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CENÁRIOS
Fim da prosperidade dos EUA traria sérios problemas à economia brasileira devido à dependência de capitais
Novo risco para o Brasil é "crash" em NY
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
A velha -e polêmica- frase
nunca foi tão verdadeira: o que é
bom para os Estados Unidos, também é bom para o Brasil. Pelo menos no campo da economia, a estabilidade brasileira está diretamente associada à prosperidade norte-americana. Qualquer oscilação
nos EUA, seja uma lenta desaceleração na economia ou um "crash"
na Bolsa de Nova York, deve trazer
sérios problemas para o Brasil.
O Brasil continua extremamente
vulnerável às crises externas, mesmo depois da desvalorização do
real. Apesar de não ter de defender
a moeda de um ataque especulativo, o país ainda depende de capital
volátil para equilibrar a taxa de
câmbio e as contas externas.
"Vivemos em um mundo perigoso e interligado. Independentemente de onde a crise ocorra ainda
estamos vulneráveis. A taxa de
câmbio flutuante nos dá mais flexibilidade, mas a economia brasileira já foi muito machucada pelas
crises", diz Francisco Gros, ex-presidente do Banco Central.
Para o ex-ministro Mailson da
Nóbrega, "as consequências de
uma crash na Bolsa de Nova York
seriam terríveis, especialmente
porque estamos num momento de
transição e o Brasil ainda depende
muito de financiamento externo."
Margem de manobra
Em crises anteriores, como a da
Ásia, em 1997, e a da Rússia, em
1998, o governo subiu a taxa de juros para conter a saída de dólares e
prometeu cortar gastos para afastar o risco de moratória. Se ocorrer
um novo choque, o Brasil não terá
a mesma margem de manobra.
Não há muito espaço para aumentar os juros porque o crescimento da dívida pública é a principal preocupação dos investidores.
Além disso, o governo ainda está
tentando recuperar a credibilidade
que foi arranhada por não ter equilibrado as contas públicas.
"A boa notícia depois da desvalorização foi a inflação, menor do
que se previa. Mas temos pontos
vulneráveis nas contas fiscais e na
balança comercial, o que aumenta
nossa dependência do capital volátil", diz Roberto Teixeira da Costa,
presidente do Conselho de Empresários da América Latina.
O primeiro efeito de um choque
externo sobre a economia seria a
fuga de capitais. Num sistema de
câmbio fixo, o governo teria de
gastar reservas internacionais para
manter a estabilidade da moeda.
A vantagem da nova política de
câmbio é que, se a crise não for
muito forte, pode ser amortecida
pela oscilação da moeda, como no
México. "Antes da desvalorização,
uma crise externa gerava um problema mais grave. Agora, parte do
ajuste é feito por meio da taxa de
câmbio", diz o ex-ministro Marcílio Marques Moreira.
Com a saída de capitais, a moeda
se desvaloriza, o que encarece as
importações e torna as exportações mais competitivas. A desvalorização poderia levar a uma maior
pressão por aumento de preços e,
provavelmente, a mais recessão.
"Como o Brasil está dando prioridade ao cumprimento das metas
para a inflação, o mais provável é
que, em caso de choque externo,
ocorresse uma forte recessão para
conter a alta dos preços", diz o economista José Márcio Camargo.
Desastre internacional
Uma das razões que explicam a
surpreendente recuperação brasileira é a melhora no ambiente internacional. No último trimestre
de 1998, os países em desenvolvimento levantaram US$ 5 bilhões
vendendo títulos no exterior. Nos
três primeiros meses de 1999, a
captação mais do que dobrou.
"Os países ricos reduziram os juros para enfrentar a crise internacional. Na Europa, é provável que
os juros caiam ainda mais. Isso cria
um excesso de liquidez e aumenta
o interesse dos investidores pelos
mercados emergentes, que pagam
juros mais altos", diz Lawrence
Goodman, da consultoria norte-americana LLC.
O risco é que as fontes de financiamento voltem a secar, especialmente se os EUA subirem a taxa de
juros e o preço das ações cair
abruptamente. "Não acredito que
estejamos próximos de uma crise
mundial. Mas se ocorrer um
"crash" na Bolsa de Nova York será
um desastre internacional. Os
EUA têm sido o banco central do
mundo", diz o deputado Delfim
Neto.
Até aqui, os EUA têm absorvido
o aumento das exportações dos
países que desvalorizaram suas
moedas. Nos últimos anos, o déficit comercial dos EUA saltou de
aproximadamente US$ 8 bilhões
para US$ 20 bilhões por mês. Se a
economia dos EUA desacelerar,
praticamente todos os outros países devem entrar em recessão.
O Brasil não tem como fugir de
uma recessão mundial, mas pode
se tornar menos vulnerável às crises. Para o ex-ministro João Paulo
dos Reis Velloso, "o Brasil precisa
renovar sua pauta de exportações,
a mesma há 15 anos, e se tornar um
grande competidor internacional". Além disso, diz Velloso, o
país precisa resolver, de vez, a
questão fiscal.
Para o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, o país não
pode mais depender de capital de
curto prazo. "O Brasil deve reduzir
sua vulnerabilidade criando alguma restrição à entrada e saída de
capital de curto prazo, seja por
meio de impostos ou estabelecendo prazos mínimos para aplicação
no país."
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