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Inflação pelo IPCA é a menor em oito anos
Deflação de 0,21% em junho foi provocada pelo recuo nos preços dos combustíveis e dos alimentos e pela queda do dólar
Taxa no semestre é a mais baixa desde o início do Real; índice em 12 meses (4,03%) está abaixo do centro da meta do governo, de 4,5%
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sob efeito do recuo do dólar,
dos combustíveis e dos alimentos, o IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo) registrou em junho a menor taxa em
quase oito anos. A deflação de
0,21% no mês passado foi a
mais intensa desde setembro
de 1998 (-0,22%), segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Em
maio, o índice havia subido
0,10%. O IPCA fechou o primeiro semestre com alta de
1,54% -a mais baixa marca
desde o início do Plano Real.
Em 12 meses, a taxa se manteve abaixo do centro da meta
de inflação do governo (4,5%)
para este ano. Ficou em 4,03%
-o menor patamar desde junho de 1999.
Para Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices
de Preços do IBGE, o resultado
de junho "consolida um processo de estabilização dos preços" visto nos últimos meses
cujo determinante é o câmbio,
com impacto direto sobre os
alimentos e indireto sobre as
tarifas públicas, que sobem menos neste ano graças ao recuo
dos índices de inflação em
2005. "Estamos numa fase de
desindexação. E o dólar baixo
tem sido o principal instrumento para conter a inflação."
O resultado surpreendeu
analistas, que projetavam deflação de 0,10% em junho, segundo pesquisa feita pelo BC.
"No começo do ano, nem os
mais otimistas esperavam taxa
tão baixa no semestre. E todos
os sinais são de que a inflação se
manterá muito bem comportada", avalia Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital.
O economista revisou sua
previsão para a taxa Selic de
14,5% para 14% ao final do ano
-hoje, está em 15,25%. Neste
mês, "o juro deve cair 0,5 ponto
percentual", estima Sant'Anna.
Diferentemente de 1998, o
economista ressalta que a inflação está em baixa sem retração
do nível de atividade econômica e do consumo, num ambiente de aumento da renda e dos
investimentos.
Queda generalizada
Para Andréia Parente Lameiras, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os
dados de junho revelam "uma
mudança no perfil" da inflação,
com o país "deixando para trás
uma cultura inflacionária".
Sinal disso é o fato de os serviços (cabeleireiro, consertos e
outros) não terem subido, apesar do reajuste do salário mínimo, que geralmente baliza esses preços.
Já Solange Srour, economista-chefe da gestora de recursos
Mellon, disse que o "choque
dos alimentos", que puxou os
preços para baixo, é "transitório". Ainda assim, ela afirma
que, em junho, "houve queda
generalizada" dos preços e diminuição das previsões futuras
de inflação, o que reduz a "inércia" nos próximos meses -ou
seja, o poder da inflação se realimentar baseada na expectativa de novos aumentos.
Em junho, a queda dos preços dos combustíveis -de
8,77% do álcool e de 1,60% da
gasolina- e dos alimentos
(0,61%) explica a maior parte
da deflação.
Somente os combustíveis
contribuíram com menos
0,18% para a taxa do mês, com a
safra da cana-de-açúcar e a redução do consumo de álcool.
Além do câmbio, clima favorável para alimentos "in natura" (frutas, verduras, legumes)
e a grande oferta da safra agrícola deste ano também seguraram os preços dos alimentos.
Para este mês, especialistas
esperam um IPCA de 0,10% a
0,20%. A boa notícia é a redução das tarifas de energia elétrica em São Paulo (1,91%) e de telefonia fixa (de 0,38% a 0,51%),
que deverão conter o índice de
inflação deste mês.
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