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Wal-Mart traça plano para dominar país
Relatório sigiloso da rede americana, maior varejista do mundo, prevê faturamento de R$ 40 bi no Brasil em dez anos
Objetivo só pode ser alcançado com expansão dramática das operações
ou a aquisição de um dos líderes do mercado local
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em reunião fechada na sede
do grupo Wal-Mart, nos EUA,
em junho, a operação brasileira
foi alvo de um relatório interno
sigiloso elaborado pelo comando da maior rede de varejo do
mundo. Um dos tópicos é uma
bomba: prevê faturamento no
país de R$ 40 bilhões (valor nominal) daqui a dez anos, apurou
a Folha. Trazido a valor presente (número real), segundo
cálculo de analista, seriam R$
27 bilhões -o equivalente à soma da receita da cadeia americana e do grupo Pão de Açúcar
em 2005.
Os dados são estratégicos, e
há departamentos internos da
rede que já foram informados
do plano decenal. A discussão
ocorreu durante a reunião
anual de acionistas da empresa, na cidade de Bentonville,
Arkansas, e contou com a presença de Vicente Trius, presidente da filial brasileira e peça
importante na elaboração das
previsões. Procurada, a companhia no Brasil informa que "está otimista com o desempenho
da rede no mercado brasileiro e
tem planos de crescimento". E
completa: "As informações, porém, são estratégicas para a
empresa. O Wal-Mart não comenta dados ou informações
especulativas".
A Folha apurou que concorrentes da empresa -Pão de
Açúcar e Carrefour- já têm dados sobre o relatório interno da
rede, que começou a vazar na
última semana.
Os R$ 27 bilhões (valor presente) equivalem a pouco mais
de 25% de participação de mercado nas vendas do segmento
supermercadista no país. As
duas maiores redes no Brasil
hoje, Pão de Açúcar e a francesa Carrefour, têm um "market
share" de pouco mais de 14% e
11%, respectivamente.
Se conseguir atingir os R$ 27
bilhões, será uma expansão
média real anual, até 2016, de
8,73% -muito superior à taxa
de crescimento do setor nos últimos anos, assim como a prevista para os próximos dez
anos. O desempenho dos supermercados acompanha a expansão do PIB nacional, que
deverá crescer 4% ao ano, em
média, de 2006 a 2011, e outros
4,5% de 2011 a 2016, segundo
estimava média de corretoras e
bancos de varejo.
É possível inferir, portanto,
que uma expansão nesse patamar de quase 9% só será possível roubando mercado alheio,
dizem especialistas. Seja por
um veloz crescimento orgânico
ou por aquisições. É nesse segundo caso que o crescimento
pode ser mais rápido. "O maior
empecilho para isso são os próprios outros "players" do mercado. Nos próximos anos, não
se desenha uma saída de ninguém do mercado. Isso só seria
possível no longo prazo", diz
Eugenio Foganholo, sócio diretor da Mixxer Consultoria.
Abílio Diniz e o grupo francês Casino são donos de uma
holding que controla o grupo
Pão de Açúcar. Os franceses só
podem vender sua parcela no
negócio com o aval de Diniz.
Recursos para o "bote" do
Wal-Mart não faltam. Além de
ser a maior varejista do mundo,
a rede admite abertamente que
analisa todas as possibilidade
de compra no país e tem dinheiro de sobra.
Foi o Wal-Mart, com faturamento que já ultrapassa os US$
300 bilhões anuais no mundo,
que assinou o cheque de US$
763,7 milhões para a compra da
rede portuguesa Sonae no Brasil, em 2005.
Se o setor desenhar um aumento na concentração, perde
fornecedores e pode ganhar o
consumidor. Isso se a rede repassar ao cliente o ganho no
poder de barganha que a empresa terá ao ampliar sua escala no país.
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