São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Telefónica quer iPhone para o Dia das Mães

Operadora entra em fase final de negociação com a Apple e pretende colocar aparelho à venda na América Latina em dois meses

No Brasil, celular seria vendido pela Vivo; exigência da Apple de ter parte da receita e de que aparelho seja subsidiado emperra negociações

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

A Vivo está mais perto de lançar o iPhone no Brasil. As conversas entre a Telefónica, uma das controladoras da operadora brasileira, e a Apple, a fabricante do celular, atingiram a fase final de negociação.
A Folha apurou que a operadora espanhola quer colocar o aparelho à venda na América Latina dentro de dois meses. No Brasil, a Vivo já teria os aparelhos para o Dia das Mães.
Vários fatores favorecem a Telefónica na queda-de-braço com a Apple. O primeiro deles é a venda não-oficial de iPhones fora dos EUA e da Europa.
Estima-se que cerca de 1,4 milhão de iPhones estejam em atividade no momento no mercado paralelo, já que apenas 2,3 milhões de aparelhos dos 3,7 milhões vendidos estão registrados nas operadoras com quem a Apple mantém acordo de exclusividade. Em média, um iPhone, que custa US$ 400 nos EUA, é vendido por US$ 600 em países como a China.
Os analistas calculam que, se Steve Jobs, da Apple, não fizer nada para conter o mercado paralelo, perderá US$ 1 bilhão nos próximos três anos. Nessa conta não está incluída a receita gerada por serviços como o download de músicas e vídeos pela loja virtual da Apple, o iTunes. Só nisso, são mais US$ 120 anuais por cliente.
No Brasil, não há números precisos sobre a quantidade de iPhones desbloqueados em atividade. Mas uma pesquisa feita pela consultoria Predicta mostra que o iPhone já responde por quase metade dos acessos à internet via celular.
Em setembro de 2007 (três meses após o lançamento nos EUA), ele representava 10,8% dos acessos no Brasil. Em fevereiro, saltou para 49,7%.
A Predicta é uma empresa brasileira que desenvolve softwares que monitoram a navegação de cerca de 25 sites brasileiros -incluindo portais e empresas. Juntos, eles respondem por mais de 90% dos acessos à web no país. "Conseguimos saber até que tipo de equipamento o internauta está utilizando quando chega a um desses sites", diz Cláudia Woods, diretora do departamento de inteligência da empresa.
Toda vez que alguém se conecta à internet, seja pelo computador, celular, palmtop ou iPhone, recebe do servidor acessado uma informação chamada "cook". Ela fica salva na memória desses equipamentos, que, por sua vez, devolvem outro "cook" ao servidor contendo todas as informações da máquina, incluindo o sistema operacional. Como o sistema da Apple é único no mundo, é possível saber exatamente quantos acessos foram feitos no Brasil via iPhone, porque ele fica registrado no "cook".

Pé no freio
É difícil avaliar se o acordo entre a Apple e a Telefónica será fechado. Na China, as negociações com a China Mobile, a maior operadora do planeta, com mais de 350 milhões de assinantes, não vingaram.
Com a Telefónica, o que emperra a negociação é uma questão comercial. A Apple quer uma participação na receita da Vivo, a exemplo do que fez com a AT&T, nos EUA, a O2, no Reino Unido, e a Deutsche Telecom, na Alemanha. Além disso, ela quer que a Telefónica subsidie os aparelhos para que sejam vendidos a preços baixos, incentivando sua massificação.
O problema é que esse modelo de negócio não faz mais sentido. Afinal, desde que o iPhone foi lançado, não pára de crescer a quantidade de desenvolvedores de programas que desbloqueiam o aparelho para que ele funcione em qualquer rede de telefonia móvel.
É essa realidade que está pressionando a Apple a rever suas exigências. Por isso, é possível que, caso ela feche o contrato com a Telefónica, o aparelho seja vendido mais caro, porque não terá o subsídio normalmente concedido pelas operadoras de celular.


Texto Anterior: Para Vale, commodities são boas para o país
Próximo Texto: FMI cobra transparência em crédito de risco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.