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Brasil vende menos a ricos que a países em desenvolvimento
Pela primeira vez na história, países desenvolvidos perdem primazia das exportações, com 48,9% do total exportado
Furlan diz que empresário expandiu mercado ajudado por viagens de Lula e que país perdeu o pudor de fazer lobby para empresas
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Pela primeira vez na história,
o Brasil exportou mais a países
em desenvolvimento do que a
países desenvolvidos. No ano
passado, o valor das exportações do Brasil para os países em
desenvolvimento somou US$
67,8 bilhões. Para os desenvolvidos, US$ 67,2 bilhões.
Do total de US$ 137,5 bilhões
exportados pelo país no ano
passado, praticamente a metade, 49,3%, destinou-se aos países em desenvolvimento, e
48,9%, para os desenvolvidos.
O restante, 1,8%, é de "operações especiais", como consumo
de bordo em navios e aviões.
Em 2005, os países ricos respondiam por 50,6% das exportações brasileiras, e os em desenvolvimento, 47,7%.
Para analistas, os principais
motivos para a mudança são: 1)
os países em desenvolvimento
estão crescendo e comprando
mais, principalmente alimentos e produtos básicos, importantes itens da pauta exportadora; 2) os países ricos protegem seus mercados a muitos
desses produtos; 3) os produtos
manufaturados que o Brasil exportava mais aos ricos perderam mercado pelo real forte.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan,
afirma que esses números mostram que a classe empresarial
brasileira se mobilizou em busca de novos mercados: "As empresas descobriram que existem outros mercados a explorar além dos tradicionais".
Furlan acha que essa é uma
tendência irreversível. Os países em desenvolvimento guardam muito mais semelhanças
com o Brasil do que os desenvolvidos, o que, segundo Furlan, facilita as negociações.
Outro fator é a pauta bastante diversificada de produtos do
Brasil -o item mais relevante
da pauta (material de transportes) responde por só 15% do total das vendas. O país tem condições de atender a diversos
mercados, ao contrário de países dependentes de um produto, como Chile (cobre), Venezuela (petróleo) e Rússia (gás).
Apesar da mudança, as vendas aos países desenvolvidos
também cresceram -US$ 7,4
bilhões de 2005 para 2006. Aos
em desenvolvimento, cresceram mais: US$ 11,4 bilhões.
Esses dados mostram também, diz Furlan, que o Brasil
não discrimina mercados. "Não
há ideologia nisso, e não podemos desprezar nenhum mercado. Vendedor não escolhe
cliente." Ele também atribui ao
governo contribuição pelos resultados. Em primeiro lugar, ao
grande número de viagens internacionais do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que
ajudaram a abrir mercados.
Mais importante do que isso,
no entanto, para Furlan, foi a
mudança cultural de não haver
mais dificuldade para o governo fazer lobby para empresas
sediadas no Brasil, de capital
nacional ou estrangeiro: "No
passado, esse lobby era considerado pecaminoso".
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