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Sob pressão, governo adia o Supersimples
Sistema de arrecadação unificado para micro e pequena empresa só deve entrar em vigor no segundo semestre de 2007
Com o risco de terem receita
reduzida e de atrasarem
repartição de recursos,
Receita e fiscos estaduais
fazem lobby por adiamento
IURI DANTAS
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Citada durante as eleições
como um dos principais trunfos de Luiz Inácio Lula da Silva,
a Lei Geral da Micro e Pequena
Empresa sofreu ontem o golpe
do lobby dos fiscos federal e estadual, que não querem perder
receita, e, na previsão mais otimista, deve entrar em vigor só
no segundo semestre de 2007
-em vez de janeiro, como era
apregoado pelo petista.
O texto foi aprovado no dia 5
de setembro na Câmara, depois
de dois anos em discussão. Representa uma espécie de reforma tributária para o setor com
desoneração da ordem de R$
5,3 bilhões anuais com a criação do chamado Supersimples.
Este sistema substituirá o
ICMS, de arrecadação estadual,
e o ISS, cobrado pelos municípios.
A coleta seria feita pela Receita Federal, que ratearia os
recursos com governos e prefeituras. A administração disso
exige um sistema informatizado capaz de identificar os percentuais para Estados e municípios. Foi este o nó apresentado ontem: tanto a Receita
quando o Confaz (Conselho
Nacional de Política Fazendária) se deram conta de que não
há tempo para implementar este aparato rapidamente.
"É um problema técnico vigorar antes de determinado
prazo, os Estados precisam de
mais tempo", resumiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O Confaz, integrado por secretários estaduais de Fazenda,
apresentou por escrito um pedido para que a lei entrasse em
vigor apenas em 2008. A União
rebateu com uma data intermediária, em 1º de julho do ano
que vem, que foi aceita.
Segundo o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, a
falta de um sistema impõe o risco de os Estados e os municípios não receberem os repasses, se a medida entrasse em vigor no início do ano que vem.
"Se estes repasses não forem
feitos vamos fechar alguns municípios."
Governos estaduais e municipais pressionam nos bastidores por uma extensão do debate
público sobre a lei para ganhar
tempo e minimizar as perdas
na arrecadação. Indagado ontem se a proposta de adiar a vigência da lei se baseava em
acordo de Lula com os governadores, Rachid não respondeu.
"O projeto de lei sobre o Simples nacional é de interesse das
administrações tributárias federal, estaduais e municipais.
Vem racionalizar e queremos
que entre em vigor o mais rápido possível", afirmou o secretário.
Ele admitiu que o governo já
trabalhava com a nova data há
algum tempo. Algo indigesto
para ser anunciado durante o
período eleitoral quando se leva em conta que 70% das empresas do país se enquadram
nas faixas de micro e pequenas
-faturamento anual de até R$
240 mil e R$ 2,4 milhões, respectivamente.
Embora cristalizada a dificuldade prática de pôr a lei em
vigor, a questão não está encerrada. Cabe ao Senado agora
avaliar dois caminhos: 1) Aprovar o texto da forma como o recebeu da Câmara, com vigência
em janeiro do ano que vem. Isso exigiria da Receita o esforço
técnico para implementar o novo sistema em menos de dois
meses; 2) Modificar o teor do
texto com a nova data, o que
exige nova votação pelos deputados, criando o risco de aprovação no ano que vem e vigência só em janeiro de 2008.
Rachid, porém, citou a possibilidade de que apenas a mudança na data não represente
alteração no conteúdo da lei,
evitando nova votação na Câmara e levando o texto para
sanção presidencial. Isso ainda
depende da interpretação do
Congresso.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR),
deixou ontem a reunião de líderes da Casa refletindo a mesma
falta de otimismo dos demais
presentes em relação ao tema.
"Não há acordo nenhum. Há
acordo para conversar", disse.
Mantega deve ir hoje ao Senado
debater o assunto.
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