São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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Para analistas, país deve subsidiar tecnologia

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Se quiser uma indústria avançada e competitiva internacionalmente, o governo brasileiro terá de adotar uma política mais agressiva para o setor, que deveria incluir a adoção de incentivos diretos, como subsídios. A conclusão foi compartilhada por especialistas que participaram ontem do terceiro dia de debates do 14º Fórum Nacional, organizado no Rio pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso.
O consenso dos palestrantes se baseia na constatação de que a indústria brasileira se depauperou nos últimos anos e acabou não conquistando espaço significativo no mercado externo.
Segundo o economista Luciano Coutinho, professor da Unicamp, ao contrário do que defendera anteontem o ministro da Fazenda, Pedro Malan, os governos do presidente Fernando Henrique Cardoso foram marcados pelo abandono de políticas industriais. "O que houve no governo FHC foi uma política "desindustrial'", diz o economista.
Segundo o economista, a combinação entre impostos em cascata, modestos avanços no setor de infra-estrutura, juros altos e câmbio valorizado, até 1999, tornaram a produção nacional extremamente onerosa e favoreceram as importações. A apresentação de um trabalho de Benjamin Sicsú, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, corroborou a tese da necessidade de políticas de incentivo a determinados setores.
Segundo Sicsú, políticas macroeconômicas acertadas são importantes, mas não bastam para estimular a competitividade. Ele citou o setor de componentes eletrônicos, que recebe incentivos em vários países.
"Os países que foram bem sucedidos na atração de investimentos para indústrias ligadas ao complexo eletrônico o fizeram graças à utilização de mecanismos que introduziram vantagens competitivas artificiais."
Uma das conclusões recentes do governo, disse Sicsú, é que para reduzir o peso do mercado pirata de computadores será necessária a concessão de créditos tributários que estimulem a produção no mercado formal. O trabalho apresentado por Sicsú mostra que 60% da produção nacional de computadores vêm do mercado informal. Os computadores brasileiros são 20% mais caros que os produzidos no exterior.
Segundo o secretário, a concessão de créditos tributários seria compensada com a entrada de novos produtores no mercado formal e a maior arrecadação de impostos pelo governo.
Outro trabalho apresentado ontem a favor da formulação de uma política industrial foi o do economista Antonio Barros de Castro, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Ele defendeu a tese de que precisam ser desenvolvidas no Brasil estratégias específicas para setores competitivos.
Segundo o economista, outras saídas defendidas como forma de estímulo à competitividade da indústria são a reconstrução de setores desarticulados nos anos 90 e a tentativa de promover uma revolução tecnológica. Para Castro, as medidas seriam inviáveis, principalmente por causa da deterioração do cenário econômico brasileiro.
Castro afirmou também que a elevação recente do risco-país está mais ligada à piora dos indicadores econômicos do que ao avanço da oposição nas pesquisas eleitorais. "Isso veio mostrar que o Brasil ainda é, sim, parte do grupo de países com alto risco."



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