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Corte no Orçamento deve surtir pouco efeito
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O corte no Orçamento anunciado pelo governo surtirá pouco efeito sobre a expansão da
demanda e terá força zero para
brecar eventual alta nos juros
na próxima reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária), avaliam especialistas.
De acordo com o sócio-diretor da RC Consultores, Fábio
Silveira, o Banco Central caminha para uma "elevação inevitável" dos juros, se não na reunião da semana que vem, na outra. Para ele, o anúncio do corte
no Orçamento exercerá influência nula sobre o comportamento da demanda, ao menos no curto prazo.
"Uma resposta macroeconômica leva ao menos seis meses,
é uma reação lenta", diz Silveira. "Aí, Inês é morta -o Copom
já terá se reunido outras vezes".
O sócio-diretor da RC Consultores ressalta que o país
transita por um período de
pressões inflacionárias mais
fortes, não apenas pela expansão dos gastos governamentais
como também pela alta nos
preços das commodities e pelo
consumo das famílias.
Nesse sentido, diz Silveira, o
corte, embora seja bem-vindo,
já deveria ter sido feito antes
que o aumento nos gastos do
governo se constituíssem em
mais um elemento de pressão
inflacionária. "Mas a inflação já
está carregada", diz.
Segundo Denis Blum, analista da Tendências Consultoria, o
corte de R$ 19,4 bilhões anunciado anteontem pelo governo
não traz "boa notícia em termos de demanda".
Para ele, a medida apenas indica que o governo está determinado a perseguir a meta de
superávit primário (a economia destinada ao abatimento
da dívida pública), de 3,8%. Porém, pondera, como a arrecadação deve aumentar, segundo
estimativa do próprio Executivo, o governo poderá "descontingenciar" no final do ano.
Para que houvesse uma contribuição adicional para o controle da demanda, diz Blum, o
governo deveria anunciar um
aumento na meta do superávit
primário. "Assim, poderia garantir que a receita extra não se
converteria em novos gastos."
Adriano Biava, professor da
Faculdade de Economia e Administração da USP, diz que
falta ainda o governo detalhar
quais áreas serão contingenciadas e quais despesas deverão
ser elevadas. Isso porque o Ministério do Planejamento informou que a previsão das despesas chamadas obrigatórias
foi revista para cima, ao mesmo
tempo em que foram contingenciadas as não-obrigatórias.
"A rigor, se o governo aumenta as despesas obrigatórias, há
um impacto no sentido de pressionar ainda mais a demanda.
Aí, o efeito seria inverso ao desejado", disse.
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