São Paulo, quarta-feira, 08 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

E o PIB se encaminha à breca


Resultado ruim da indústria leva mais economistas para o lado dos que prevêem que PIB crescerá menos de 3% no ano


O CALDO DO PIB continua a entornar. Ontem, o IBGE fechou os dados do desempenho da indústria no terceiro trimestre. Cresceu só 0,35% sobre o segundo trimestre. Ruim, ruim. De fato, como se aventou durante o dia de ontem, houve greves em três fábricas de carros. Mas já se sabia dos efeitos da paralisação dos metalúrgicos quando apareceram as previsões mais comuns, de retração de 0,7% na atividade industrial (de setembro para agosto). Porém, a retração foi o dobro da prevista: 1,4%.
Quer dizer, a greve nas montadoras virou uma espécie de "Copa do Mundo" deste terceiro trimestre (a cascata do segundo trimestre era que o PIB havia sido um horror por causa das horas que perdemos vendo a seleção de Carlos Alberto Parreira dar aquele vexame).
A produção industrial do IBGE não prediz exatamente o valor do PIB industrial trimestral (nem o do PIB total), mas é um indicador muito forte de tendência (vide gráfico ao lado). Economistas de banco e consultorias começaram a revisar para baixo a previsão do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, para algo em torno de 0,5%.
Ainda ontem, muito mais gente passou a prever um crescimento abaixo de 3% este ano. OK, é apenas previsão, e a gente desconhece as manhas de Papai Noel e o tamanho do ânimo natalino de consumidores e empresários. Mas a impressão por ora é a de que o crescimento econômico se encaminha à breca em 2006. A breca é um lugar que fica perto do brejo de 2005.
Os problemas que têm sido verificados desde o início do ano persistem. A indústria está manca (cerca de metade dos setores cresce, outros não) e o crescimento forte se concentra em três ou quatro ramos industriais. Um resultado parecido com os de anos de recessão, embora isso não queira dizer que a economia vá encolher. Quer dizer apenas que alguns setores, como é mais do que sabido, estão apanhando muito: a indústria de calçados e confecções já encolheu 14% em 2006.
Mais uma vez deu para notar os efeitos do câmbio, em especial sobre as fábricas de insumos industriais e sobre as de bens duráveis (TVs, DVDs etc.). A discrepância entre os resultados por ora aparentemente bons das vendas do comércio varejista e os da produção industrial indica esse "vazamento": estamos comprando mais bens importados.
No caso dos automóveis, a exportação é que vem caindo -não estamos comprando mais Jaguares e Mercedes em massa, claro. A queima de estoques vinha sendo uma hipótese para explicar a morosidade na indústria: as fábricas vendiam o que já haviam produzido.
Mas, segundo Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro para o Brasil, o "efeito estoque" já passou. A "indústria manca" por causa do real forte pode ser um fenômeno transitório. E se não for?

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Agência aponta riscos políticos para negócios no país
Próximo Texto: Sob pressão, governo adia o Supersimples
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.