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Absorver Banespa foi como "cobra engolir boi"
DA REPORTAGEM LOCAL
O Santander pagou R$ 7,05
bilhões em novembro de 2000
pelo controle do Banespa, um
valor mais de duas vezes superior ao lance de R$ 2,1 bilhão
feito no leilão de privatização
pelo Unibanco, o segundo colocado. O valor do desembolso
chocou os bancos brasileiros,
mas os maiores custos vieram
bem depois na incorporação do
banco paulista.
Após a aquisição, os espanhóis descobriram que o Banespa era um elefante branco
ainda maior do que o imaginado. Eles tinham em mãos um
gigante ineficiente, adormecido na burocracia e perdido no
corporativismo, que demandava forte investimento em tecnologia e em treinamento de
pessoal. Para o Santander, porém, era uma oportunidade
única de penetrar em São Paulo, o maior mercado do país.
"A incorporação do Banespa
foi muito custosa. Levou anos.
Era como uma cobra engolindo
um boi. Levou muito tempo para digerir", disse Luís Miguel
Santacreu, analista de bancos
da Austin Rating.
A incorporação total do Banespa demorou mais de cinco
anos e custou 20 mil empregos,
o número total de demissões
feitas pelo grupo desde que
chegou ao Brasil, segundo o
Sindicato dos Bancários de São
Paulo (ligado à CUT).
Só o PDV (Programa de Demissão Voluntária), aberto
quatro meses depois da privatização, teve adesão de 8.200 dos
22.300 bancários que tinha à
época. A maioria era de funcionários antigos e com salários
altos. Para incentivar o desligamento, o Santander ofereceu
bônus de até oito salários, de
acordo com o tempo de casa,
além dos direitos rescisórios.
Na média, as indenizações ficaram em torno de R$ 70 mil.
"A experiência de negociação
com o Santander é ruim. As negociações do Banespa foram
sempre muito tensas, se arrastaram por meses, até que mais
de 8.000 aceitaram o PDV. Depois houve toda uma negociação exaustiva, em que os bancários aceitaram abrir mão do
reajuste para garantir a manutenção do emprego", disse Rita
Berlofa, diretora do Sindicato
dos Bancários de São Paulo.
Tesouraria ousada
Para financiar os anos difíceis, o banco apostou suas fichas na Tesouraria, conhecida
como uma das mais ousadas no
início da década por lucrar alto
com os juros brasileiros e apostas arriscadas com ações. Para
isso, o banco contou com profissionais experientes, vindos
do antigo Bozano,Simonsen,
um dos bancos de investimento
de maior destaque nos anos 90.
Como na Espanha, o Santander adotou uma política comercial agressiva para ganhar mercado. Foi um dos primeiros a instituir juros de pouco mais de
1,5% ao mês no financiamento
de veículos, quando nem existia o crédito consignado com
taxa de 2% ao mês.
A completa integração dos
sistemas só terminou em meados do ano passado, quando foi
extinta a marca Banespa.
Nos últimos anos, investiu
pesado na compra de folhas de
pagamento de servidores públicos e privados, e conseguiu
aumentar sua participação de
mercado em praticamente todos os produtos, especialmente
em fundos e cartões de crédito.
Para Ceres Lisboa, analista
da agência de classificação de
risco Moody's, o maior risco na
compra do Real é repetir o que
aconteceu com o Banespa.
"Nos primeiros anos, a instituição tende a se voltar para ela
própria. Há um risco de perder
depois oportunidades", disse.
Para Santacreu, além da dificuldade em si da incorporação,
o Santander corre o perigo de
desprezar conquistas e a experiência de áreas em que o ABN
está na frente, como o atendimento de qualidade para clientes de alta renda. "O Santander
corre o risco de estragar muita
coisa que dava certo", disse.
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