São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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"EXUBERÂNCIA IRRACIONAL"
Rede de supermercados oferece "luvas" para atrair empregados; taxa de desemprego é de 4,3% da PEA
Empresas disputam trabalhadores nos EUA

de Washington

A rede de supermercados King Soopers, baseada em Denver, no Estado do Colorado, tem utilizado uma estratégia interessante para atrair farmacêuticos para seus balcões de venda de remédios.
A exemplo das ofertas feitas a jogadores de basquete e a executivos de grandes empresas, a diretoria do grupo oferece "luvas" de US$ 3.000 para quem aceitar um salário mensal de US$ 2.500.
A King Soopers não é a única. Em todo o país, garçons, faxineiros e telefonistas começaram a receber ofertas de "luvas" ou bônus para trocar de emprego ou indicar parentes e amigos para novos postos de trabalho.
O motivo para a novidade não é uma maior generosidade dos patrões, mas sim a absoluta falta de empregados no mercado de trabalho norte americano.
Em março passado, o índice de desempregados chegou a 4,2% da PEA (População Economicamente Ativa), o menor em 29 anos. Em abril, esse índice ficou estável, aumentando levemente para 4,3%.
Para uma economia versátil como a norte-americana, um desemprego tão baixo pode significar duas coisas. A primeira: se encontrou a solução para a pobreza e a miséria no país, como sugere o governo do democrata Bill Clinton. A segunda: as indústrias americanas não podem receber mais encomendas pelo inusitado fato de não ter trabalhadores para cumpri-las, o que seria um desastre.
À primeira vista, a escassez de mão-de-obra é uma boa notícia. Afinal de contas, com menos empregados, os patrões ficam tentados a pagar salários melhores.
No entanto salários melhores significam consumo maior. Consumo maior exige uma produção maior. Sem contratar novos empregados, as indústrias não aumentam a produção. Resultado: inflação.
Uma saída para essa armadilha é aumentar os índices de produtividade na economia, fazendo com que a produção aumente sem que seja preciso contratar novos trabalhadores. Esse índice é medido pela produção dividida pelo número de trabalhadores. Ou seja, o volume que se produz por trabalhador. No último ano, a produtividade dos EUA aumentou 3%, um índice que não vinha sendo observado nos primeiros anos da expansão.
No entanto não se sabe por quanto mais tempo o país vai conseguir aumentar seus índices de produtividade e, portanto, ainda depende de mão-de-obra.
Uma outra saída seria reduzir o crescimento da economia, diminuindo o consumo. Mas essa saída é arriscada, já que não se pode promover uma redução "controlada" no ritmo de crescimento. Um pequeno desaquecimento pode assustar os consumidores e investidores, provocando uma recessão cujos limites ninguém conhece.


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