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Banco que deve ao governo poderá ter crédito
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Batizada de "Proer do Lula"
no mercado financeiro, a MP
(medida provisória) 442, editada na noite da última segunda-feira para dar mais poderes ao
Banco Central para salvar bancos e exportadores em dificuldades por causa dos desdobramentos da crise externa, permite ao BC fazer empréstimos
mesmo que as instituições financeiras beneficiadas estejam
devendo ao governo.
Com isso, a MP resolve, já no
primeiro artigo, um dos problemas que os técnicos do BC tiveram na época de implementar o
Proer: a impossibilidade de fazer empréstimos, via operações
conhecidas como redesconto,
para quem estivesse inscrito na
divida ativa ou no cadastro de
inadimplentes da União ou que
não estivem em dia com o recolhimento do FGTS.
Na MP editada, a exceção fica
para dívida com a Previdência
porque a Constituição determina que empresas devedoras da
seguridade social não poderão
contratar nem receber do poder público benefícios fiscais
ou creditícios.
As medidas ainda dependem
de regulamentação, mas o texto
publicado tem semelhança e
mais parece uma versão moderna do programa de socorro
ao sistema financeiro lançado
em 1995, no governo FHC.
Além das carteiras de crédito
ou ativos em moeda estrangeira que os bancos deverão dar
em garantia para ter acesso ao
empréstimo, a MP autoriza o
BC a aceitar, "em caráter complementar", garantias reais e
aval seja de empresas coligadas
ou de uma terceira instituição
financeira. O CMN (Conselho
Monetário Nacional) ainda vai
detalhar se essas garantias
reais incluirão, por exemplo,
ações do controlador.
A assessoria do BC diz que
não deverão incluir. Mas, segundo a Folha apurou, a idéia
original do BC é permitir a
aceitação de ações. O tema ainda está em discussão na diretoria. Se aceitar, na prática, o BC
poderá estatizar o banco que
não honrar com a operação, saneá-lo e vendê-lo, a exemplo do
que se fez no Proer.
A MP prevê que, no caso de
inadimplência, o BC poderá
"alienar os ativos recebidos".
Uma grande vantagem em relação ao Proer é que o texto exclui esses ativos de qualquer
processo de liquidação, intervenção ou recuperação judicial
ou extrajudicial que o banco seja submetido.
Com isso, o BC não ficará como credor na massa falida, no
caso de um banco socorrido
quebrar, e terá mais flexibilidade para agir e recuperar o prejuízo. Até hoje, o BC tem créditos a receber da massas dos
bancos Nacional e Econômico,
que foram reestruturados com
ajuda do Proer.
"Isso acaba com um problema que se tem hoje que é,
quando o diretor de Fiscalização do BC diz que um banco está com problema na reunião de
diretoria, só deixa os outros
nervosos porque o BC não tem
instrumentos para agir. É um
grande avanço", afirma Carlos
Eduardo de Freitas, ex-diretor
do BC.
"Ao que parece, o BC poderá
pegar até os bens pessoais dos
controladores em garantia
complementar da operação. É
um avanço sobre o Proer."
Para o ex-presidente do BC
Gustavo Loyola, que comandava o banco na época do Proer,
"o BC está usando experiências
anteriores para evitar os mesmos riscos". Ele ressalta que
hoje a origem do problema no
sistema bancário é diferente e,
por isso, a necessidade de socorro pode ser aperfeiçoada.
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