São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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VAREJO

Comerciantes e sindicato locais apoiaram a prefeitura na iniciativa de não ceder terreno central à rede americana

Londrina barra área pedida pelo Wal-Mart

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

RENATO FRANZINI
COORDENADOR-ADJUNTO DA AGÊNCIA FOLHA

Para instalar uma loja em Londrina, cidade de 500 mil habitantes no norte do Paraná, o Wal-Mart, maior rede de varejo do mundo, sofre oposição do prefeito, de entidades ligadas à área cultural, dos comerciantes e de trabalhadores locais.
O Wal-Mart pretende construir um Supercenter (hipermercado) num terreno vazio, no centro, onde a prefeitura planeja erguer um teatro. A seu favor, a rede argumenta que suas lojas criam empregos e vendem produtos a preços abaixo da concorrência.
Mas críticos argumentam que o Wal-Mart causa a falência de pequenos comércios, o que mataria mais empregos do que as vagas criadas pelo hipermercado. Também reclamam do impacto de suas megalojas sobre o trânsito e dos baixos salários que ele paga.
A polêmica começou há um ano e se tornou um confronto aberto em março, quando uma série de outdoors foi espalhada pela cidade, em campanha publicitária que acusa o prefeito Nédson Micheleti (PT), 46, de ser contra a geração de empregos em Londrina.
A campanha foi encomendada por Sebastiana Maria Lis, 54, procuradora da Taveri Empreendimentos, dona da área de 14.053 m2 escolhida pelo Wal-Mart para abrigar o Supercenter.
Em agosto do ano passado, o prefeito Micheleti decretou o terreno de utilidade pública para fins de desapropriação. No local o prefeito quer construir um teatro.
Após a campanha da Taveri, a Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) se aliou ao Sindicato dos Trabalhadores do Comércio em apoio ao prefeito.
"Não temos nada contra o Wal-Mart. O que não admitimos é aceitar imposições. O terreno pleiteado vai ser um teatro. O município ofereceu cinco áreas à rede para avaliação. O seu diretor [de expansão] Ciro Schmeil foi taxativo, quer a rede no local. Não aceito imposições", disse Micheleti.
Apesar de considerar que nada poderá impedir a instalação do Wal-Mart em Londrina, "com as leis atuais", o presidente da Acil, David Dequech Neto, 35, afirma que "todo mundo só fala nos preços mais baixos da rede, mas ninguém quer ver a pobreza e a falência de pequenas lojas que ela gera em sua volta".
Na avaliação de Dequech, endossada pelo Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Londrina, a cada 450 empregos diretos gerados pelo Wal-Mart onde se instala, ele provoca 1.500 desempregos com o fechamento de pequenas lojas que não conseguem concorrer com seus preços.

Na Califórnia
A cidade californiana de Inglewood, próxima de Los Angeles, virou símbolo de resistência ao Wal-Mart. Primeiramente, uma lei aprovada pelos vereadores impediu a instalação de lojas com mais de 14,4 mil m2 na cidade. Depois, a instalação foi barrada em um plebiscito -para o qual a rede gastou US$ 1 milhão em uma campanha que incluiu anúncios em jornais e na TV.
O prefeito Roosevelt Dorn lamentou o resultado. Disse que a loja criaria 1.200 empregos e que, mesmo que os salários fossem baixos, isso seria positivo numa cidade onde 25% dos jovens de 18 a 25 anos estão desempregados.
A campanha contra o Wal-Mart foi coordenada por líderes religiosos e comunitários e recebeu contribuições de sindicatos e até de uma rede de supermercado que atua no Estado, a Safeway.


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