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Para analistas, país deve subsidiar tecnologia
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Se quiser uma indústria avançada e competitiva internacionalmente, o governo brasileiro terá
de adotar uma política mais
agressiva para o setor, que deveria
incluir a adoção de incentivos diretos, como subsídios. A conclusão foi compartilhada por especialistas que participaram ontem
do terceiro dia de debates do 14º
Fórum Nacional, organizado no
Rio pelo ex-ministro João Paulo
dos Reis Velloso.
O consenso dos palestrantes se
baseia na constatação de que a indústria brasileira se depauperou
nos últimos anos e acabou não
conquistando espaço significativo
no mercado externo.
Segundo o economista Luciano
Coutinho, professor da Unicamp,
ao contrário do que defendera anteontem o ministro da Fazenda,
Pedro Malan, os governos do presidente Fernando Henrique Cardoso foram marcados pelo abandono de políticas industriais. "O
que houve no governo FHC foi
uma política "desindustrial'", diz
o economista.
Segundo o economista, a combinação entre impostos em cascata, modestos avanços no setor de
infra-estrutura, juros altos e câmbio valorizado, até 1999, tornaram
a produção nacional extremamente onerosa e favoreceram as
importações. A apresentação de
um trabalho de Benjamin Sicsú,
secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, corroborou a tese
da necessidade de políticas de incentivo a determinados setores.
Segundo Sicsú, políticas macroeconômicas acertadas são importantes, mas não bastam para
estimular a competitividade. Ele
citou o setor de componentes eletrônicos, que recebe incentivos
em vários países.
"Os países que foram bem sucedidos na atração de investimentos
para indústrias ligadas ao complexo eletrônico o fizeram graças
à utilização de mecanismos que
introduziram vantagens competitivas artificiais."
Uma das conclusões recentes do
governo, disse Sicsú, é que para
reduzir o peso do mercado pirata
de computadores será necessária
a concessão de créditos tributários que estimulem a produção no
mercado formal. O trabalho apresentado por Sicsú mostra que
60% da produção nacional de
computadores vêm do mercado
informal. Os computadores brasileiros são 20% mais caros que os
produzidos no exterior.
Segundo o secretário, a concessão de créditos tributários seria
compensada com a entrada de
novos produtores no mercado
formal e a maior arrecadação de
impostos pelo governo.
Outro trabalho apresentado ontem a favor da formulação de uma
política industrial foi o do economista Antonio Barros de Castro,
professor da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro) e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Ele defendeu a tese de que precisam ser desenvolvidas no Brasil
estratégias específicas para setores competitivos.
Segundo o economista, outras
saídas defendidas como forma de
estímulo à competitividade da indústria são a reconstrução de setores desarticulados nos anos 90 e
a tentativa de promover uma revolução tecnológica. Para Castro,
as medidas seriam inviáveis, principalmente por causa da deterioração do cenário econômico brasileiro.
Castro afirmou também que a
elevação recente do risco-país está mais ligada à piora dos indicadores econômicos do que ao
avanço da oposição nas pesquisas
eleitorais. "Isso veio mostrar que
o Brasil ainda é, sim, parte do grupo de países com alto risco."
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