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LUIZ AWAZU PEREIRA DA SILVA
Desafio com a crise financeira
É arriscado generalizar
declarações fiscais
expansionistas, pois o
nosso problema é outro
A ATUAL crise financeira global
não deve nos levar nem ao catastrofismo nem ao excesso
de otimismo. Vamos, provavelmente, enfrentar incertezas, volatilidade, boas e más notícias com pânicos
e euforias temporárias nas Bolsas.
Mas devemos manter exatamente a
nossa atitude prudente e pragmática. O lado "positivo" da atual crise
pode ser o de reforçar nossa credibilidade e reflexão sobre nossos desafios de longo prazo.
Primeiro analisando friamente as
implicações para o Brasil da crise
nas economias do G7: a "arte" dos
bancos centrais do mesmo G7 está
sendo calibrar a flexibilização monetária e a imprescindível recapitalização de seus bancos com um
apoio fiscal contracíclico para evitar
recessão e inflação. Mas é arriscado
generalizar declarações fiscais expansionistas, inclusive de organismos internacionais, pois o nosso
problema é outro.
1) Nosso sistema financeiro é sólido, bem capitalizado, não comprou
ativos "subprime" e é bem supervisionado. 2) Temos um impulso contratado de demanda interna forte,
fortalecido pelo PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) e seus
efeitos cumulativos. Porém 3) nossas expectativas e índices de inflação
apresentaram elevação, em parte
conseqüência da alta global dos preços de alimentos. E 4) temos um
ajuste natural de nosso superávit comercial que poderá traduzir-se, a
prazo, em relativa depreciação do
real, pressionando a inflação. Estamos preservando o crescimento
com inflação controlada que já temos e melhoramos as regras prudenciais nos nossos bancos, com
medidas para precificar melhor o
risco. Devemos controlar o nosso
gasto fiscal corrente, aprimorando
qualidade e eficiência. Reduzimos a
dívida pública, ajudando, assim, o
trabalho de ancoragem de expectativas das nossas autoridades monetárias.
Em seguida, consolidando nossa
credibilidade econômica: um sinal
de leniência com a inflação pode diminuir o investimento privado, hoje
robusto, e o investimento estrangeiro direto e em nossos ativos financeiros, agravando a diminuição de
nosso superávit de conta corrente.
Isso poderia provocar um ajuste
mais abrupto no câmbio, com conseqüências potenciais sobre os preços domésticos. Outros sinais necessários devido à não-prorrogação da
CPMF foram rápidas medidas fiscais que mantêm a meta de superávit fiscal primário em 3,8% do PIB
(Produto Interno Bruto), elevam
apenas dois tributos (IOF e CSLL) e,
sobretudo, cortam despesas de R$
20 bilhões. Estamos agora detalhando com o "bisturi" os cortes finos de
despesas, em sintonia com o Congresso.
Finalmente, a crise externa é uma
oportunidade para debater reformas estruturais de longo prazo como sistema tributário, carga fiscal,
Previdência, regulação de alguns
mercados, em que se espera um mínimo de consenso suprapartidário.
Já temos exemplos de reformas microeconômicas com bons resultados e consenso: crédito consignado,
setor imobiliário etc. Precisamos
mais: o projeto de reforma tributária, o cadastro positivo, normas contáveis e aumento via PAC do investimento com concessões e PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Implementar em tempo hábil as
nossas reformas estruturais microeconômicas é a melhor garantia para
uma inserção ainda melhor do Brasil no mundo globalizado com China, Índia e outros competidores que
surgirão. Nossa democracia é forte e
sábia o suficiente para travar debates políticos impiedosos e ao mesmo
tempo construir as áreas de consenso para fortalecer as bases do desenvolvimento com justiça social do
país.
LUIZ AWAZU PEREIRA DA SILVA é chefe da assessoria
econômica do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão.
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