São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Crise atinge Bolsa, mas não assusta economia da Índia

Apesar de fuga de capitais, especialistas dizem que danos se restringem ao mercado

Com auto-estima em alta, indianos dedicam mais tempo ao críquete que aos mercados; para analistas, pode haver efeitos positivos

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Nada parece abalar a confiança da Índia. Embora sofra uma fuga de capitais e preveja um declínio no impressionante desempenho que teve nos últimos cinco anos, o país mantém-se confiante de que atravessará o tsunami financeiro no topo das economias que mais crescem no mundo.
A Bolsa de Mumbai não escapou da crise de confiança global e despencou 5,78% na segunda-feira, a maior queda em oito meses. Ontem recuperou-se, fechando com leve queda de 0,9%. Desde o início do ano, o mercado financeiro indiano já sofreu uma fuga de capitais estrangeiros avaliada em US$ 9 bilhões, numa indicação de que a aversão ao risco se espalha pelos mercados emergentes.
Para os especialistas consultados pela Folha, entretanto, os danos se limitam ao mercado financeiro e não oferecem ameaça significativa aos bancos e à economia real. "O impacto da crise continua sob controle", diz Suman Bery, diretor do Conselho Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada.
Ex-economista-chefe do Banco Mundial para o Brasil, ele credita a solidez indiana à baixa exposição dos bancos do país à crise financeira e à limitada dependência do país às exportações para os Estados Unidos -15% do total. Mesmo a desaceleração da maior economia do mundo ainda não teve reflexos diretos para a Índia. O comércio do país com os EUA continua crescendo em 2008 no mesmo ritmo dos últimos anos, a uma taxa anual de 14%.
Após crescer em média 9% por ano de 2005 para cá, a economia indiana deve esfriar em 2008 e 2009, mas para taxas ainda estratosféricas em relação à média mundial, de 7,5% a 7,8%. Os motivos principais da queda são o aperto no crédito, que reduzirá investimento em infra-estrutura, a inflação e o fim do boom da construção.
Outro efeito negativo da crise sobre a economia indiana poderá ser a queda na demanda por tecnologia nos EUA. Dois terços das exportações de produtos de computação do país são para o mercado financeiro.
Mas até isso é uma incógnita.
"A crise poderia também ter o efeito contrário, aumentando a necessidade por produtos financeiros, além de atrair de volta profissionais indianos qualificados", diz Rajesh Chadha, especialista em comércio.
As previsões otimistas se refletem no ânimo geral: ontem, os principais noticiários da TV do país dedicaram mais tempo ao anúncio da aposentadoria do maior astro da seleção de críquete, o esporte nacional indiano, do que à crise financeira.
E a depressão econômica que ameaça o mundo parece ressaltar ainda mais o momento de elevada auto-estima.
O mais cintilante símbolo do emergente orgulho nacional é o metrô de Nova Déli, o primeiro do país. Inaugurada em 2005, a primeira fase do projeto custou US$ 2,3 bilhões, grande parte emprestados pelo governo japonês, e cobre 65 quilômetros por baixo do caótico trânsito da capital indiana.
Condizentes com um país que abriga um sexto da população do planeta, os trens são meio metro mais largos que a média, e os corredores impecavelmente limpos contrastam com a sujeira da superfície. "É um mundo novo", diz o motorista de ônibus Satpal, que veio do Estado de Punjab, na fronteira com o Paquistão, só para conhecer o metrô.


O jornalista MARCELO NINIO viajou a convite do India Brand Equity Foundation.


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