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Inflação no trimestre é a maior em 7 anos
Nos três primeiros meses de 2010, IPCA fica em 2,06% sob pressão de alimentos, que sobem mais do que em todo o ano passado
IPCA se desacelera em março, para 0,52%, e alimentos contribuem com dois terços do resultado; IBGE vê sinais de inflação de demanda
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Pressionado por uma forte
alta dos alimentos, o IPCA ficou em 0,52% em março, abaixo do 0,78% de fevereiro, graças apenas ao fim da correção
sazonal das escolas. Tal resultado fez o índice em 12 meses
acumular uma variação de
5,17%, acima do centro da meta
do governo (4,5%) e superior a
5% pela primeira vez desde
maio do ano passado.
No primeiro trimestre, o
IPCA subiu 2,06%, maior taxa
para o período desde 2003
(5,13%). No mesmo período de
2009, o índice fora de 1,23%.
Vilões do mês, os alimentos
subiram de 0,96% em fevereiro
para 1,55% e tiveram a maior
variação mensal desde junho
de 2008 (2,11%). Sozinho, o
grupo alimentação contribuiu
com 0,35 ponto percentual do
índice geral, o que correspondeu por 67% do resultado.
No primeiro trimestre, os alimentos subiram 3,69%, mais
que os 3,18% registrados em todo o ano passado.
Em março, as altas de destaque ficaram com tomate
(42,95%), feijão-carioca
(10,46%), batata-inglesa
(8,44%), leite pasteurizado
(8,03%) e açúcar refinado
(6,32%).
Em parte, foram impulsionadas pelo calor e pelas chuvas
em excesso. Há também, no entanto, pressões típicas do consumo maior de alguns itens, como o leite.
Inflação de demanda
Segundo Eulina Nunes dos
Santos, o movimento de alta
dos alimentos é "generalizado"
e há sinais de inflação de demanda (quando os preços sobem devido à alta procura) em
alguns produtos, embora a tendência não esteja clara ainda.
"A chuva e o calor têm prejudicado as lavouras, o que reduz
a oferta. Com isso, os preços sobem muito. É o caso do tomate,
por exemplo. Mas há a questão
da demanda, que pode permear
toda essa situação, mas não é
evidente ainda."
Além do leite, mais consumido pela baixa renda neste ano,
outro sinal de "inflação de demanda" vem das recorrentes
altas da alimentação fora de casa, que subiu 0,57% em março.
"As pressões de demanda
existem, mas elas não preponderam desde o início do ano",
diz Fábio Romão, da LCA.
Em março, a inflação cedeu
não só na esteira da ausência
dos reajustes das mensalidades
mas também por causa dos
combustíveis. É que com o início da safra de cana-de-açúcar
caiu o preço do álcool (-8,87%
em março) e, por consequência,
o da gasolina (-1,95%).
Para o economista da LCA, o
IPCA vai entrar numa fase de
"descompressão" e, aos poucos,
convergirá para o centro da
meta. A LCA projeta taxa de
4,7% ao final do ano, pouco acima do objetivo central de 4,5%.
Menos otimista, a Rosenberg
& Associados avalia que há sinais claros de inflação de demanda e não estima desaceleração nos próximos meses -o
que obrigará o Banco Central a
subir os juros. A LCA espera
elevação da Selic já neste mês.
"Com o movimento de preços livres em alta e a demanda
cada vez mais forte, dificilmente a inflação arrefecerá até o final do ano", afirma a Rosenberg
em sua análise.
Romão argumenta, por seu
turno, que os preços no atacado
já sinalizam para deflação, o
que aliviará, nos próximos meses, as taxas no varejo.
O IGP-DI (Índice Geral de
Preços - Disponibilidade Interna), divulgado ontem, registrou
alta de 0,63% -abaixo do
1,09% de fevereiro. No atacado,
os preços avançaram 0,52%,
com deflação nos itens industriais (-0,05%). Já no varejo, o
índice ficou em 0,86%, também
pressionado por alimentos.
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