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LUÍS NASSIF
Juros, impostos e carros
Presidente da Anfavea
(Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores), Rogelio Golfarb se
surpreendeu com o ufanismo
que tomou conta de parte da
mídia, em relação aos dados de
vendas de veículos. No primeiro
trimestre do ano passado, a taxa Selic era dez pontos maior, o
risco Brasil, o dobro, a economia estava paralisada. Neste
ano, em situação muito melhor,
o setor cresceu meros 5,2% sobre igual período. Por que se comemora?
A situação do setor é peculiar.
O grande e breve salto do mercado de consumo com o Real,
antes que o câmbio explodisse o
modelo, trouxe grande volume
de capital. E um total de 17
montadoras, quantidade inferior apenas à dos EUA. Na parte de autopeças, o movimento
atraiu mais de 500 fornecedores, praticamente todos os grandes grupos internacionais. Localmente, a produção contém
mais de 95% de conteúdo nacional.
Mais que isso, quase todas as
grandes empresas trouxeram
para o Brasil seus departamentos de engenharia. Apenas cinco
ou seis países no mundo têm essa vantagem competitiva.
Graças a esses departamentos, o setor logrou adaptar carros brasileiros para outros mercados e transformar o país em
plataforma exportadora. No
ano passado, o país exportou
US$ 5,5 bilhões. Neste ano, o
número pode chegar a US$ 6,6
bilhões.
No entanto esse sucesso todo
está com os dias contados, se
não houver mudanças no ambiente econômico e o mercado
interno não se reativar. Hoje
em dia não existe investimento
sequer para manter o parque
atualizado. Sem eles, não haverá mercado externo que resista.
O termômetro da crise é o pátio cheio. Encheu, setor e governo pensavam em políticas tópicas para desovar os estoques. A
última foi a redução do IPI do
ano passado. Só que caiu a ficha da própria Anfavea, para
quem, sem projeto de país, medidas tópicas setoriais não são
suficientes para provocar decisões de investimentos das matrizes.
O próximo grande competidor a entrar no mercado será o
Leste Europeu. Dentro de algum tempo, a própria China
deverá se transformar em exportadora de automóveis, em
que pese seu enorme mercado
interno.
Hoje em dia, da capacidade
instalada da indústria, 41% se
destinam ao mercado interno,
16%, à exportação, e 43% estão
ociosos. Neste ano, o setor vai
produzir 1,5 milhão de veículos.
Se as condições internas, de tributação e juros, fossem as mesmas dos EUA, alcançaria facilmente a marca dos 2 milhões de
veículos. A capacidade ociosa
ficaria em 25%, perfeitamente
administrável.
Só que a queda continuada
de renda está reduzindo substancialmente os investimentos
em carros grandes, com maior
teor de tecnologia. Tem se mantido a duras penas no segmento
médio. E mantém-se a competitividade nos carros pequenos,
setor de intensa competição,
com margens reduzidas de ganho.
A única saída seria um mercado interno forte. E aí se esbarram nas duas principais vulnerabilidades do modelo econômico adotado na última década: impostos e juros altíssimos.
A solução transcende o setor.
O risco que há, mais à frente,
será o de as matrizes promoverem o "write-off" (reconhecimento do prejuízo) da capacidade excedente. E não voltar
mais o investimento.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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