São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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Brasil chegou à crise cambial sem qualquer conselho do FMI

da Sucursal de Brasília

O receituário do FMI (Fundo Monetário Internacional) pode até estar equivocado e fazer o país demorar mais para sair da crise, mas não há como atribuir ao organismo a culpa pelos problemas atuais da economia brasileira.
Dois motivos principais explicam o colapso do real, segundo a maioria dos economistas: o desequilíbrio das contas públicas e a demora na correção da taxa de câmbio (valor do dólar em relação à moeda brasileira). Pelo que se sabe, o FMI não tem nada a ver com eles.
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda do governo Itamar, buscou o aval do Fundo para o programa econômico brasileiro que depois foi batizado de Plano Real. O apoio foi negado em razão de o ajuste fiscal ter sido considerado insuficiente.
Mesmo sem o aval, o governo levou adiante a estratégia de controle da inflação baseada na sobrevalorização do real em relação ao dólar -que chegou a valer menos de R$ 1,00-, gerando um aumento das importações não acompanhado pelas exportações. Resultado: o déficit comercial do país cresceu rapidamente.
Depois de quatro anos de juros altos provocados pelos déficits público e externo, o governo brasileiro voltou a buscar ajuda do FMI no final do ano passado. Foi aconselhado a desvalorizar sua moeda, mas resistiu. Só o fez, forçado pelas circunstâncias, em janeiro deste ano.
A dúvida, agora, é se a receita tradicional do Fundo para países em risco de insolvência -juros altos no curto prazo e ajuste fiscal a médio e longo prazos- está correta. E, é claro, se há alternativas melhores.
Os juros estão altos para conter a alta de preços, mas vão agravar o déficit público, o desemprego e a perda de popularidade do governo. O governo elevou impostos e cortou gastos para pagar parte dos juros de sua dívida.
Se os juros fossem reduzidos, o déficit público poderia cair a níveis aceitáveis e o custo social imediato da crise seria muito menor. Mas haveria o risco de inflação crônica a longo prazo.
Se o governo bloqueasse as saídas de dólares do país, a desvalorização do real seria contida e a pressão sobre a inflação cairia. No entanto, o país perderia mais credibilidade no exterior e receberia menos investimentos.
(GUSTAVO PATÚ)




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