São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DINHEIRO NOVO

No curto prazo, empresas devem ficar de fora

Retomada de crédito ainda fica restrita a instituições financeiras

SANDRA BALBI
ÉRICA FRAGA

DA REPORTAGEM LOCAL

Os investidores externos voltaram a "comprar o Brasil", no jargão do mercado, mais por uma questão de calendário e de oportunidade de ganho do que, propriamente, em consequência de eventuais mudanças do cenário econômico interno.
Analistas ouvidos pela Folha dizem que as captações de recursos por bancos -de US$ 475 milhões anunciadas esta semana pelo Bradesco, Unibanco, Itaú, ABN Amro e banco Votorantim- podem não se estender, no curto prazo, às empresas. Também as linhas de financiamento ao comércio exterior só tenderiam a voltar ao final deste trimestre.
"Ainda é cedo para afirmar que há retomada das linhas de crédito e dos investimentos em títulos brasileiros. O governo ainda está muito jovem, não tem metas muito definidas, a inflação continua alta e ainda há dúvidas sobre governabilidade", diz Raphael Kassin, diretor da área de mercados emergentes do ABN Amro Asset Management em Londres.
Segundo Kassin, os investidores estrangeiros começaram a voltar em novembro, comprando títulos da dívida brasileira, os C-Bonds. Em janeiro, as compras dispararam, recuperando o preço do papel que era negociado em meados de outubro por 50% do seu valor e hoje já chega a 70%. "Há uma euforia meio histérica nesse mercado, influenciada, em parte, pelo otimismo interno com o novo governo", diz Kassin.
A euforia, porém, só se transforma em ordens de compra dos papéis brasileiros porque os analistas estão prevendo mais um ano ruim para as Bolsas, e as aplicações em títulos de renda fixa nos EUA e Europa oferecem ganhos ínfimos devido às baixas taxas de juros. Já os eurobônus que estão sendo colocados por bancos brasileiros no mercado oferecem juros entre 6% e 7% ao ano.
Os recursos captados pelos bancos são repassados no mercado interno a taxas elevadas -a taxa básica está em 25% ao ano.

Início de ano
Também estaria ajudando a trazer de volta os investidores externos o chamado "efeito janeiro". "No início do ano sempre tem muita liquidez [dinheiro disponível" no mercado mundial", diz Kassin. Muitos fundos de pensão, por exemplo, recebem dinheiro novo para investir.
Além disso, segundo ele, os gestores de recursos que desarmaram suas posições em dezembro, para fechar o ano menos expostos a riscos, voltam comprando.
Ainda é cedo também para prever que as empresas conseguirão embarcar na recente onda de captação dos bancos. "Elas fazem operações de prazos de três a cinco anos, e o mercado ainda não está assumindo risco para 2004 quando o governo terá mais liberdade de fazer mudanças, no novo orçamento", diz Rafael Guedes, diretor geral da Fitch Ratings.
Segundo analistas, as instituições financeiras, de forma geral, estão tomando recursos no exterior que servirão para recompor as linhas de crédito às exportações. Ou seja, os bancos estão se endividando em dólar para conceder empréstimos internamente que também serão "cotados" na moeda norte-americana.
Assim, se o dólar voltar a subir no curto prazo, os prejuízos serão amortecidos, pois, se perdem de um lado, ganham de outro.
As empresas -com exceção daquelas do setor de exportação- não têm essa mesma vantagem. Se captam recursos no exterior para investir no Brasil, correm o risco de ver sua dívida disparar, caso o dólar suba, ao mesmo tempo em que seu investimento em reais se deprecia.
"Os prazos das captações, em torno de 10, 11 meses, ainda são curto demais para as empresas, que não podem se sujeitar à volatilidade de curto prazo do dólar", diz Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco.


Texto Anterior: Vulnerabilidade: Remessa de dólares cresce 49% em 2002
Próximo Texto: Análise: Queda do dólar não compromete balança
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.