São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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MÍDIA

Fundos de investimentos dos EUA desembolsam R$ 150 milhões por parte das ações do grupo brasileiro

Americanos compram 13,8% da Abril

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O grupo Abril fechou ontem, em São Paulo, a venda de 13,8% de suas ações para fundos de investimento norte-americanos administrados pela Capital International Inc., que terá dois representantes no conselho de administração do grupo editorial.
Segundo o diretor de relações institucionais da Abril, Sidnei Basile, as ações foram vendidas por R$ 150 milhões.
O dinheiro será usado para reduzir o endividamento da Abril, da ordem de R$ 900 milhões, e para prepará-la para eventuais novos investimentos.
O grupo, a exemplo de outras grandes empresas de comunicação brasileiras, endividou-se nos anos 90 ao estender suas atividades para os mercados de TV por assinatura.
Com a desvalorização cambial, em 1999, a Abril passou a enfrentar dificuldades financeiras e fez grande esforço para reduzir seus custos nos últimos três anos. Entre outras iniciativas, vendeu sua participação na empresa de TV paga via satélite DirecTV.
A associação com a Capital International vinha sendo discutida havia um ano entre a família Civita e o grupo norte-americano. A Abril fez uma emissão privada de ações, que foi subscrita integralmente pelo novo sócio.
Trata-se da primeira operação de investimento estrangeiro em uma empresa brasileira de comunicação desde a aprovação, pelo Congresso Nacional, em 2002, da emenda constitucional que permitiu a participação de pessoas jurídicas e de capital externo no setor de mídia: emissoras de rádio, televisão, jornais e revistas. A participação estrangeira pode ser de até 30%.
Na semana passada, as Organizações Globo, da família Marinho, anunciaram a associação com o grupo mexicano Telmex na empresa de TV a cabo Net Serviços, mas a Net não é empresa de comunicação, e sim de telecomunicação, regida pela lei da TV a cabo, que permite participação estrangeira de até 49,9%.

Nota
Em nota divulgada ontem à noite, a Abril afirmou que os recursos aportados pelo sócio estrangeiro vão possibilitar o fortalecimento econômico e financeiro do grupo e que este foi o primeiro passo para a abertura do seu capital.
Roberto Civita, presidente da Abril, qualificou de "histórico" o acordo com os investidores norte-americanos e disse que a entrada dos recursos se soma ao esforço feito pela empresa para equacionar sua dívida.
Sobre o fato de a Abril ser a primeira empresa de comunicação a se associar a um grupo estrangeiro, Civita disse que o objetivo da legislação é manter a independência dos meios de comunicação e, ao mesmo tempo, permitir a construção de uma indústria editorial forte.
De acordo com Sidnei Basile, a família Civita permanece responsável pelo conteúdo de suas publicações.
O grupo Abril publica mais de 200 títulos, entre os quais sete das dez revistas de maior circulação no Brasil, como "Veja", "Playboy" e "National Geographic".

Grupos
Fundado em 1950, o grupo emprega cerca de 6.000 pessoas e, além da publicação de revistas, atua nas áreas de edição de livros didáticos, conteúdo e serviços on-line, internet, TV segmentada e por assinatura.
A holding do Grupo Abril é formada pelas seguintes empresas: Editora Abril S.A. (e suas subsidiárias Dinap e Datalistas), editoras Ática e Scipione, Abril Marcas, Abril Comunicações e subsidiárias (TVA), MTV Brasil e Usina do Som Brasil.
A Capital International Inc. é um dos maiores gestores de fundos de investimentos dos Estados Unidos e administra cerca de US$ 294 bilhões em ativos. Pertence ao Capital Group, que possui aproximadamente US$ 500 bilhões em ativos no total.
As aplicações do grupo se estendem por mercados emergentes e países desenvolvidos.


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