São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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Prever freada da economia dos EUA é arriscado, diz governo

ISABEL VERSIANI
da Sucursal de Brasília

O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Caramuru, não faz apostas em uma reversão do quadro de prosperidade norte-americana.
"Creio que todos os que estão arriscando previsões sobre uma perda do vigor da economia americana estão se surpreendendo", diz.
"A gente se pergunta o que vai acontecer se não houver mais um absorvedor de exportações mundiais na proporção dos Estados Unidos", afirma o diplomata.
Caramuru foi representante do Brasil no Banco Mundial entre 1994 e 1995.
Para ele, é interesse estratégico "do mundo inteiro" que outras economias voltem a crescer na mesma proporção que a dos Estados Unidos.
Ele argumenta que, com importações anuais de US$ 1 trilhão, o país cumpre hoje, sozinho, a função de motor do desenvolvimento econômico no mundo. Papel que, no passado, seria desempenhado, também, por países em desenvolvimento.
Segundo o secretário, a capacidade de os Estados Unidos conseguirem manter taxas de crescimento muito elevadas, com baixa pressão inflacionária e ganhos de produtividade, estaria relacionada, em parte, ao processo de absorção de tecnologia pelo setor produtivo do país.
Caramuru também aponta como fator positivo o fato de os Estados Unidos terem uma economia macroeconômica "muito sólida", com pouca presença do Estado.
Outro diferencial é que, ao contrário dos países europeus e do Japão, os Estados Unidos não estariam na dependência de reformas estruturais.
Para o secretário, uma implicação concreta do "extraordinário" vigor econômico-financeiro dos Estados Unidos é que o país passa, necessariamente, a exercer uma liderança política mundial na área.
Dentro desse contexto, o desafio para países como o Brasil seria conseguir manter com o país um diálogo "expressivo" e "à altura" do nível de influência que ele tem no mundo.
Na opinião do secretário, nos últimos anos o Brasil tem sido bem-sucedido nesse esforço. "Eles (norte-americanos) nos apoiaram, em grande medida, no acordo com o Fundo Monetário Internacional."
Nas relações comerciais com os Estados Unidos, o Brasil ainda tem muito o que melhorar, na opinião de Caramuru. As exportações brasileiras para o mercado norte-americano são hoje da ordem de US$ 9 bilhões anuais.
Apesar de ser uma pauta boa, centrada em produtos manufaturados, o volume representa apenas 0,9% do total exportado pelos Estados Unidos por ano, o que o secretário considera "muito baixo".
Segundo dados do governo dos Estados Unidos, o país tem hoje um superávit de US$ 344,43 milhões no comércio com o Brasil. É o quarto maior superávit comercial dos Estados Unidos (os três primeiros são com os Países Baixos, o Reino Unido e a Austrália).
Essa condição daria ao Brasil uma "relevância estratégica" que deve, segundo Caramuru, ser usada em negociações comerciais. "O fato de a gente ter esse déficit nos deveria dar algum crédito em discussões bilaterais."
O secretário alerta para uma retomada de uma postura protecionista por parte de alguns setores exportadores nos Estados Unidos.
O fenômeno tem acontecido, em seu entendimento, em razão do aumento da competitividade mundial e também das crises financeiras internacionais. Exportadores norte-americanos estariam temendo que seus competidores pudessem ter ganhos de competitividade com desvalorizações cambiais.


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