São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2008

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Corte no Orçamento deve surtir pouco efeito

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O corte no Orçamento anunciado pelo governo surtirá pouco efeito sobre a expansão da demanda e terá força zero para brecar eventual alta nos juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), avaliam especialistas.
De acordo com o sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, o Banco Central caminha para uma "elevação inevitável" dos juros, se não na reunião da semana que vem, na outra. Para ele, o anúncio do corte no Orçamento exercerá influência nula sobre o comportamento da demanda, ao menos no curto prazo.
"Uma resposta macroeconômica leva ao menos seis meses, é uma reação lenta", diz Silveira. "Aí, Inês é morta -o Copom já terá se reunido outras vezes".
O sócio-diretor da RC Consultores ressalta que o país transita por um período de pressões inflacionárias mais fortes, não apenas pela expansão dos gastos governamentais como também pela alta nos preços das commodities e pelo consumo das famílias.
Nesse sentido, diz Silveira, o corte, embora seja bem-vindo, já deveria ter sido feito antes que o aumento nos gastos do governo se constituíssem em mais um elemento de pressão inflacionária. "Mas a inflação já está carregada", diz.
Segundo Denis Blum, analista da Tendências Consultoria, o corte de R$ 19,4 bilhões anunciado anteontem pelo governo não traz "boa notícia em termos de demanda".
Para ele, a medida apenas indica que o governo está determinado a perseguir a meta de superávit primário (a economia destinada ao abatimento da dívida pública), de 3,8%. Porém, pondera, como a arrecadação deve aumentar, segundo estimativa do próprio Executivo, o governo poderá "descontingenciar" no final do ano.
Para que houvesse uma contribuição adicional para o controle da demanda, diz Blum, o governo deveria anunciar um aumento na meta do superávit primário. "Assim, poderia garantir que a receita extra não se converteria em novos gastos."
Adriano Biava, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, diz que falta ainda o governo detalhar quais áreas serão contingenciadas e quais despesas deverão ser elevadas. Isso porque o Ministério do Planejamento informou que a previsão das despesas chamadas obrigatórias foi revista para cima, ao mesmo tempo em que foram contingenciadas as não-obrigatórias.
"A rigor, se o governo aumenta as despesas obrigatórias, há um impacto no sentido de pressionar ainda mais a demanda. Aí, o efeito seria inverso ao desejado", disse.


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