São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Com US$ 87 bi, Londres faz "estatização" parcial de bancos

Dinheiro será usado para comprar ações das instituições abaladas pela crise

Governo "investirá" em ações dos principais bancos britânicos; objetivo é tentar capitalizá-los e evitar que papéis caiam mais na Bolsa

Kirsty Wigglesworth - Associated Press
Agência do Royal Bank of Scotland, em Londres, cujas ações caíram 39% ontem na Bolsa londrina

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

O governo do Reino Unido fechou ontem à noite um pacote histórico de até 50 bilhões de libras (US$ 87 bilhões, ou R$ 202 bilhões) de ajuda aos bancos do país, que, na prática, estatiza parcialmente o sistema bancário britânico.
O primeiro-ministro, Gordon Brown, foi praticamente forçado a decidir pelo pacote, ontem, em reunião de emergência depois de um dia em que as ações dos principais bancos do país tiveram enormes quedas na Bolsa londrina.
Até ontem pela manhã, a idéia do governo ainda era estudar melhor o plano pelo menos até a semana que vem. Não deu. Os detalhes devem ser anunciados hoje pelo ministro das Finanças, Alistair Darling, antes da abertura do mercado.
O dinheiro deve ser "investido" em ações dos principais bancos do país, para tentar capitalizá-los e levar a uma retomada da confiança no sistema bancário britânico, com a volta dos empréstimos a outros bancos e a empresas. Ontem, os papéis do Royal Bank of Scotland caíram 39%, enquanto as do HBOS tiveram queda de 42% -isso num dia em que a Bolsa fechou estável, depois da pior queda diária desde 19 de outubro de 1987 -a segunda-feira negra. O único dos grandes bancos a fechar em alta, de 2%, foi o HSBC, visto como o mais capitalizado deles.
Anteontem à noite, dirigentes do RBS, do Barclays, do Lloyds TSB e de outros bancos tiveram reunião secreta com Darling para pedir pressa na decisão sobre o pacote de ajuda aos bancos. O vazamento da notícia reforçou a sensação de vulnerabilidade dos bancos.
Diferentemente do pacote norte-americano, que compra títulos duvidosos em poder dos bancos, mas não coloca dinheiro diretamente neles, o plano britânico segue o caminho apontado por muitos analistas, de "capitalizar" diretamente as instituições.
Além dos 50 bilhões de libras, um fundo também deve ser criado para garantir o funcionamento das operações diárias dos bancos comerciais.
Segundo os principais meios de comunicação do país, o pacote também pode exigir representantes do governo na direção dos bancos e limites para a remuneração de executivos.
O tom do noticiário noturno dá uma dimensão da importância do pacote. "É o fim de uma era", disse o editor de política da BBC, Nick Robinson, sobre a decisão do governo Brown, do Partido Trabalhista.

Recessão e desemprego
A decisão de resgatar os bancos vem no mesmo dia em que a Câmara de Comércio Britânica disse que o país já está em recessão e pode perder 350 mil postos de trabalho no ano que vem. A taxa de desemprego subiu para 5,5% e está no patamar mais alto desde o início de 1999. Confirmadas as previsões, no ano que vem o Reino Unido terá mais de 2 milhões de desempregados.
Amanhã, o Banco da Inglaterra deve decidir sobre um corte na taxa de juros, hoje em 5%, para tentar estimular a economia, mesmo com a inflação acima da meta. A maioria dos analistas prevê corte de meio ponto percentual, que seria o maior em sete anos.


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