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Fed financia empresas e acena cortar juro
Banco central dos EUA toma decisão inédita de comprar títulos de companhias não-financeiras, atingidas pela falta de crédito
Mercado de "commercial papers", principal fonte de financiamento de negócios no dia-a-dia, atingiu menor volume em 3 anos no país
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Em decisão radical para tentar destravar o mercado de crédito e a economia nos EUA, o
Fed (banco central norte-americano) anunciou que passará a
comprar títulos de curto prazo
de empresas não-financeiras
no país. Sugeriu ainda que pode
cortar os juros em breve.
A ação no mercado de títulos
de empresas (chamados de
"commercial papers") é inédita
nos 95 anos de história do Fed e
representa um risco aos contribuintes. Na prática, a instituição vai emprestar dinheiro a
uma empresa sem ter garantias
de que receberá o valor de volta, caso a companhia enfrente
dificuldades.
O mercado de "commercial
papers" nos EUA é a principal
fonte de financiamento dos negócios do dia-a-dia. Na semana
passada, o volume desses papéis circulando baixou para
US$ 1,6 trilhão, o menor em
três anos.
Cerca de US$ 200 bilhões
evaporaram desse mercado em
dias, trazendo dificuldades de
financiamentos até para empresas de primeira linha, como
General Electric, AT&T e
Goodyear. Entre as menores,
muitas não conseguem dinheiro até para pagar salários.
A paralisia nesse mercado é
vista por analistas como o pior
dos ingredientes da atual crise,
pois afeta diretamente os negócios das empresas e o financiamento que elas dão a seus clientes e consumidores, aumentando o potencial da recessão que
já está a caminho.
"O mercado de "commercial
papers" está implodindo. Há
centenas de empresas com dívidas para vencer competindo
por fundos escassos e altas taxas de juro para poder renová-las", diz Robert Andres, estrategista da Porfolio Management Consultants.
A estimativa é que as empresas não-financeiras nos EUA
tenham débitos vencendo em
2008 no valor total de US$ 750
bilhões -e que precisam ser refinanciados ou pagos.
Segundo comunicado do
Fed, "a medida deve encorajar
os investidores a voltarem ao
mercado de "commercial papers" e vai complementar outras ações já tomadas para dar
liquidez ao mercado".
Em discurso ontem, o presidente do Fed, Ben Bernanke,
justificou mais essa intervenção estatal na economia.
"Aprendemos com a experiência histórica e com severas
crises financeiras que, se a intervenção estatal acontece somente quando muitas ou a
maioria das instituições financeiras estão insolventes ou perto disso, os custos para restaurar o sistema são muito maiores", disse Bernanke.
O Fundo de Financiamento
de Papéis Comerciais (na sigla
em inglês) será sediado em Nova York e passará a comprar
nos próximos dias os títulos
com prazos de três meses diretamente das empresas. O financiamento virá do Tesouro.
Nos últimos dias, as companhias vinham conseguindo colocar papéis no mercado apenas por prazos de um dia, tamanho o receio dos compradores
de emprestar dinheiro para
qualquer negócio agora.
Ontem, o anúncio da medida
fez cair 0,74 ponto percentual,
para 2,94% ao ano, o juro cobrado para papéis "overnight".
Na segunda, o Fed já havia tomado medidas para aumentar
de US$ 300 bilhões para US$
900 bilhões as linhas de liquidez para os bancos e programou uma série de leilões para
disponibilizar esse dinheiro
nas próximas semanas.
Com as duas medidas, a instituição pretende encorajar os
bancos e investidores que têm
dinheiro sobrando a retornarem ao mercado, aumentando a
oferta de crédito e diminuindo
o seu custo.
A urgência e o ineditismo das
medidas mostram que o Fed
não conta com um rápido funcionamento do plano do Tesouro dos EUA para "desentupir" o mercado comprando créditos "tóxicos" com os US$ 700
bilhões aprovados pelo Congresso na semana passada.
A expectativa é que o plano
do Tesouro ainda demande várias semanas para começar a
dar resultados concretos.
BUSH PEDE A EUROPEUS AÇÃO COORDENADA
O presidente dos EUA conversou, por telefone, ontem,
com alguns dos principais líderes do bloco europeu para "garantir que as nossas ações [contra a crise financeira] estão
coordenadas". Segundo a Casa
Branca, Bush falou com Nicolas
Sarkozy, da França, Gordon
Brown, do Reino Unido, e Silvio
Berlusconi, da Itália. Sobre a situação da economia, Bush afirmou várias vezes que os EUA
enfrentam "tempos difíceis".
"Mas acredito firmemente que
o amanhã será melhor."
GM E FORD SUSPENDEM PRODUÇÃO NA EUROPA
As duas maiores montadoras
americanas vão suspender parte da sua produção na Europa,
por causa da expectativa de
queda nas compras de veículos
na região. Os consumidores
têm dificuldades para conseguir crédito nos bancos. A GM
vai fechar temporariamente
suas fábricas no Reino Unido,
na Alemanha e na Espanha. No
caso da Ford, será afetada a
unidade da Alemanha. Volkswagen e BMW também devem
diminuir a produção no bloco.
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