São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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Até bancos devem ter lucros mais modestos

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O segundo trimestre de 2002, que já se aproxima do fim, não deverá ser dos melhores para alguns bancos que atuam no Brasil. Uma sucessão rara de apostas mal feitas das instituições, atuações desastradas do Banco Central e crises no mercado devem se traduzir em grandes perdas e, consequentemente, lucros mais modestos que os de costume.
Segundo analistas, as instituições mais afetadas deverão ser os bancos de investimento.
As causas para o pior desempenho dos bancos são muitas. Começaram principalmente com a crise do chamado "cupom cambial" há algumas semanas. O cupom cambial é um instrumento do mercado futuro que permite ao investidor fazer, ao mesmo tempo, uma aposta na trajetória dos juros e do dólar.
As posições de muitos bancos refletiam uma aposta em queda de juros e estabilidade do dólar. Mas esse movimento não se confirmou e os bancos começaram a amargar perdas.
Quando isso acontece, o investidor tem duas opções principais. Esperar (e torcer para) que a tendência se inverta para tentar recuperar as perdas. Ou se desfazer da aposta feita e registrar o prejuízo.
Segundo o analista do setor bancário de um importante banco, grande parte das instituições que estavam sofrendo perdas na BM&F (Bolsa de Mercadoria e Futuros) com o cupom cambial optaram por registrar os prejuízos. Isso deverá abalar os balanços dos bancos no trimestre.
Outra provável fonte de lucros menores é a mudança nas regras de contabilidade dos ativos dos bancos, determinada pelo BC. Como os fundos de investimento, os bancos terão de adotar a chamada "marcação a mercado" para contabilizar títulos públicos. A regra vai valer para os papéis que as instituições considerarem que podem vender no curto prazo.
O método de marcação a mercado leva em conta as oscilações que esses papéis têm diariamente. Até então, algumas instituições usavam outra regra contábil que considerava o valor projetado para os títulos em seu vencimento conforme a variação dos juros.
De acordo com especialistas, os bancos poderão passar a fazer provisões para possíveis perdas com títulos ou registrar, diretamente, prejuízos com os mesmos. Mas analistas fazem uma ressalva: como os bancos terão flexibilidade para classificar seus títulos, poderão considerar papéis que estejam desvalorizados como títulos que pretendem manter até o vencimento e, com isso, driblar a marcação a mercado.
A recente alta do dólar poderá compensar, em parte, as perdas de alguns bancos que tenham, por exemplo, ativos no exterior.
No geral, os lucros de grandes bancos de varejo deverão ser, segundo analistas, menos afetados. Acredita-se, por exemplo, que essas instituições já tenham se desfeito de títulos públicos longos, como LFTs, de suas carteiras.
Segundo o analista de uma consultoria, os bancos não chegarão a ter prejuízos, mas tampouco este será um trimestre de lucros altíssimos para todos.


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