São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Lula pressiona BC a ajustar política de juros

Planalto quer que Copom controle rigor da política monetária para que inflação não fique abaixo do centro da meta, como em 2006

Presidente mantém apoio a Meirelles, mas questiona com mais insistência as decisões do banco e os reflexos no câmbio


VALDO CRUZ
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo quer obter um compromisso do presidente do BC, Henrique Meirelles, de que a diretoria do banco neste ano vai trabalhar para que a inflação não fique abaixo do centro da meta, 4,5% ao ano, como ocorreu em 2006.
Desde que o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu reduzir o ritmo de queda da taxa de juros de 0,5 ponto para 0,25 no fim de janeiro, Meirelles já foi chamado duas vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para dar explicações sobre a decisão do BC.
A primeira durante a viagem em que acompanhou o presidente a Davos, na Suíça, e a segunda num jantar no Palácio da Alvorada, na terça-feira. Nas duas ocasiões, o presidente do BC teve que justificar a decisão do Copom que reduziu os juros de 13,25% ao ano para 13%.
De acordo com fontes ouvidas pela Folha, Meirelles está hoje na defensiva, mas continua contando com o apoio do presidente, apesar dos ataques de petistas. Lula mantém-se sensível aos argumentos técnicos apresentados por Meirelles, especialmente quando se trata de manter a inflação baixa. Na avaliação de Lula, preços sob controle respondem por sua avaliação positiva entre o eleitorado de baixa renda.
Lula, porém, já não quer que o conservadorismo do BC coloque em risco seu projeto de "destravar" o crescimento nesse segundo mandato. Ele apóia a política gradualista do BC, mas tem questionado com mais insistência as decisões do BC e não gostou da última decisão do Copom. Para ele, o corte poderia ter sido de 0,5 ponto.
Lula cobrou de Meirelles explicações sobre a influência da decisão do Copom na valorização do real ao longo da semana. O presidente do BC se defendeu argumentando que a taxa de câmbio real, descontado o efeito da inflação, não é diferente hoje do que vigorava em 2000. Portanto, com a economia melhor, é natural que haja valorização, principalmente quando o BC dos EUA decide não elevar os juros e quando os investidores internacionais estão à procura de aplicações que rendam mais que o dólar.
A avaliação que vem sendo feita ao presidente pelos setores do governo que defendem uma política monetária mais frouxa é que em 2006 o país não cresceu o quanto poderia porque o BC teria errado a mão e, com isso, a inflação ficou abaixo do centro da meta de 4,5% ao ano. O IPCA, índice que serve de parâmetro, terminou 2006 em 3,14%.
Por essa lógica, seria importante que ao longo de 2007 o BC tivesse o compromisso de reduzir os juros mais rapidamente caso a inflação dê sinais de ficar abaixo de 4,5% ao ano. As projeções do mercado já estão abaixo da meta: 4,07%.
A defesa do BC é que ao longo de 2006 o banco perseguiu o centro da meta, como sempre faz. O que aconteceu é que choques positivos de oferta, como preços agrícolas, acabaram puxando o IPCA para baixo.
O debate travado no governo ainda não coloca em risco a posição de Meirelles à frente do BC. Ele tem conseguido defender sozinho as posições do BC junto ao presidente Lula, mas tem sido pressionado a promover mudanças na equipe.


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