São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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REAL FRACO
Empresas aproveitaram a queda da moeda brasileira para liquidar o pagamento das quatro telefônicas adquiridas no leilão da Telebrás
Teles "ganham" US$ 1,7 bi com desvalorização

ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

Telefónica de España, Portugal Telecom e Iberdrola ganharam cerca de US$ 1,7 bilhão na desvalorização do real. As três empresas aproveitaram a queda da moeda brasileira e liquidaram, no final de janeiro, o pagamento das quatro telefônicas que adquiriram no leilão da Telebrás. Os ganhos com a operação são confirmados oficialmente pelas empresas no exterior.
Ao divulgar seu balanço anual em Madri, dez dias atrás, a Telefónica informou que havia liquidado sua dívida de R$ 4,056 bilhões com o governo brasileiro com um ganho, para ela, de US$ 1,074 bilhão (165,39 bilhões de pesetas).
A Portugal Telecom ganhou o equivalente a US$ 600 milhões, segundo disse à Folha, por telefone, de Lisboa, o diretor de Relações com o Mercado do grupo, Pedro Miguel Dias. A Iberdrola lucrou cerca de US$ 120 milhões.
No leilão da Telebrás, portugueses e espanhóis arremataram a Telesp fixa (atual Telefônica), a Telesp Celular, a Tele Sudeste Celular (que cobre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo) e a Tele Leste Celular (Bahia e Sergipe).
As quatro empresas foram compradas, na época, por R$ 10,7 bilhões, ou seja, quase metade do total do leilão -R$ 22,057 bilhões- que envolveu 12 empresas do Sistema Telebrás.

Duas teles de graça
O ganho acumulado pelos três grupos com a desvalorização do real supera o valor somado da Tele Sudeste Celular e da Tele Leste Celular. A primeira foi vendida pelo governo por R$ 1,36 bilhão (US$ 1,168 bilhão pela cotação do dia do leilão), e a segunda, por R$ 428 milhões (US$ 368,2 milhões à época).
O total das aquisições feitas pelos espanhóis e portugueses correspondia, na data do leilão, a US$ 9,23 bilhões, dos quais 40% foram pagos à vista. Os 60% restantes seriam pagos em duas parcelas anuais: em agosto deste ano e em agosto do ano 2000.
Dois meses depois do leilão, asfixiado pela perda diária de dólares, o governo brasileiro pediu ajuda à Telefónica de España e à Portugal Telecom. Após negociação intermediada pelo então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, a Telefónica emprestou US$ 2,354 bilhões ao Brasil. A Portugal Telecom fez empréstimo de US$ 1,265 bilhão, e a Iberdrola, de US$ 266 milhões. O dinheiro representava apenas parte do saldo devedor da compra das quatro teles.
O financiamento em si, a juros de 11,875% ao ano, foi um grande negócio para os grupos ibéricos, pois eles emprestaram o dinheiro em dólar e continuaram devendo ao Brasil em real. Na ocasião, a Portugal Telecom informou ao mercado internacional que a operação lhe daria ganhos suficientes para anular a queda do lucro no triênio 1998/2000 que ela própria havia projetado.
A desvalorização do real começou no dia 13 de janeiro, e no dia 29 as empresas anunciaram a conversão do empréstimo em pagamento de suas dívidas remanescentes do leilão da Telebrás.
Naquela data, que ficou conhecida como a ""sexta-feira negra", o dólar ultrapassou a barreira de R$ 1,90, e a iniciativa das teles -embora altamente lucrativa para elas- foi anunciada no Brasil como prova de confiança no país.

Outro lado
O diretor da Portugal Telecom, Pedro Miguel Dias, diz que a ""poupança" obtida pela desvalorização do real ""caiu bastante bem" para a empresa, embora afirme que o empreendimento no Brasil continua o mesmo, em termos de lucratividade. A matriz portuguesa ainda não espera receber dividendos do Brasil neste ano.
Dias referiu-se à antecipação do pagamento das ações adquiridas no leilão da Telebrás da seguinte forma: ""Foi um bom negócio, porque a empresa (Telesp) acabou nos custando mais barato".
A Telefónica, por sua vez, anunciou que usará os recursos economizados com a desvalorização do real para ""sanear" seus investimentos no Brasil e proteger seus ativos na América Latina dos efeitos da queda da moeda brasileira.
A Telefónica é hoje o maior grupo de telecomunicações da América Latina. Tem telefônicas e empresas de TV a cabo na Argentina, Peru, Chile, Venezuela e México.


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