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Governo investiga suspeita de cartel na área de cimento
Ministério da Justiça apura suposto acerto de preço entre empresas do setor
Entre os documentos apreendidos, manual detalha como se comportar
na criação do "oligopólio" no setor de concreto
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Investigação em andamento
no Ministério da Justiça mostra que diretores da Votorantim e da Holcim S.A. teriam trocado e-mails entre si e acertado, no começo de 2005, que
suas planilhas de custos deveriam apresentar aumento de
18%, gerando elevação no preço
do cimento em Minas Gerais.
Os dois diretores negociariam, também, a melhor maneira para a aquisição de uma
concreteira do sul de Minas Gerais, de modo a manter equilibrada a divisão de mercado entre as duas e a Cimentos Liz.
Documento apreendido em
posse do Grupo Nassau explica
que o setor precisa se proteger
da entrada de novos competidores, investir na verticalização da indústria, adequar a rentabilidade do cimento e alcançar o equivalente a 80% do
mercado de concreto em relação às suas participações no setor de cimento.
Um manual detalha como se
comportar na primeira e na segunda fases da criação do "oligopólio" no setor de concreto.
Os integrantes são estimulados
a não deixar provas que os incriminem e denunciar os que
não cumprirem essas normas.
Esses e outros documentos,
mais cópias de discos rígidos de
computadores, correspondências e dados virtuais, compõem
o que a SDE (Secretaria de Direito Econômico), ligada ao Ministério da Justiça, considerou
ontem "fortes indícios" de infração à ordem econômica. O
suficiente para iniciar mais um
processo administrativo contra
as principais produtoras de cimento -que detêm, juntas,
mais de 90% do mercado.
"O setor está sob escrutínio
do governo há mais de dez anos.
O máximo que conseguimos
até então foi uma análise econômica primorosa. No ano passado, localizamos um ex-funcionário que concordou em
conversar "off the record" [sem
se expor]", disse a titular da
SDE, Mariana Tavares.
Em novembro do ano passado, esse ex-funcionário forneceu planilhas de vendas da Votorantim em toda o Sul, área
onde ele trabalhava. Em um
curto depoimento, contou que
o cartel seria organizado pela
empresa, maior produtora de
cimento do país.
Diretores das oito cimenteiras envolvidas e três associações patronais se encontrariam, sempre de acordo com o
ex-funcionário, no hotel Victoria Villa, em Curitiba, e no hotel
Ritter, em Porto Alegre, para
combinar preços, a quantidade
de cimento que cada empresa
deveria produzir e, entre outros acertos, a área de atuação.
Com as informações do ex-funcionário, a SDE obteve na
Justiça a autorização para realizar, no mês passado, buscas
no Rio, em São Paulo e no Rio
Grande do Sul, em seis das oito
empresas hoje sob suspeita. As
cimenteiras foram notificadas
e negaram irregularidades.
Multa
Se concluir pela existência de
conduta lesiva ao mercado, a
SDE encaminhará o processo
ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica),
que julgará a eventualidade de
punir as empresas. Se condenadas, podem vir a receber multa
de 1% a 30% do faturamento.
Estão sob investigação: Votorantim Cimentos, Camargo
Corrêa Cimentos, Lafarge Brasil S.A., Cimpor (Companhia de
Cimentos do Brasil), Holcim
Brasil S.A., Itabira Agroindustrial S.A. do Grupo Nassau,
Soeicom S.A. e a Companhia de
Cimentos Itambé.
Também estão sob suspeita
Abesc (Associação Brasileira
das Empresas de Serviços de
Concretagem), ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) e Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento).
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