São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Fed financia empresas e acena cortar juro

Banco central dos EUA toma decisão inédita de comprar títulos de companhias não-financeiras, atingidas pela falta de crédito

Mercado de "commercial papers", principal fonte de financiamento de negócios no dia-a-dia, atingiu menor volume em 3 anos no país

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Em decisão radical para tentar destravar o mercado de crédito e a economia nos EUA, o Fed (banco central norte-americano) anunciou que passará a comprar títulos de curto prazo de empresas não-financeiras no país. Sugeriu ainda que pode cortar os juros em breve.
A ação no mercado de títulos de empresas (chamados de "commercial papers") é inédita nos 95 anos de história do Fed e representa um risco aos contribuintes. Na prática, a instituição vai emprestar dinheiro a uma empresa sem ter garantias de que receberá o valor de volta, caso a companhia enfrente dificuldades.
O mercado de "commercial papers" nos EUA é a principal fonte de financiamento dos negócios do dia-a-dia. Na semana passada, o volume desses papéis circulando baixou para US$ 1,6 trilhão, o menor em três anos.
Cerca de US$ 200 bilhões evaporaram desse mercado em dias, trazendo dificuldades de financiamentos até para empresas de primeira linha, como General Electric, AT&T e Goodyear. Entre as menores, muitas não conseguem dinheiro até para pagar salários.
A paralisia nesse mercado é vista por analistas como o pior dos ingredientes da atual crise, pois afeta diretamente os negócios das empresas e o financiamento que elas dão a seus clientes e consumidores, aumentando o potencial da recessão que já está a caminho.
"O mercado de "commercial papers" está implodindo. Há centenas de empresas com dívidas para vencer competindo por fundos escassos e altas taxas de juro para poder renová-las", diz Robert Andres, estrategista da Porfolio Management Consultants.
A estimativa é que as empresas não-financeiras nos EUA tenham débitos vencendo em 2008 no valor total de US$ 750 bilhões -e que precisam ser refinanciados ou pagos.
Segundo comunicado do Fed, "a medida deve encorajar os investidores a voltarem ao mercado de "commercial papers" e vai complementar outras ações já tomadas para dar liquidez ao mercado".
Em discurso ontem, o presidente do Fed, Ben Bernanke, justificou mais essa intervenção estatal na economia.
"Aprendemos com a experiência histórica e com severas crises financeiras que, se a intervenção estatal acontece somente quando muitas ou a maioria das instituições financeiras estão insolventes ou perto disso, os custos para restaurar o sistema são muito maiores", disse Bernanke.
O Fundo de Financiamento de Papéis Comerciais (na sigla em inglês) será sediado em Nova York e passará a comprar nos próximos dias os títulos com prazos de três meses diretamente das empresas. O financiamento virá do Tesouro.
Nos últimos dias, as companhias vinham conseguindo colocar papéis no mercado apenas por prazos de um dia, tamanho o receio dos compradores de emprestar dinheiro para qualquer negócio agora.
Ontem, o anúncio da medida fez cair 0,74 ponto percentual, para 2,94% ao ano, o juro cobrado para papéis "overnight".
Na segunda, o Fed já havia tomado medidas para aumentar de US$ 300 bilhões para US$ 900 bilhões as linhas de liquidez para os bancos e programou uma série de leilões para disponibilizar esse dinheiro nas próximas semanas.
Com as duas medidas, a instituição pretende encorajar os bancos e investidores que têm dinheiro sobrando a retornarem ao mercado, aumentando a oferta de crédito e diminuindo o seu custo.
A urgência e o ineditismo das medidas mostram que o Fed não conta com um rápido funcionamento do plano do Tesouro dos EUA para "desentupir" o mercado comprando créditos "tóxicos" com os US$ 700 bilhões aprovados pelo Congresso na semana passada.
A expectativa é que o plano do Tesouro ainda demande várias semanas para começar a dar resultados concretos.




BUSH PEDE A EUROPEUS AÇÃO COORDENADA
O presidente dos EUA conversou, por telefone, ontem, com alguns dos principais líderes do bloco europeu para "garantir que as nossas ações [contra a crise financeira] estão coordenadas". Segundo a Casa Branca, Bush falou com Nicolas Sarkozy, da França, Gordon Brown, do Reino Unido, e Silvio Berlusconi, da Itália. Sobre a situação da economia, Bush afirmou várias vezes que os EUA enfrentam "tempos difíceis". "Mas acredito firmemente que o amanhã será melhor."

GM E FORD SUSPENDEM PRODUÇÃO NA EUROPA
As duas maiores montadoras americanas vão suspender parte da sua produção na Europa, por causa da expectativa de queda nas compras de veículos na região. Os consumidores têm dificuldades para conseguir crédito nos bancos. A GM vai fechar temporariamente suas fábricas no Reino Unido, na Alemanha e na Espanha. No caso da Ford, será afetada a unidade da Alemanha. Volkswagen e BMW também devem diminuir a produção no bloco.


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