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Bolsas perderam US$ 5,2 tri em janeiro
Temor com crise afasta investidores em quase todo o mundo; entre 52 mercados, Brasil teve a 22ª menor perda, diz agência
Para analista, dados ajudam a enterrar a tese de que os países emergentes seriam pouco prejudicados pela desaceleração dos EUA
ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mercados mundiais perderam US$ 5,2 trilhões no mês
passado, um dos piores começos de ano da história das Bolsas, segundo estudo da Standard & Poor's. E o resultado podia ter sido ainda pior: em um
determinado momento de janeiro, as perdas chegaram a
US$ 7,9 bilhões. Apenas no
Brasil, um dos menos atingidos
pela crise, as empresas cotadas
em Bolsas se desvalorizaram
em mais de US$ 100 bilhões.
O valor perdido pelas Bolsas
globais equivale a praticamente
cinco PIBs (Produto Interno
Bruto, todos os bens e serviços
produzidos pelo país) do Brasil,
que em 2006 foi de US$ 1,068
trilhão. Apenas os EUA, com
US$ 13,195 trilhões, teve um
PIB superior às perdas dos
mercados no mês passado.
Os temores de recessão nos
EUA, com a crise do mercado
de crédito imobiliário de alto
risco ("subprime") e as perdas
bilionárias de grandes bancos,
espalharam-se para praticamente todo o mundo. "Alta volatilidade, rápidas reviravoltas,
tanto no sentimento do consumidor como do investidor, e
preços de ações drasticamente
baixos prevaleceram durante o
mês", disse, em comunicado,
Howard Silverblatt, analista da
Standard & Poor's.
Dos 52 mercados analisados
pela agência, apenas dois não se
desvalorizaram: Marrocos
(10,17%) e Jordânia (3,11%).
Países desenvolvidos, que geralmente são menos voláteis do
que os emergentes, tiveram
perdas médias de 7,83%. Na
Alemanha, elas foram de
13,72%, e, na França, de 12,27%.
Já nos países emergentes, as
perdas foram de 12,44%. O Brasil registrou desvalorização de
8,59% e ficou praticamente no
meio do ranking, com a 22ª menor perda. As empresas cotadas
nas Bolsas da China perderam
mais de um quinto do seu valor
de mercado no mês passado. A
Rússia e a Índia também tiveram quedas expressivas:
16,12% e 16%, respectivamente.
Segundo Eveline Gerck, presidente do banco de investimento AP International, as
maiores perdas aconteceram
na China porque se tratava do
mercado mais caro do mundo.
"O Brasil se saiu melhor porque
não está tão caro. Está num
córner [encurralado], entre os
emergentes de maior risco
-como Argentina, Colômbia e
Venezuela- e países como China e Índia, que são mais fáceis
de fazer negócio."
Para Marcelo Ribeiro, da
Pentágono Asset, o estudo ajuda a enterrar a tese do descolamento, pela qual se acreditou
que países emergentes seriam
pouco prejudicados pela desaceleração nos EUA. "O que vai
definir se será sepultada de vez
a tese do descolamento será se
o Fed [Federal Reserve, BC dos
EUA] sinalizar que deve encerrar o corte nos juros americanos e a crise levar a uma desaceleração na China", disse.
Se esse cenário se comprovar, Ribeiro afirma que "poderemos ver uma valorização dos
mercados desenvolvidos e perdas apenas nos emergentes".
As empresas na Bolsa dos
EUA tiveram perda no seu valor de mercado de mais de US$
1 trilhão, o equivalente a 6,07%.
A queda é inferior à brasileira,
mas os dados dos 12 meses encerrados em janeiro mostram
uma desvalorização de 2,42%.
Já o Brasil teve alta de 61,44%
no ano terminado em 31 de janeiro, inferior só à da Nigéria.
Para o economista Ricardo
Humberto Rocha, do Ibmec-SP, o estudo sugere uma corrida por liquidez sem precedentes. "Liquidez não tem preço. O
investidor vendeu onde tinha
mercado. Os fundos fizeram
caixa para seus controladores."
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