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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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SINDICALISMO

João Felício, atual presidente, queria mais um mandato, mas acordo lança chapa encabeçada por Luiz Marinho

Governo Lula intervém em disputa na CUT

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

A corrida pela presidência da CUT (Central Única dos Trabalhadores), maior central sindical da América Latina, ocorre em meio a uma guerra silenciosa entre sindicalistas, com oferta de cargos e até com a interferência do governo Lula.
João Felício, atual presidente da central, queria continuar no cargo. Para demovê-lo da idéia, vagas no governo lhe foram oferecidas, como a presidência da Fundacentro, órgão de segurança e saúde do trabalhador, ligado ao Ministério do Trabalho. Também recebeu convite para fazer parte do Ministério da Educação. "Quero continuar no movimento sindical por mais um mandato."
A quatro meses de eleger sua nova diretoria, o que acontece no 8º Congresso Nacional da central, os dirigentes sindicais estão em polvorosa para escolher quem pode melhor representá-los.
Para abafar as especulações de que a direção estava em crise, na sexta-feira, sindicalistas ligados à maior corrente da central -a Articulação- passaram o dia em reunião para decidir a chapa que concorrerá ao comando da CUT.
Três nomes foram definidos para pôr fim ao embate que vinha sendo travado entre Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, e Felício. O acerto na Articulação foi: Marinho como candidato a presidente, Felício na secretaria-geral e João Vaccari Neto, hoje tesoureiro da central, na secretaria de relações internacionais. A proposta será levada agora para aprovação em congressos estaduais. Ontem, os três sindicalistas destacaram que a decisão foi tomada após a análise da atual conjuntura econômica e política.
Antes de chegar a esse "consenso", a Articulação estava rachada entre Marinho e Felício. Ambos queriam o comando da central. Só que Marinho já levava vantagem. Sempre foi o preferido de Lula. Mais: além do apoio dos metalúrgicos, contava com o aval dos bancários. As duas categorias são as que têm maior poder de decisão e travam historicamente uma batalha pela presidência da CUT.
Felício acreditava que poderia ficar por mais um mandato no comando da CUT, principalmente por ter ajudado a eleger o presidente do país. E também pelo desempenho da central no combate à flexibilização da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
O objetivo maior do acordo costurado na sexta e anunciado oficialmente ontem foi ainda evitar que o desgaste interno na CUT se estendesse e se tornasse público. Isso poderia enfraquecer a central mais próxima a Lula. Felício, por representar o funcionalismo público, poderia, na direção da central, dificultar mais as negociações sobre a reforma da Previdência.
As discussões em torno de quem iria compor a chapa da corrente majoritária foram tratadas como segredo de Estado por semanas. O cargo de líder da central chegou a ganhar internamente status de ministro.
Inconformadas com os acordos costurados para eleger Marinho presidente da CUT, as correntes minoritárias tentam agora formar um bloco de oposição para ganhar mais espaço dentro da central. Para alguns sindicalistas, a CUT virou "chapa-branca" -o braço direito do governo.
"Independentemente de qualquer nome da Articulação para a direção da CUT, Marinho ou Felício, esse acordo mostra que os dirigentes estão submissos ao governo. A CUT não pode ser um braço sindical do governo. Por isso, não há possibilidade de apoiarmos essa chapa. Vamos lançar uma chapa de oposição com o apoio dos sindicalistas da esquerda do PT", diz José Maria de Almeida, presidente do PSTU e um dos coordenadores da MTS (Movimento por uma Tendência Socialista). Ainda não está decidido quem encabeçará a chapa.
Wagner Gomes, da coordenação da tendência CSC (Corrente Sindical Classista), grupo formado por integrantes do PC do B, diz que a CUT tem de ter independência do governo para atender as reivindicações dos trabalhadores. A corrente também deve lançar chapa própria no congresso.
Na ASS (Alternativa Sindical Socialista), a tendência deve ser a mesma. A preocupação na corrente é que a possível condução da central pelas mãos de Marinho possa resultar em acordos trabalhistas mais flexíveis -a exemplo do negociado com a Volks no final de 2001. A manutenção de empregos foi conseguida com a redução de salários.


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