São Paulo, sábado, 08 de julho de 2006

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Wal-Mart traça plano para dominar país

Relatório sigiloso da rede americana, maior varejista do mundo, prevê faturamento de R$ 40 bi no Brasil em dez anos

Objetivo só pode ser alcançado com expansão dramática das operações ou a aquisição de um dos líderes do mercado local


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em reunião fechada na sede do grupo Wal-Mart, nos EUA, em junho, a operação brasileira foi alvo de um relatório interno sigiloso elaborado pelo comando da maior rede de varejo do mundo. Um dos tópicos é uma bomba: prevê faturamento no país de R$ 40 bilhões (valor nominal) daqui a dez anos, apurou a Folha. Trazido a valor presente (número real), segundo cálculo de analista, seriam R$ 27 bilhões -o equivalente à soma da receita da cadeia americana e do grupo Pão de Açúcar em 2005.
Os dados são estratégicos, e há departamentos internos da rede que já foram informados do plano decenal. A discussão ocorreu durante a reunião anual de acionistas da empresa, na cidade de Bentonville, Arkansas, e contou com a presença de Vicente Trius, presidente da filial brasileira e peça importante na elaboração das previsões. Procurada, a companhia no Brasil informa que "está otimista com o desempenho da rede no mercado brasileiro e tem planos de crescimento". E completa: "As informações, porém, são estratégicas para a empresa. O Wal-Mart não comenta dados ou informações especulativas".
A Folha apurou que concorrentes da empresa -Pão de Açúcar e Carrefour- já têm dados sobre o relatório interno da rede, que começou a vazar na última semana.
Os R$ 27 bilhões (valor presente) equivalem a pouco mais de 25% de participação de mercado nas vendas do segmento supermercadista no país. As duas maiores redes no Brasil hoje, Pão de Açúcar e a francesa Carrefour, têm um "market share" de pouco mais de 14% e 11%, respectivamente.
Se conseguir atingir os R$ 27 bilhões, será uma expansão média real anual, até 2016, de 8,73% -muito superior à taxa de crescimento do setor nos últimos anos, assim como a prevista para os próximos dez anos. O desempenho dos supermercados acompanha a expansão do PIB nacional, que deverá crescer 4% ao ano, em média, de 2006 a 2011, e outros 4,5% de 2011 a 2016, segundo estimava média de corretoras e bancos de varejo.
É possível inferir, portanto, que uma expansão nesse patamar de quase 9% só será possível roubando mercado alheio, dizem especialistas. Seja por um veloz crescimento orgânico ou por aquisições. É nesse segundo caso que o crescimento pode ser mais rápido. "O maior empecilho para isso são os próprios outros "players" do mercado. Nos próximos anos, não se desenha uma saída de ninguém do mercado. Isso só seria possível no longo prazo", diz Eugenio Foganholo, sócio diretor da Mixxer Consultoria.
Abílio Diniz e o grupo francês Casino são donos de uma holding que controla o grupo Pão de Açúcar. Os franceses só podem vender sua parcela no negócio com o aval de Diniz.
Recursos para o "bote" do Wal-Mart não faltam. Além de ser a maior varejista do mundo, a rede admite abertamente que analisa todas as possibilidade de compra no país e tem dinheiro de sobra.
Foi o Wal-Mart, com faturamento que já ultrapassa os US$ 300 bilhões anuais no mundo, que assinou o cheque de US$ 763,7 milhões para a compra da rede portuguesa Sonae no Brasil, em 2005.
Se o setor desenhar um aumento na concentração, perde fornecedores e pode ganhar o consumidor. Isso se a rede repassar ao cliente o ganho no poder de barganha que a empresa terá ao ampliar sua escala no país.


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