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DINHEIRO NOVO
No curto prazo, empresas devem ficar de fora
Retomada de crédito ainda fica restrita a instituições financeiras
SANDRA BALBI
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os investidores externos voltaram a "comprar o Brasil", no jargão do mercado, mais por uma
questão de calendário e de oportunidade de ganho do que, propriamente, em consequência de
eventuais mudanças do cenário
econômico interno.
Analistas ouvidos pela Folha dizem que as captações de recursos
por bancos -de US$ 475 milhões
anunciadas esta semana pelo Bradesco, Unibanco, Itaú, ABN Amro e banco Votorantim- podem
não se estender, no curto prazo,
às empresas. Também as linhas
de financiamento ao comércio exterior só tenderiam a voltar ao final deste trimestre.
"Ainda é cedo para afirmar que
há retomada das linhas de crédito
e dos investimentos em títulos
brasileiros. O governo ainda está
muito jovem, não tem metas muito definidas, a inflação continua
alta e ainda há dúvidas sobre governabilidade", diz Raphael Kassin, diretor da área de mercados
emergentes do ABN Amro Asset
Management em Londres.
Segundo Kassin, os investidores
estrangeiros começaram a voltar
em novembro, comprando títulos
da dívida brasileira, os C-Bonds.
Em janeiro, as compras dispararam, recuperando o preço do papel que era negociado em meados
de outubro por 50% do seu valor e
hoje já chega a 70%. "Há uma euforia meio histérica nesse mercado, influenciada, em parte, pelo
otimismo interno com o novo governo", diz Kassin.
A euforia, porém, só se transforma em ordens de compra dos papéis brasileiros porque os analistas estão prevendo mais um ano
ruim para as Bolsas, e as aplicações em títulos de renda fixa nos
EUA e Europa oferecem ganhos
ínfimos devido às baixas taxas de
juros. Já os eurobônus que estão
sendo colocados por bancos brasileiros no mercado oferecem juros entre 6% e 7% ao ano.
Os recursos captados pelos bancos são repassados no mercado
interno a taxas elevadas -a taxa
básica está em 25% ao ano.
Início de ano
Também estaria ajudando a trazer de volta os investidores externos o chamado "efeito janeiro".
"No início do ano sempre tem
muita liquidez [dinheiro disponível" no mercado mundial", diz
Kassin. Muitos fundos de pensão,
por exemplo, recebem dinheiro
novo para investir.
Além disso, segundo ele, os gestores de recursos que desarmaram suas posições em dezembro,
para fechar o ano menos expostos
a riscos, voltam comprando.
Ainda é cedo também para prever que as empresas conseguirão
embarcar na recente onda de captação dos bancos. "Elas fazem
operações de prazos de três a cinco anos, e o mercado ainda não
está assumindo risco para 2004
quando o governo terá mais liberdade de fazer mudanças, no novo
orçamento", diz Rafael Guedes,
diretor geral da Fitch Ratings.
Segundo analistas, as instituições financeiras, de forma geral,
estão tomando recursos no exterior que servirão para recompor
as linhas de crédito às exportações. Ou seja, os bancos estão se
endividando em dólar para conceder empréstimos internamente
que também serão "cotados" na
moeda norte-americana.
Assim, se o dólar voltar a subir
no curto prazo, os prejuízos serão
amortecidos, pois, se perdem de
um lado, ganham de outro.
As empresas -com exceção
daquelas do setor de exportação- não têm essa mesma vantagem. Se captam recursos no exterior para investir no Brasil, correm o risco de ver sua dívida disparar, caso o dólar suba, ao mesmo tempo em que seu investimento em reais se deprecia.
"Os prazos das captações, em
torno de 10, 11 meses, ainda são
curto demais para as empresas,
que não podem se sujeitar à volatilidade de curto prazo do dólar",
diz Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco.
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