São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003 |
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VIZINHO EM CRISE Fundo sinaliza empréstimo inédito, para dar fôlego ao país até as eleições, previstas para abril e maio FMI negocia "acordo-tampão" na Argentina
MARCELO BILLI DA REPORTAGEM LOCAL O FMI (Fundo Monetário Internacional) confirmou ontem que negociará um acordo de transição com a Argentina. O porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, disse que um grupo de técnicos do organismo chega hoje ao país para trabalhar em um acordo "que daria algum fôlego à economia argentina até depois das eleições presidenciais". A missão deixou os EUA assim que terminou uma reunião da direção-executiva do FMI. Depois da reunião, que terminou no início da noite de ontem, os diretores do Fundo divulgaram um comunicado em que reconhecem que, durante o segundo semestre do ano passado, o país atingiu uma conjuntura de estabilidade econômica e financeira. Para que a estabilidade se confirme, diz o comunicado, o governo argentino precisará construir um consenso político para adotar medidas necessárias para superar a crise -reformas fiscal e bancária, abertura comercial e reestruturação da dívida pública. Os diretores do Fundo esperam, diz o comunicado, "pela finalização do acordo de curto prazo que será um passo a mais em direção a um acordo mais abrangente". O Fundo atende assim a um pedido feito há três semanas pelo governo argentino. Se for assinado o acordo, será a primeira vez na história do FMI que o organismo assina um acordo de curto prazo, com o objetivo apenas de esperar pela troca de governo -a eleição, em dois turnos, está prevista para abril e maio. A expectativa é que a missão deva ficar na Argentina, no máximo, por quatro dias, de forma a dar tempo para que o FMI aprove ou não o acordo até o dia 17 de janeiro, quando deve acontecer nova reunião da diretoria-executiva. Uma definição já no dia 17 deste mês evitaria que a Argentina deixasse de pagar um empréstimo de US$ 1 bilhão com o Fundo que vence no mesmo dia. O país já deixou de pagar dívidas com o Banco Mundial que somam mais de US$ 1,2 bilhão. O governo argentino espera por um acordo de apenas oito meses. O Fundo não liberaria novos empréstimos e apenas reprogramaria as dívidas de cerca de US$ 5 bilhões que vencem até julho. Com o aval do FMI, seria possível também reprogramar os empréstimos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que somam cerca de US$ 4,4 bilhões. Exigências Segundo Dawson, o Fundo deve discutir dois pontos principais com o governo argentino. O primeiro será o tamanho do superávit fiscal (diferença entre receitas e despesas do governo) que o país atingirá em 2003. O FMI pede um superávit de 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Deverá discutir também o programa monetário do governo. Nos últimos meses, para intervir no câmbio, o Banco Central argentino precisava emitir pesos. O FMI teme que o excesso de moeda alimente a inflação. O FMI se opõe ainda ao controle cambial rígido adotado recentemente. Os técnicos do Fundo avaliam que o governo deveria focalizar a política econômica na inflação -adotando um sistema de metas- e deixar o câmbio flutuar. Parte dessas medidas já foi adotada. O receio de que o dólar caísse demais e prejudicasse o setor exportador fez com que o governo eliminasse uma série de controles de câmbio. Ontem, o chanceler argentino, Carlos Ruckauf, disse que o governo já havia "cumprido todos os requisitos" para fechar um acordo. Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Fundo retira proposta de moratória Índice |
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