São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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Empresa ajuda a planejar o gasto familiar

Para evitar perda de produtividade, companhias oferecem aos seus funcionários orientação financeira

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Dezembro é a época do pagamento do 13º salário, do amigo-secreto e da festa de confraternização no trabalho. Para um número cada vez maior de empresas, também é o momento de ajudar o funcionário a planejar melhor o seu orçamento pessoal e familiar a fim de que não se realize um dos rituais do final de ano: o endividamento excessivo.
Com dinheiro extra no bolso, o empregado vai às compras. Mas, já que estará de férias nas semanas seguintes, decide pagar os presentes parceladamente, assim sobra para viajar com a família. Aí ele acaba gastando muito mais do que podia, esquecendo-se de que também precisa honrar os gastos típicos de janeiro, como impostos e a matrícula dos filhos na escola. Quando chega março, descobre-se quebrado.
"Um profissional que está com dificuldades financeiras não se concentra direito nas suas atividades, produz menos, sofre até mais acidentes. É por isso que esse tema tem ganhado importância no âmbito da gestão de recursos humanos", afirma Celia Natale Moscardi, diretora da consultoria Conexão Desenvolvimento Empresarial. "Algumas pessoas chegam a pedir para serem mandadas embora para quitar suas pendências com os recursos da rescisão do contrato. No entanto, três meses depois, estão sem um centavo e não conseguiram o seu intuito."
A pedagoga, que é contratada por grandes companhias como Johnson & Johnson e Laboratórios Aché para ministrar cursos de administração do orçamento familiar, sempre nota um grande aumento da demanda neste período. "Agora é o tempo de parar e refletir a respeito. A dificuldade de organizar receitas e despesas não depende de escolaridade, nível hierárquico ou tamanho do contracheque." Geralmente, contrata-se um serviço terceirizado para preservar a intimidade do funcionário.

Detectar e resolver
Ninguém trata dos seus problemas financeiros com o chefe, por isso é difícil perceber que essa é a causa da falta de motivação do colaborador. "Muitas companhias têm uma linha telefônica gratuita de atendimento psicossocial aos funcionários. É anônimo, sigiloso, porém pode-se fazer um acompanhamento dos motivos das ligações e assim notar que seria interessante fornecer algum tipo de apoio para cuidar do seu orçamento", sugere Lilian Graziano, professora da Trevisan Escola de Negócios.
Distribuída ao longo dos meses, a iniciativa das empresas pode ter a forma de palestras breves, cursos ou atendimento personalizado com um consultor em economia. A pedido de uma cliente, Moscardi até criou uma gincana para crianças, filhas de colaboradores, com o tema do planejamento financeiro -afinal, para realmente dar certo, todo programa tem que envolver todos os membros da família.
Desde a sua criação, em 2003, o projeto dos Correios atendeu cerca de 250 mil pessoas, empregados e seus parentes. Um dos que aproveitaram a oportunidade foi o carteiro paulistano Ricardo Zeferino Mateus, 32, em 2005. "Estava tão endividado que não conseguia nem pagar as contas de água e luz. Procurei a assistente social da empresa e ela me explicou que essas despesas eu tinha que quitar assim que recebesse o salário. Seguindo a sua orientação, negociei todos os outros débitos atrasados e ajudei minha mulher a conseguir um emprego", conta. "Logo resolvi a minha situação e comprei um carro. No ano que vem, quero trocá-lo por outro, com direção hidráulica."
"Proporcionamos esse auxílio porque o funcionário de outra forma não teria como buscá-lo", destaca Pedro Magalhães Bifano, diretor de gestão de pessoas dos Correios. De acordo com a empresa, notou-se recentemente um aumento na procura dos empregados pela ajuda, a qual pode ser creditada às incertezas quanto ao tamanho e a profundidade da desaceleração que o Brasil enfrentará nos próximos meses.

Vida nova
Duas são as principais recomendações dos especialistas para que o trabalhador comece 2009 com a sua vida financeira sob controle: saldar as suas dívidas e colocar no papel planos e sonhos.
"Companheiros e filhos devem participar das decisões para realmente se comprometerem", diz o economista e consultor Humberto Dalsasso. "Com disciplina, é possível, sim, alcançar todos os objetivos e viver sem dor de cabeça."


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