São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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INDÚSTRIA

Expansão do segmento petroleiro e a substituição de importações de máquinas são os destaques para o resultado do setor

Bens de capital vai na contramão e cresce 29% em abril

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Impulsionado pela alta de 16% no primeiro quadrimestre de 2002 em relação ao mesmo período de 2001, o setor de bens de capital espera crescer de 6% a 8% este ano.
Os dados são da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). Outro dado positivo é o crescimento de 29% em abril deste ano em relação ao ano passado.
Por serem responsáveis por equipamentos e componentes que servem para a produção de outros bens e serviços, os bens de capital são considerados termômetros da economia. Um desempenho positivo do setor pode indicar uma aposta na recuperação da economia ou um indício de que a situação não é tão grave.
Porém, apesar de parecer que a indústria de bens de capital está imune aos indícios de desaceleração da economia brasileira, especialistas recomendam cautela na avaliação desses dados.
Para o coordenador do grupo de indústria e competitividade da UFRJ, David Kupfer, o crescimento de 16% registrado pela Abimaq é surpreendente, mas não significa uma retomada da economia brasileira, que, segundo ele, apresenta fortes indícios de recessão.
Na avaliação do economista, os resultados da Abimaq devem refletir o desempenho positivo de alguns segmentos, sobretudo o petroleiro. Diferentemente de outros setores, essa indústria está em fase de expansão, que deve ser mantida por, pelo menos, mais seis anos.
Essa afirmação é corroborada pelo presidente da Abimaq, Luiz Carlos Delben Leite. Ele calcula que serão investidos cerca de US$ 8 bilhões no segmento de petróleo ao longo de 2002. Para os próximos quatro anos, a cifra deve chegar aos US$ 32 bilhões.
Além desse destaque, o presidente da Abimaq também dá outra razão para o bom resultado do setor. "O processo de comercialização na indústria de bens de capital é mais longo. Logo, pequenas turbulências não têm impacto significativo", afirmou Leite.
O presidente também diz não acreditar no risco de recessão no país, apesar da manutenção da taxa básica de juros (Selic), considerada por ele como "uma grande barbeiragem".
Sobre à expectativa de crescimento de 6% para o ano, Kupfer considera o número plausível. A substituição de importações de máquinas, em resposta à retração de 10% do volume importado de máquinas no quadrimestre, é apontada pelo economista como um dos pilares da alta.

Importações em baixa
Diferentemente do desempenho da produção brasileira de bens de capital, as importações do setor estão em baixa. Em comparação com 2001, os primeiros quatro meses de 2002 registraram queda de 10%.
Segundo especialistas, essa retração indica desaceleração da economia, pois o volume de importações acompanha o desempenho econômico de um país.
A Emo Ltda., empresa importadora de máquinas para a indústria metalúrgica e automobilística, ilustra o impacto dessa queda para os importadores de máquinas e equipamentos.
Segundo Carlos Gaisbauer, gerente de marketing da empresa, neste ano já foi notada uma queda de 50% a 80% nas importações. Para ele, o faturamento de US$ 4 milhões conseguidos no ano passado deverá encolher neste ano.
O prognóstico negativo tem como base o resultado das vendas na Mecânica 2002, maior feira do setor realizada em São Paulo no começo de maio. Pela primeira vez, a empresa não fechou nenhum negócio durante o evento.
O crescente aumento de desemprego e a alta do dólar são apontados por Gaisbauer como os principais fatores pela retração no volume de maquinário importado.
As exportações da indústria de bens de capital também não vão bem. Segundo o presidente da Abimaq, o fraco desempenho das vendas externas no quadrimestre reflete, sobretudo, a crise argentina. Em contraste com 2001, houve queda de 9%.
Segundo a Abimaq, o volume exportado para o mercado norte-americano passou de 25,48% para 33,14%. A participação do Reino Unido subiu de 2,10% para 6,99%.


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