São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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Para Scheinkman, o risco de colapso está superestimado

da Reportagem Local

O risco de uma eventual queda no preço das ações norte-americanas se transformar em uma recessão nos Estados Unidos e, por extensão, no resto do mundo está superestimado.
Na opinião do economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, que trabalha na Universidade de Chicago, a Bolsa de Nova York contém apenas uma pequena parte da riqueza dos norte-americanos.
Além disso, diz Scheinkman, "o Fed (banco central dos EUA) tem instrumentos para minorar os efeitos de uma queda no preço das ações sobre a economia dos Estados Unidos".
Scheinkman concedeu a seguinte entrevista à Folha, por telefone, de Chicago: (RICARDO GRINBAUM)

Qual é o risco de um "crash'?
José Alexandre Scheinkman -
É difícil dizer se há uma bolha especulativa na Bolsa e se vai estourar. Se houver uma queda grande no preço das ações, não haverá, necessariamente, uma retração importante na economia. O chamado "efeito riqueza" é exagerado. A Bolsa contém apenas uma parte da riqueza norte-americana. Mais de dois terços da renda das pessoas vem dos salários. Isso não quer dizer que uma eventual queda no preço das ações não possa provocar uma crise no sistema financeiro. O canal da crise são os bancos. Mas tudo vai depender da condução da política monetária. Em 1987, houve uma queda grande na Bolsa, mas o Fed deu liquidez aos bancos e diminuiu os impactos sobre a atividade econômica. O Fed tem instrumentos para minorar os efeitos da queda da Bolsa.
Folha - O ciclo de crescimento dos Estados Unidos está chegando a seu final?
Scheinkman -
As economias de mercado sempre têm um comportamento cíclico. A fase atual está durando mais do que era esperado, mas é difícil prever quando vai acabar. O Japão ainda continua numa situação difícil e a Europa não apresenta boa taxa de crescimento. Qualquer queda de atividade da economia dos EUA, causada pela Bolsa ou por razões cíclicas, será ruim para o Brasil.
Folha - O que pode acontecer?
Scheinkman -
Tudo depende do cenário. O pior cenário é se houver uma alta na taxa de juros antes da queda do preço das ações. Isso vai provocar um aumento no custo para o Brasil levantar capital. Como o Brasil ainda precisa de financiamento externo, vai haver efeito sobre o déficit e também sobre o custo dos investimentos no país. Os dois efeitos são ruins. Levam a um aumento de custos e criam nova pressão sobre a dívida.
Folha - Como o Brasil poderia ficar menos vulnerável?
Scheinkman -
A única maneira é aumentar a poupança interna. O aumento pode ser feito pelo governo. É o mais factível: criar um superávit nas contas públicas. O aumento da poupança privada é mais complicado, depende de medidas como a reforma da Previdência.
Folha - O Brasil está mais bem preparado para enfrentar uma crise externa?
Scheinkman -
Se o Brasil cumprir o que foi anunciado em termos fiscais, estará melhor preparado do que na época da crise da Rússia. O problema é que essas coisas a gente só vê depois. É bom lembrar o pacote 51, em que se prometia cortar gastos, e não foi cumprido.
Folha - Como o sr. observa a economia brasileira?
Scheinkman -
Foram tomadas algumas medidas de curto prazo para aumentar a poupança interna. O que falta é criar um clima que permita ao país crescer de maneira sustentada por um período longo. Para fazer isso, teremos de fazer uma reforma fiscal profunda e resolver o problema da Previdência, além de melhorar o sistema educacional.


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