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Superávit comercial depende de recessão
RICARDO GRINBAUM
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
A nova meta de resultado da balança comercial acertada com o
FMI divide empresários e economistas. Para boa parte dos especialistas, o salto é muito grande e só
pode ser obtido com uma recessão
ainda mais dura do que a prevista.
No ano passado, o Brasil teve um
déficit comercial de aproximadamente US$ 6 bilhões. Pelo acordo
divulgado ontem, as exportações
ultrapassariam as importações em
US$ 11 bilhões em 1999.
Em um ano, o Brasil teria de reverter a corrente comercial em
US$ 17 bilhões. Com um problema
adicional: nos dois primeiros meses do ano, as exportações caíram
mais de 12% em relação ao ano anterior, devido ao clima de incerteza
gerado pela desvalorização do real.
"As exportações demoram a reagir, especialmente porque há pouco crédito para financiar as empresas", diz Marcus Vinícius Pratini
de Moraes, presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB).
"Se as condições melhorarem, podemos ter o saldo de US$ 11 bilhões
num período de 12 meses, de maio
de 1999 a maio do ano 2000."
A meta acertada com o Fundo
prevê uma queda de 21,4% nas importações e um aumento de 10%
nas exportações em 1999.
"Embora tenhamos hoje uma
vantagem significativa de preços,
essa meta não é factível porque há
escassez de crédito às exportações", diz Herman Wever, presidente da Siemens do Brasil.
Além disso, diz Wever, o Brasil,
como resultado de cinco anos de
câmbio sobrevalorizado, aumentou o coeficiente de importações,
"que não cai do dia para a noite",
perdeu clientes e deixou de ser exportador em áreas importantes. A
Siemens estima um saldo comercial de US$ 4 bilhões neste ano.
Para o economista-chefe do banco Lloyds, Odair Abate, é difícil obter um crescimento expressivo das
exportações porque o preço dos
principais produtos brasileiros está baixo e a economia mundial está
desacelerando.
Abate acha possível cumprir a
meta acertada com o FMI, se houver uma mudança no cenário externo ou um aprofundamento da
recessão no Brasil.
"Se houver uma retração maior
do que os 3,5% a 4% previstos, é
possível que as importações caiam
mais do que 25%", diz Abate.
Nos cálculos do Lloyds, o Brasil
terá um superávit de US$ 8 bilhões
em 1999, fruto de um aumento de
3% a 4% das exportações e de uma
queda de 20% nas importações.
O economista José Márcio Camargo, da PUC-RJ, também acredita que a meta possa ser cumprida, mas desde que ocorra uma retração de 5% a 6% do PIB.
Alexandre Azara, do banco BBA,
está mais confiante. "É perfeitamente possível chegar ao superávit
de US$ 11 bilhões em 99", diz Azara. O BBA aposta num superávit de
pelo menos US$ 10 bilhões. "As
importações vão cair 25% e as exportações crescerão 3% em 1999."
Nas contas de Azara, as importações vão se manter em baixa até julho e, por isso, não será preciso
provocar uma recessão ainda mais
forte do que a prevista até agora.
Meta de inflação
Outra novidade do acordo com o
FMI foi a definição de uma nova
estratégia, conhecida como "inflation target". A estratégia estabelece como objetivo prioritário do BC
atingir uma meta preestabelecida
de inflação, mesmo que, para isso,
seja necessário aumentar mais os
juros e provocar mais recessão.
"Quem faz política econômica é
o Ministério da Fazenda", diz Azara, do BBA. "A prioridade do BC é
controlar a inflação."
Segundo Dany Rappaport, do
Santander, "o câmbio fixo segurava os preços, agora a meta deve ser
a inflação. Mas não é uma mudança de estratégia. Qualquer Banco
Central tem de zelar pela moeda."
A "inflation target" tem sido usada por países que abandonaram a
âncora cambial, como a Nova Zelândia, que teve inflação de 15%,
em 1990. Em seis anos, a taxa caiu
para 2%. No primeiro momento, o
desemprego saltou de 5% para
12%, mas voltou a cair para 4,5%.
"É uma política que exige forte
compromisso do governo, mas é o
único caminho para o Brasil nesse
momento", diz Camargo.
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