|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCOSUL
Economistas dizem que a crise começou a piorar com moratória russa, que fechou crédito a países emergentes
Real fraco só agrava recessão argentina
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
A recessão argentina começou
antes da desvalorização do real. A
crise brasileira dificulta e prolonga
o processo de recuperação, mas
não pode ser responsabilizada por
todas as mazelas do país vizinho.
A análise é de economistas argentinos de importantes centros
de estudos econômicos, consultados pela Folha. Segundo eles, a
moratória russa, que restringiu o
acesso de países emergentes a capitais externos, marca o início da
crise (ver quadro).
Além do contexto de menor disponibilidade de financiamentos
externos, a dificuldade da indústria argentina de exportar seus
produtos é importante fator na recessão, afirma Luis Secco, economista-chefe do Instituto Broda.
Segundo ele, uma queda no ritmo de crescimento do mundo e do
comércio exterior dificulta o acesso aos mercados estrangeiros.
Paridade fixa
A alta do dólar diante das demais
moedas também passou a encarecer os produtos argentinos devido
ao Plano de Convertibilidade, que
atrela o peso ao dólar, afirma Juan
Luis Bour, economista chefe da
Fiel (Fundação de Investigações
Econômicas Latino-americanas).
Como se não bastasse, os principais produtos de exportação da
Argentina enfrentam um queda de
preço no mercado internacional.
As commodities agrícolas estão
30% mais baratas em relação aos
preços médios do últimos 20 anos,
estima Secco.
"Quando o Brasil desvalorizou o
real, restringindo um dos únicos
mercados ao qual a Argentina ainda possuía fácil acesso, ficamos no
pior dos mundos", afirma o economista-chefe do Broda.
Mas a dinâmica da crise argentina mostra que o mercado financeiro sentiu mais o impacto da crise
russa do que o da desvalorização
do real, apontam os economistas.
Juros
Os juros, por exemplo, tiveram
um pico de 19% ao ano em setembro. A crise russa foi em agosto.
Depois da desvalorização do real,
os juros mais altos foram de
15,77%, no final de janeiro. Em
abril, a taxa já estava abaixo do patamar anterior ao da própria crise
russa.
Outro dado, que mostra que a
recessão argentina é anterior à
desvalorização do real, é o volume
de crédito ao sistema privado, que
parou de crescer em agosto, segundo Carlos Korcarz, vice-presidente da consultoria Cima. O volume de crédito é importante porque determina investimentos e influi no nível de consumo.
Segundo Ernesto Kritz, diretor
executivo da SEL (Sociedade de
Estudos Laborais), a recessão anterior à desvalorização do real
também teve maior influência sobre o nível de desemprego.
Kritz estima que a queda do comércio com o Brasil deverá contribuir com um acréscimo de 0,4
ponto percentual na taxa de desemprego. Segundo estimativas
do Instituto Broda, a taxa de desemprego, que estava em 12,4%
em 98, deve chegar a 16,5%.
Real fraco
Para Andrés Ferrari, economista
do Instituto de Estudos Brasileiros, a crise brasileira, no entanto,
não pode ser subestimada. "A
queda do real fechou uma das
poucas saídas para os produtos
argentinos ainda existentes."
Para Ferrari, "as condições para
crise argentina estavam postas antes da queda do real".
A ABA (Associação de Bancos
da Argentina) concorda com análise de Ferrari. Segundo eles, embora o impacto no sistema financeiro tenha sido limitado, uma deterioração das empresas, que não
conseguem exportar, pode colocar em crise o sistema bancário.
Texto Anterior: "Procuramos criar uma nova opção de agir" Próximo Texto: Previsão é de crescimento Índice
|