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Para Scheinkman, o risco de colapso está superestimado
da Reportagem Local
O risco de uma eventual queda
no preço das ações norte-americanas se transformar em uma recessão nos Estados Unidos e, por extensão, no resto do mundo está superestimado.
Na opinião do economista brasileiro José Alexandre Scheinkman,
que trabalha na Universidade de
Chicago, a Bolsa de Nova York
contém apenas uma pequena parte
da riqueza dos norte-americanos.
Além disso, diz Scheinkman, "o
Fed (banco central dos EUA) tem
instrumentos para minorar os
efeitos de uma queda no preço das
ações sobre a economia dos Estados Unidos".
Scheinkman concedeu a seguinte
entrevista à Folha, por telefone, de
Chicago:
(RICARDO GRINBAUM)
Qual é o risco de um "crash'?
José Alexandre Scheinkman - É
difícil dizer se há uma bolha especulativa na Bolsa e se vai estourar.
Se houver uma queda grande no
preço das ações, não haverá, necessariamente, uma retração importante na economia. O chamado
"efeito riqueza" é exagerado. A
Bolsa contém apenas uma parte da
riqueza norte-americana. Mais de
dois terços da renda das pessoas
vem dos salários. Isso não quer dizer que uma eventual queda no
preço das ações não possa provocar uma crise no sistema financeiro. O canal da crise são os bancos.
Mas tudo vai depender da condução da política monetária. Em
1987, houve uma queda grande na
Bolsa, mas o Fed deu liquidez aos
bancos e diminuiu os impactos sobre a atividade econômica. O Fed
tem instrumentos para minorar os
efeitos da queda da Bolsa.
Folha - O ciclo de crescimento
dos Estados Unidos está chegando
a seu final?
Scheinkman - As economias de
mercado sempre têm um comportamento cíclico. A fase atual está
durando mais do que era esperado, mas é difícil prever quando vai
acabar. O Japão ainda continua
numa situação difícil e a Europa
não apresenta boa taxa de crescimento. Qualquer queda de atividade da economia dos EUA, causada
pela Bolsa ou por razões cíclicas,
será ruim para o Brasil.
Folha - O que pode acontecer?
Scheinkman - Tudo depende do
cenário. O pior cenário é se houver
uma alta na taxa de juros antes da
queda do preço das ações. Isso vai
provocar um aumento no custo
para o Brasil levantar capital. Como o Brasil ainda precisa de financiamento externo, vai haver efeito
sobre o déficit e também sobre o
custo dos investimentos no país.
Os dois efeitos são ruins. Levam a
um aumento de custos e criam nova pressão sobre a dívida.
Folha - Como o Brasil poderia ficar menos vulnerável?
Scheinkman - A única maneira é
aumentar a poupança interna. O
aumento pode ser feito pelo governo. É o mais factível: criar um superávit nas contas públicas. O aumento da poupança privada é mais
complicado, depende de medidas
como a reforma da Previdência.
Folha - O Brasil está mais bem
preparado para enfrentar uma crise externa?
Scheinkman - Se o Brasil cumprir
o que foi anunciado em termos fiscais, estará melhor preparado do
que na época da crise da Rússia. O
problema é que essas coisas a gente
só vê depois. É bom lembrar o pacote 51, em que se prometia cortar
gastos, e não foi cumprido.
Folha - Como o sr. observa a economia brasileira?
Scheinkman - Foram tomadas algumas medidas de curto prazo para aumentar a poupança interna. O
que falta é criar um clima que permita ao país crescer de maneira
sustentada por um período longo.
Para fazer isso, teremos de fazer
uma reforma fiscal profunda e resolver o problema da Previdência,
além de melhorar o sistema educacional.
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