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COMÉRCIO
Para ter mais capital de giro, loja "empurra" promoção até março; indústria aproveita e vende item encalhado
Varejo faz "overdose" de saldões para reforçar o caixa
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Haverá uma overdose de queima de estoque de produtos neste
início de ano, em níveis superiores aos de outros anos, em uma
tentativa do varejo de reforçar o
caixa com mais capital de giro.
Até mesmo mercadorias que a indústria já considerava encalhadas
devem ser compradas pelas lojas
para reforçar as promoções.
Como se não bastasse a atual
campanha maciça das lojas em janeiro, ainda ocorrerão promoções durante todo o primeiro trimestre. A ação nesse sentido de
prolongar ao máximo as promoções foi tomada pelas próprias redes varejistas, e já é percebida pelas entidades do setor.
Por decisão dos lojistas, a Liquida São Paulo, a mais importante
ação promocional na capital paulista, mudou de data em relação
ao ano passado e acontecerá de 22
de fevereiro a 2 de março. Em
2002, a queima de produtos iniciou-se no fim de janeiro.
Com a mudança nas datas, as
lojas tentam ser mais eficientes,
atuando em dois campos: 1) promovem campanhas agressivas
em janeiro, com saldões de mercadorias que não foram vendidas
em dezembro; 2) para fevereiro e
março, reforçam o estoque promocional com peças da coleção
de verão -que já eram até consideradas mercadoria encalhada
para os fabricantes.
"Juntamos tecidos e retalhos, fazemos novas peças para tentar
abastecer novas queimas, já que,
neste ano, as liquidações vão se
estender por aí como nunca", diz
Roberto Chadad, presidente da
Abravest (Associação Brasileira
do Vestuário).
Bom para todos
Na prática, o que o varejo, ao lado dos fornecedores, decidiu fazer é "aproveitar" o atual cronograma de promoções e todo o
apelo comercial em torno disso
-os descontos chegam a até 70%
hoje- para tentar reforçar o caixa. Nessa, ganham todos: a indústria e o lojista. E até o consumidor,
pois aumenta o volume de peças
vendidas sem que ocorram elevações nos preços.
Até porque, com a renda do
consumidor comprimida, o varejo de bens de consumo semi-duráveis já percebeu que não é possível aumentar a margem de lucro
por meio de reajustes de preços.
De janeiro a dezembro de 2002,
o preço de roupas femininas subiu apenas 4,58%, segundo a Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas). A inflação, em igual
período, foi de 9,90%. Calçados e
acessórios de vestuário sofreram
um reajuste ainda menor: só 2%
em 12 meses.
"Ainda devemos ter itens em
saldões no final de fevereiro. Há
um lote extra da indústria que pode ser comprado para reforçar a
queima de mercadorias e isso deve elevar o resultado de vendas do
mês", disse Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação
Comercial de São Paulo).
Em janeiro, já foi possível perceber uma certa melhora. O volume
de vendas apurado pelo SCPC,
sistema da ACSP, usado quando o
lojista vai finalizar alguma operação a prazo, cresceu 1,2%. Já o Telecheque, que apura as operações
à vista, subiu 4,7%.
Com essa expansão, há uma
tendência de redução no patamar
de itens encalhados tanto nas fábricas como nas prateleiras. Não
há dados confiáveis que mostrem
o nível de estoques (em dias) no
varejo. Mas é possível medir isso
de outra forma.
Em outubro e novembro, quando se produz para entregar na virada do ano, o uso da capacidade
instalada das fábricas de bens duráveis estava em 80% em média.
Ou ligeiramente acima do apurado em igual período do ano anterior, segundo dados da FGV
(Fundação Getúlio Vargas).
Portanto, produziu-se mais. No
entanto, vendeu-se pouco.
Isso porque no último Natal, as
vendas reais cresceram 3,5% em
relação a 2001, quando houve
queda na comercialização. Ou seja, havia espaço para uma alta
bem maior, que não ocorreu.
Logo, o patamar de estoques
acabou crescendo. Um cenário
que resultou na atual estratégia
das redes varejistas, de alongamento no período de liquidações.
Sem prazo
Nos shoppings, nem sempre sequer há prazo para o fim das liquidações de verão. No Shopping Higienópolis, na zona oeste de São
Paulo, a data de término dos saldões depende de cada lojista e de
seu calendário. Atualmente, 50%
das lojas estão em liquidação,
com descontos entre 20% e 60%
Na liquidação do Shopping
Paulista, há 61 lojas fazendo promoções e a substituição das linhas
de produtos pela coleção de meia-estação também vai ser determinada por cada loja. "Não existem
mais quatro estações muito bem
definidas na visão do mercado. E
as lojas aprenderam a operar com
mais flexibilidade dentro desse
cenário", diz Chadad.
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