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REAL FRACO
Empresas aproveitaram a queda da moeda brasileira para liquidar o pagamento das quatro telefônicas adquiridas no leilão da Telebrás
Teles "ganham" US$ 1,7 bi com desvalorização
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio
Telefónica de España, Portugal
Telecom e Iberdrola ganharam
cerca de US$ 1,7 bilhão na desvalorização do real. As três empresas
aproveitaram a queda da moeda
brasileira e liquidaram, no final de
janeiro, o pagamento das quatro
telefônicas que adquiriram no leilão da Telebrás. Os ganhos com a
operação são confirmados oficialmente pelas empresas no exterior.
Ao divulgar seu balanço anual
em Madri, dez dias atrás, a Telefónica informou que havia liquidado
sua dívida de R$ 4,056 bilhões com
o governo brasileiro com um ganho, para ela, de US$ 1,074 bilhão
(165,39 bilhões de pesetas).
A Portugal Telecom ganhou o
equivalente a US$ 600 milhões, segundo disse à Folha, por telefone,
de Lisboa, o diretor de Relações
com o Mercado do grupo, Pedro
Miguel Dias. A Iberdrola lucrou
cerca de US$ 120 milhões.
No leilão da Telebrás, portugueses e espanhóis arremataram a Telesp fixa (atual Telefônica), a Telesp Celular, a Tele Sudeste Celular
(que cobre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo) e a Tele Leste Celular (Bahia e Sergipe).
As quatro empresas foram compradas, na época, por R$ 10,7 bilhões, ou seja, quase metade do total do leilão -R$ 22,057 bilhões-
que envolveu 12 empresas do Sistema Telebrás.
Duas teles de graça
O ganho acumulado pelos três
grupos com a desvalorização do
real supera o valor somado da Tele
Sudeste Celular e da Tele Leste Celular. A primeira foi vendida pelo
governo por R$ 1,36 bilhão (US$
1,168 bilhão pela cotação do dia do
leilão), e a segunda, por R$ 428 milhões (US$ 368,2 milhões à época).
O total das aquisições feitas pelos
espanhóis e portugueses correspondia, na data do leilão, a US$
9,23 bilhões, dos quais 40% foram
pagos à vista. Os 60% restantes seriam pagos em duas parcelas
anuais: em agosto deste ano e em
agosto do ano 2000.
Dois meses depois do leilão, asfixiado pela perda diária de dólares,
o governo brasileiro pediu ajuda à
Telefónica de España e à Portugal
Telecom. Após negociação intermediada pelo então ministro das
Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, a Telefónica emprestou US$ 2,354 bilhões ao Brasil. A Portugal Telecom fez empréstimo de US$ 1,265 bilhão, e a
Iberdrola, de US$ 266 milhões. O
dinheiro representava apenas parte do saldo devedor da compra das
quatro teles.
O financiamento em si, a juros de
11,875% ao ano, foi um grande negócio para os grupos ibéricos, pois
eles emprestaram o dinheiro em
dólar e continuaram devendo ao
Brasil em real. Na ocasião, a Portugal Telecom informou ao mercado
internacional que a operação lhe
daria ganhos suficientes para anular a queda do lucro no triênio
1998/2000 que ela própria havia
projetado.
A desvalorização do real começou no dia 13 de janeiro, e no dia 29
as empresas anunciaram a conversão do empréstimo em pagamento
de suas dívidas remanescentes do
leilão da Telebrás.
Naquela data, que ficou conhecida como a ""sexta-feira negra", o
dólar ultrapassou a barreira de R$
1,90, e a iniciativa das teles -embora altamente lucrativa para
elas- foi anunciada no Brasil como prova de confiança no país.
Outro lado
O diretor da Portugal Telecom,
Pedro Miguel Dias, diz que a ""poupança" obtida pela desvalorização
do real ""caiu bastante bem" para a
empresa, embora afirme que o empreendimento no Brasil continua o
mesmo, em termos de lucratividade. A matriz portuguesa ainda não
espera receber dividendos do Brasil neste ano.
Dias referiu-se à antecipação do
pagamento das ações adquiridas
no leilão da Telebrás da seguinte
forma: ""Foi um bom negócio, porque a empresa (Telesp) acabou nos
custando mais barato".
A Telefónica, por sua vez, anunciou que usará os recursos economizados com a desvalorização do
real para ""sanear" seus investimentos no Brasil e proteger seus
ativos na América Latina dos efeitos da queda da moeda brasileira.
A Telefónica é hoje o maior grupo de telecomunicações da América Latina. Tem telefônicas e empresas de TV a cabo na Argentina,
Peru, Chile, Venezuela e México.
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