São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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Bolsas perderam US$ 5,2 tri em janeiro

Temor com crise afasta investidores em quase todo o mundo; entre 52 mercados, Brasil teve a 22ª menor perda, diz agência

Para analista, dados ajudam a enterrar a tese de que os países emergentes seriam pouco prejudicados pela desaceleração dos EUA

ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados mundiais perderam US$ 5,2 trilhões no mês passado, um dos piores começos de ano da história das Bolsas, segundo estudo da Standard & Poor's. E o resultado podia ter sido ainda pior: em um determinado momento de janeiro, as perdas chegaram a US$ 7,9 bilhões. Apenas no Brasil, um dos menos atingidos pela crise, as empresas cotadas em Bolsas se desvalorizaram em mais de US$ 100 bilhões.
O valor perdido pelas Bolsas globais equivale a praticamente cinco PIBs (Produto Interno Bruto, todos os bens e serviços produzidos pelo país) do Brasil, que em 2006 foi de US$ 1,068 trilhão. Apenas os EUA, com US$ 13,195 trilhões, teve um PIB superior às perdas dos mercados no mês passado.
Os temores de recessão nos EUA, com a crise do mercado de crédito imobiliário de alto risco ("subprime") e as perdas bilionárias de grandes bancos, espalharam-se para praticamente todo o mundo. "Alta volatilidade, rápidas reviravoltas, tanto no sentimento do consumidor como do investidor, e preços de ações drasticamente baixos prevaleceram durante o mês", disse, em comunicado, Howard Silverblatt, analista da Standard & Poor's.
Dos 52 mercados analisados pela agência, apenas dois não se desvalorizaram: Marrocos (10,17%) e Jordânia (3,11%). Países desenvolvidos, que geralmente são menos voláteis do que os emergentes, tiveram perdas médias de 7,83%. Na Alemanha, elas foram de 13,72%, e, na França, de 12,27%.
Já nos países emergentes, as perdas foram de 12,44%. O Brasil registrou desvalorização de 8,59% e ficou praticamente no meio do ranking, com a 22ª menor perda. As empresas cotadas nas Bolsas da China perderam mais de um quinto do seu valor de mercado no mês passado. A Rússia e a Índia também tiveram quedas expressivas: 16,12% e 16%, respectivamente.
Segundo Eveline Gerck, presidente do banco de investimento AP International, as maiores perdas aconteceram na China porque se tratava do mercado mais caro do mundo. "O Brasil se saiu melhor porque não está tão caro. Está num córner [encurralado], entre os emergentes de maior risco -como Argentina, Colômbia e Venezuela- e países como China e Índia, que são mais fáceis de fazer negócio."
Para Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset, o estudo ajuda a enterrar a tese do descolamento, pela qual se acreditou que países emergentes seriam pouco prejudicados pela desaceleração nos EUA. "O que vai definir se será sepultada de vez a tese do descolamento será se o Fed [Federal Reserve, BC dos EUA] sinalizar que deve encerrar o corte nos juros americanos e a crise levar a uma desaceleração na China", disse.
Se esse cenário se comprovar, Ribeiro afirma que "poderemos ver uma valorização dos mercados desenvolvidos e perdas apenas nos emergentes".
As empresas na Bolsa dos EUA tiveram perda no seu valor de mercado de mais de US$ 1 trilhão, o equivalente a 6,07%. A queda é inferior à brasileira, mas os dados dos 12 meses encerrados em janeiro mostram uma desvalorização de 2,42%. Já o Brasil teve alta de 61,44% no ano terminado em 31 de janeiro, inferior só à da Nigéria.
Para o economista Ricardo Humberto Rocha, do Ibmec-SP, o estudo sugere uma corrida por liquidez sem precedentes. "Liquidez não tem preço. O investidor vendeu onde tinha mercado. Os fundos fizeram caixa para seus controladores."


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