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VINICIUS TORRES FREIRE
A "revolução democrática" e o BC
Documento da "refundação petista" é retórica, pleito de cargos ou quer mesmo virar a política de Lula pelo avesso?
UMA PARTE importante do petismo acredita que o próximo Congresso do partido vai
preparar o PT para "um período de
inserção na revolução democrática
em curso". Quer um PT mais "comprometido com a construção de
uma visão republicana, radicalmente democrática e socialista" para o
país. É o teor do documento escrito
pelo pessoal mais ou menos ligado a
Tarso Genro, candidato a ministro
da Justiça, que queria "refundar o
PT" e levou um pito de seus confrades para não ir muito a fundo.
É o trololó de sempre, para quem
nunca leu programas e documentos
do PT e possa ficar impressionado
com a retórica, embora de fato pareça doido alguém escrever que há
uma revolução democrática em curso -e acreditar no que escreve. Assinam o documento dezenas de autoridades petistas, militantes e intelectuais ligados ao partido.
Segundo o documento, quais seriam, na área econômica, as "ações
estratégicas de larga influência na
revolução democrática" que renovariam o PT e, pelo que se depreende
do texto tortuoso, ajudariam o governo Lula a "promover seu programa de governo democrático"?
"Um novo padrão de gestão monetária e cambial pelo Banco Central", "ampliação do Conselho Monetário Nacional" e "controle de entrada e saída do capital".
Entre gente mais pueril nas finanças, houve ontem fofocas de que o
PT publicara na internet "um manifesto contra a política monetária". E
daí? Nada. Uma bobagem reage a
outra. Mais divertido é que uma "estratégia de revolução democrática"
parece depender de que Lula acorde
invocado e tire Henrique Meirelles e
cia. do Banco Central.
O Banco Central vai continuar o
que está fazendo. Não vai intervir
mais em câmbio e não vai mudar o
modo de avaliar o ritmo da queda da
taxa de juros. Se forem obrigados a
mudar, vão embora. O grosso da política do BC não foi determinado pelo BC, mas por Lula, assessorado por
Antonio Palocci. Os atuais integrantes do BC estão nos seus postos porque, grosso modo, eles mesmos e o
governo concordam que são aptos
ou inclinados a implementar tal política -pode haver discordâncias
marginais e de ênfase a respeito de
suas atitudes e decisões. Mas essas
diferenças marginais na atuação do
BC não mudariam o câmbio ou os
juros. A política monetária, assim
como o resto da política econômica,
é, na prática, de autoria de Lula, ou
serve aos objetivos políticos do presidente Lula e seu entorno imediato.
Pode-se argumentar ainda que as
tendências comerciais e financeiras
mundiais determinam largamente
as decisões de política econômica e
seus resultados, sobre o que não há
menção no documento petista. Alterar fundamentalmente a presente
"inserção global" do Brasil demandaria muito mais do que mudar a política monetária. De resto, tal mudança provocaria de imediato, ao
menos, convulsão social e política.
Trata-se, pois, de um choque ainda
maior com toda a estratégia de Lula.
O documento negociado por Tarso Genro é o mais moderado dos
manifestos petistas. Mas tem algum
objetivo a não ser a disputa pelo comando do partido e por cargos no
governo? Ou eles estão mesmo a dizer que é preciso virar pelo avesso
Lula e toda a sua política até agora?
vinit@uol.com.br
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