São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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RETOMADA?

Presidente diz a empresários que Brasil não pode ser "cemitério de obras"

Para Lula, país precisa de "investimento sustentável"

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante de uma platéia de 400 empresários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o país precisa não apenas de crescimento sustentável, mas de "investimento sustentável" para não virar um "cemitério de obras", como, segundo ele, costumava ocorrer no passado.
Lula repetiu que o governo continuará criando regras para dar garantias aos investidores. Sem estabilidade, disse Lula, o Brasil crescerá de forma inconstante. "Estamos juntos nessa empreitada histórica para que o Brasil não fique como um marca-passo, ou seja, cresce num ano, diminui no outro; investe num ano e não investe no outro. Precisamos não só de crescimento sustentável mas de investimento sustentável."
Lula discursou no encerramento do seminário promovido pela Abdib (Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústria de Base), em Brasília. Antes de falar, Lula ouviu críticas do presidente da instituição, José Augusto Marques. O empresário cobrou regras claras para que os empresários sintam-se seguros a investir em infra-estrutura.
Sem dinheiro, o governo depende de recursos da iniciativa privada para investir em portos, rodovias e ferrovias. Esses investimentos só serão possíveis depois da aprovação do chamado PPP (Projeto de Parceria Público-Privada), que ainda tramita no Congresso.
O Estado brasileiro perdeu sua capacidade de investimento, como já admitiu Lula mais de uma vez. Sem os recursos da iniciativa privada, não terá condições de investir em infra-estrutura. "O Brasil não pode esperar. Se nosso mercado externo continuar a crescer, não teremos como exportar tudo o que produzimos porque precisamos investir em portos, ferrovias, rodovias."
"O que vocês desejam é o que nós desejamos: vocês querem regras claras, nós também, porque este país durante alguns anos foi visto pela opinião pública como um país que privilegiava os cemitérios de obras que começavam e nunca terminavam."
Segundo Lula, quem viaja pelo Brasil "cansou" de ver estradas e ferrovias inacabadas "numa total irresponsabilidade". "O governo fingia que pagava, vocês fingiam que faziam, todo mundo enganava todo mundo, e as coisas não aconteciam. Por isso as regras têm que ser claras", disse Lula.

Críticas
Ao longo do seminário, que durou todo o dia, os empresários já haviam aproveitado a presença dos principais ministros da equipe econômica para fazer críticas públicas ao governo.
No painel sobre estabilidade macroeconômica e parceria para o crescimento, que contou com as presenças dos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Guido Mantega (Planejamento), as críticas foram mais duras.
José Luiz Alquéres, vice-presidente da Abdib e presidente da Alston (fabricante de turbinas), disse que há um ano e meio não recebia uma encomenda para o mercado interno. "Talvez eu destoe do tom comportado, vou demonstrar um pouco da indignação do setor", disse. "O governo tem que gerir melhor e tem que gastar melhor".
Na sua vez de falar, Mantega rebateu. "Talvez a indignação seja de muitos anos atrás", disse. Alquéres interrompeu: "A indignação é histórica, mas queremos rapidez para resolver". "A rapidez está sendo a maior possível", retrucou Mantega.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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