São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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BANCO X BANCO

Presidente do banco diz que BC não teve intenção de criticar instituição e ataca gestão durante governo FHC

Mantega vê ação para desgastar o BNDES

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, afirmou ontem que o vazamento de críticas de relatório do Banco Central a operações do banco de fomento buscam causar desgaste na instituição.
No documento, revelado domingo pela Folha, as concessões de crédito do BNDES são consideradas "frágeis" pelo BC. Mantega ressaltou, porém, que o interesse no vazamento dessas informações não é do BC.
"O BNDES está investigando. Parece que um deputado da oposição requisitou informações sobre isso. Mas não estou afirmando que ele vazou as informações", disse Mantega.
Ele classificou o resultado da fiscalização do BC feita na instituição como um "relatório burocrático e pouco importante".
E afirmou não ver nenhum movimento no governo para acabar com o maior banco de fomento do país, conforme concluíra na véspera seu antecessor no cargo, o economista Carlos Lessa, a partir dos resultados da fiscalização.
"Não me parece que o Banco Central teve a intenção de dizer que o BNDES tem problemas para avaliar empréstimos", afirmou.
Entre abril e agosto do ano passado -ainda na gestão Lessa, que tinha desavenças com o presidente do BC, Henrique Meirelles-, o BC fiscalizou o BNDES e concluiu que eram "frágeis" os controles para a concessão de crédito no banco, cuja carteira de empréstimos deve alcançar R$ 50 bilhões neste ano. Desde então, o BC cobra providências do BNDES, como a criação de metodologia para avaliar o risco de calote e a atualização dos cadastros de clientes.
"Por trás da divulgação do relatório, houve uma tentativa de uso político das conclusões da fiscalização, uma tentativa de desmoralizar o BNDES", afirmou Mantega, sem acusar ninguém.
Autor do requerimento de informações que deu publicidade à troca de correspondência entre BC e BNDES, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) cobra a correção das falhas apontadas pelo BC. Ele tem criticado o sistema de controle de risco de crédito da instituição desde que eclodiu o escândalo do Banco Santos, que chegou a liderar o ranking de repassador de recursos do BNDES.
Mantega relatou que teve uma conversa telefônica sobre o relatório com Meirelles, que está na Suíça, e que ele elogiou a análise de concessão de crédito do banco de fomento, como já havia feito publicamente anteontem.
De posse de dados sobre inadimplência e qualidade da carteira do BNDES, Mantega disse que os créditos do banco "são dos mais sólidos que possam ser concedidos na economia brasileira".
A taxa de inadimplência do banco no primeiro semestre do ano foi de 0,57%. Em 2004, foi de 0,64%, abaixo dos 3% do sistema financeiro nacional, disse ele.
Já a qualidade da carteira indica que cerca de 90% dos créditos concedidos pelo banco são para empresas bem avaliadas, com ratings AA, A e B. No sistema financeiro nacional, esse percentual cai para 80%. O lucro do banco, de R$ 1,8 bilhão no primeiro semestre, é outro indicador da solidez, segundo Mantega. "Desafio alguém a mostrar uma instituição que faça análise de crédito melhor que o BNDES."
Na avaliação de Mantega, as falhas apontadas na instituição não comprometem a solidez dos empréstimos que o BNDES concede. "O BNDES é a instituição que melhor avalia os empréstimos no sistema financeiro nacional, melhor até que o setor privado", afirmou.
"A inadimplência só chegou a 3% em 2003 graças a uma operação mal feita no governo anterior", disse o presidente do BNDES, numa referência ao calote dado pelo consórcio Southern Eletric Brasil, liderado pela americana AES. O prejuízo do banco no negócio foi de US$ 700 milhões.
Mantega disse que a maioria dos ajustes propostos pelo BC está concluída e insistiu em que fiscalização realizada em 2001, durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, encontrara um número mais de cinco vezes maior de irregularidades.


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