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Brasil chegou à crise cambial sem qualquer conselho do FMI
da Sucursal de Brasília
O receituário do FMI (Fundo
Monetário Internacional) pode até
estar equivocado e fazer o país demorar mais para sair da crise, mas
não há como atribuir ao organismo a culpa pelos problemas atuais
da economia brasileira.
Dois motivos principais explicam o colapso do real, segundo a
maioria dos economistas: o desequilíbrio das contas públicas e a
demora na correção da taxa de
câmbio (valor do dólar em relação
à moeda brasileira). Pelo que se sabe, o FMI não tem nada a ver com
eles.
Em 1994, Fernando Henrique
Cardoso, então ministro da Fazenda do governo Itamar, buscou o
aval do Fundo para o programa
econômico brasileiro que depois
foi batizado de Plano Real. O apoio
foi negado em razão de o ajuste fiscal ter sido considerado insuficiente.
Mesmo sem o aval, o governo levou adiante a estratégia de controle da inflação baseada na sobrevalorização do real em relação ao dólar -que chegou a valer menos de
R$ 1,00-, gerando um aumento
das importações não acompanhado pelas exportações. Resultado: o
déficit comercial do país cresceu
rapidamente.
Depois de quatro anos de juros
altos provocados pelos déficits público e externo, o governo brasileiro voltou a buscar ajuda do FMI no
final do ano passado. Foi aconselhado a desvalorizar sua moeda,
mas resistiu. Só o fez, forçado pelas
circunstâncias, em janeiro deste
ano.
A dúvida, agora, é se a receita tradicional do Fundo para países em
risco de insolvência -juros altos
no curto prazo e ajuste fiscal a médio e longo prazos- está correta.
E, é claro, se há alternativas melhores.
Os juros estão altos para conter a
alta de preços, mas vão agravar o
déficit público, o desemprego e a
perda de popularidade do governo. O governo elevou impostos e
cortou gastos para pagar parte dos
juros de sua dívida.
Se os juros fossem reduzidos, o
déficit público poderia cair a níveis
aceitáveis e o custo social imediato
da crise seria muito menor. Mas
haveria o risco de inflação crônica
a longo prazo.
Se o governo bloqueasse as saídas de dólares do país, a desvalorização do real seria contida e a pressão sobre a inflação cairia. No entanto, o país perderia mais credibilidade no exterior e receberia menos investimentos.
(GUSTAVO PATÚ)
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