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Crise atinge Bolsa, mas não assusta economia da Índia
Apesar de fuga de capitais, especialistas dizem que danos se restringem ao mercado
Com auto-estima em alta, indianos dedicam mais tempo ao críquete que aos mercados; para analistas, pode haver efeitos positivos
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI
Nada parece abalar a confiança da Índia. Embora sofra
uma fuga de capitais e preveja
um declínio no impressionante
desempenho que teve nos últimos cinco anos, o país mantém-se confiante de que atravessará o tsunami financeiro
no topo das economias que
mais crescem no mundo.
A Bolsa de Mumbai não escapou da crise de confiança global
e despencou 5,78% na segunda-feira, a maior queda em oito
meses. Ontem recuperou-se,
fechando com leve queda de
0,9%. Desde o início do ano, o
mercado financeiro indiano já
sofreu uma fuga de capitais estrangeiros avaliada em US$ 9
bilhões, numa indicação de que
a aversão ao risco se espalha pelos mercados emergentes.
Para os especialistas consultados pela Folha, entretanto,
os danos se limitam ao mercado financeiro e não oferecem
ameaça significativa aos bancos e à economia real. "O impacto da crise continua sob
controle", diz Suman Bery, diretor do Conselho Nacional de
Pesquisa Econômica Aplicada.
Ex-economista-chefe do
Banco Mundial para o Brasil,
ele credita a solidez indiana à
baixa exposição dos bancos do
país à crise financeira e à limitada dependência do país às exportações para os Estados Unidos -15% do total. Mesmo a
desaceleração da maior economia do mundo ainda não teve
reflexos diretos para a Índia. O
comércio do país com os EUA
continua crescendo em 2008
no mesmo ritmo dos últimos
anos, a uma taxa anual de 14%.
Após crescer em média 9%
por ano de 2005 para cá, a economia indiana deve esfriar em
2008 e 2009, mas para taxas
ainda estratosféricas em relação à média mundial, de 7,5% a
7,8%. Os motivos principais da
queda são o aperto no crédito,
que reduzirá investimento em
infra-estrutura, a inflação e o
fim do boom da construção.
Outro efeito negativo da crise sobre a economia indiana
poderá ser a queda na demanda
por tecnologia nos EUA. Dois
terços das exportações de produtos de computação do país
são para o mercado financeiro.
Mas até isso é uma incógnita.
"A crise poderia também ter o
efeito contrário, aumentando a
necessidade por produtos financeiros, além de atrair de
volta profissionais indianos
qualificados", diz Rajesh Chadha, especialista em comércio.
As previsões otimistas se refletem no ânimo geral: ontem,
os principais noticiários da TV
do país dedicaram mais tempo
ao anúncio da aposentadoria
do maior astro da seleção de
críquete, o esporte nacional indiano, do que à crise financeira.
E a depressão econômica que
ameaça o mundo parece ressaltar ainda mais o momento de
elevada auto-estima.
O mais cintilante símbolo do
emergente orgulho nacional é
o metrô de Nova Déli, o primeiro do país. Inaugurada em
2005, a primeira fase do projeto custou US$ 2,3 bilhões,
grande parte emprestados pelo
governo japonês, e cobre 65
quilômetros por baixo do caótico trânsito da capital indiana.
Condizentes com um país
que abriga um sexto da população do planeta, os trens são
meio metro mais largos que a
média, e os corredores impecavelmente limpos contrastam
com a sujeira da superfície. "É
um mundo novo", diz o motorista de ônibus Satpal, que veio
do Estado de Punjab, na fronteira com o Paquistão, só para
conhecer o metrô.
O jornalista MARCELO NINIO viajou
a convite do India Brand Equity Foundation.
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