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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Vantagens e custos da
acumulação de reservas
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
À s vésperas da crise da dívida deflagrada pelo default do
México em 1982, os países em desenvolvimento mantinham a relação reservas internacionais/PIB
entre 5% e 7%. Essas cifras correspondiam, em média, a três meses
de importação. Em 2004, a relação
reservas/PIB saltou para 35%, e o
estoque de liquidez passou a cobrir
mais de oito meses de importação.
A acumulação de reservas ganhou impulso no início dos anos
90. Coincide com a primeira onda
de liquidez global e de investimento direto estrangeiro -quando se
intensificam os movimentos de capitais dos países desenvolvidos para os emergentes. A formação de
reservas teve ligeiro declínio em
1997/8, mas logo depois a pendente
da curva se torna mais inclinada.
Alguém poderia argumentar que
as políticas mercantilistas da China, com o propósito de impedir a
valorização do yuan e de defender
a competitividade das exportações,
teve papel essencial na acumulação de liquidez em moeda forte por
parte dos países em desenvolvimento. Errado. Excluída a China,
os resultados (as proporções reservas/PIB e os meses de importação
cobertos) permanecem os mesmos.
O economista Dani Rodrik, da
Universidade Harvard, publicou
recentemente um ensaio sobre as
razões dessa "anomalia". Antes da
globalização financeira, diz ele, os
países administravam suas reservas em moeda forte com o objetivo
de garantir liquidez suficiente para
as transações em conta corrente do
balanço de pagamentos. O aumento do número de meses de importação (de três ou quatro para oito)
coberto pelas reservas desqualifica
a suspeita de que uma fração do
aumento das reservas possa ser debitado à ampliação da abertura
comercial nos emergentes.
Para o professor de Harvard, o
aumento rápido das reservas está
claramente relacionado com a explosão dos mercados de ativos financeiros e títulos de dívida nos
distintos mercados. A amostra de
países emergentes tratada por Rodrik revela que a relação entre as
reservas em moeda forte e M2 (papel moeda mais depósitos à vista
mais depósitos a prazo) manteve-se estável nos anos 90. Ao mesmo
tempo, para a maioria dos emergentes, a proporção entre dívida de
curto prazo e reservas aumentou.
Como a liquidez de uma empresa
ou de um país é um conceito relativo, Rodrik não entende por que a
maioria dos emergentes não tratou
de reduzir o endividamento de
curto prazo e preferiu acumular reservas, pagando quase sempre um
custo de carregamento elevado e
sem qualquer benefício no que se
refere ao investimento produtivo.
A resposta: "Somos levados à
conclusão incontornável de que os
emergentes responderam à globalização financeira de uma forma desequilibrada, longe de ser a mais
adequada. Investiram na custosa
estratégia de acumular reservas e
subutilizaram os métodos de controle de capitais. É fácil descobrir
as razões de tal cometimento: ao
contrário da acumulação de reservas, impor controles ao endividamento de curto prazo contraria poderosos interesses, dentro e fora de
cada país. O controle de capitais
ganhou a péssima reputação de
"intervenção no mercado" que a
formação de reservas não tem".
Façanhas dos bancos centrais "independentes".
Luiz Gonzaga Belluzzo, 63, é professor
titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e
Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).
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