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Prever freada da economia dos EUA é arriscado, diz governo
ISABEL VERSIANI
da Sucursal de Brasília
O secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Marcos Caramuru, não faz
apostas em uma reversão do quadro de prosperidade norte-americana.
"Creio que todos os que estão arriscando previsões sobre uma perda do vigor da economia americana estão se surpreendendo", diz.
"A gente se pergunta o que vai
acontecer se não houver mais um
absorvedor de exportações mundiais na proporção dos Estados
Unidos", afirma o diplomata.
Caramuru foi representante do
Brasil no Banco Mundial entre
1994 e 1995.
Para ele, é interesse estratégico
"do mundo inteiro" que outras
economias voltem a crescer na
mesma proporção que a dos Estados Unidos.
Ele argumenta que, com importações anuais de US$ 1 trilhão, o
país cumpre hoje, sozinho, a função de motor do desenvolvimento
econômico no mundo. Papel que,
no passado, seria desempenhado,
também, por países em desenvolvimento.
Segundo o secretário, a capacidade de os Estados Unidos conseguirem manter taxas de crescimento muito elevadas, com baixa
pressão inflacionária e ganhos de
produtividade, estaria relacionada, em parte, ao processo de absorção de tecnologia pelo setor produtivo do país.
Caramuru também aponta como
fator positivo o fato de os Estados
Unidos terem uma economia macroeconômica "muito sólida",
com pouca presença do Estado.
Outro diferencial é que, ao contrário dos países europeus e do Japão, os Estados Unidos não estariam na dependência de reformas
estruturais.
Para o secretário, uma implicação concreta do "extraordinário"
vigor econômico-financeiro dos
Estados Unidos é que o país passa,
necessariamente, a exercer uma liderança política mundial na área.
Dentro desse contexto, o desafio
para países como o Brasil seria
conseguir manter com o país um
diálogo "expressivo" e "à altura"
do nível de influência que ele tem
no mundo.
Na opinião do secretário, nos últimos anos o Brasil tem sido bem-sucedido nesse esforço. "Eles (norte-americanos) nos apoiaram, em
grande medida, no acordo com o
Fundo Monetário Internacional."
Nas relações comerciais com os
Estados Unidos, o Brasil ainda tem
muito o que melhorar, na opinião
de Caramuru. As exportações brasileiras para o mercado norte-americano são hoje da ordem de
US$ 9 bilhões anuais.
Apesar de ser uma pauta boa,
centrada em produtos manufaturados, o volume representa apenas
0,9% do total exportado pelos Estados Unidos por ano, o que o secretário considera "muito baixo".
Segundo dados do governo dos
Estados Unidos, o país tem hoje
um superávit de US$ 344,43 milhões no comércio com o Brasil. É
o quarto maior superávit comercial dos Estados Unidos (os três
primeiros são com os Países Baixos, o Reino Unido e a Austrália).
Essa condição daria ao Brasil
uma "relevância estratégica" que
deve, segundo Caramuru, ser usada em negociações comerciais. "O
fato de a gente ter esse déficit nos
deveria dar algum crédito em discussões bilaterais."
O secretário alerta para uma retomada de uma postura protecionista por parte de alguns setores
exportadores nos Estados Unidos.
O fenômeno tem acontecido, em
seu entendimento, em razão do
aumento da competitividade
mundial e também das crises financeiras internacionais. Exportadores norte-americanos estariam
temendo que seus competidores
pudessem ter ganhos de competitividade com desvalorizações
cambiais.
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