio será apresentado em janeiro. "É necessário um sinal de perspectiva de estabilidade futura. Isso significa mudar a equação da política econômica, com menos peso para a política monetária, reforço da política fiscal e lançamento de agenda com duas ou três reformas importantes."


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