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CRISE NO AR
Administração da empresa prepara documento que seria exigência do governo para suposto "encontro de contas"
Varig quer Ruben Berta fora do controle
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
A administração da Varig prepara um documento em que a
Fundação Ruben Berta se compromete a não permanecer no
controle acionário seja qual for o
cenário de investidores construído para reestruturar a aérea.
Segundo pessoas ligadas à direção da empresa, o documento
servirá para atender uma exigência do governo federal. O governo
não prometeu a realização do
chamado "encontro de contas",
mas teria avisado que, caso ele
saia do papel, estará condicionado à garantia de que a fundação
perde definitivamente o controle.
Procurado pela reportagem, o
Ministério da Defesa não se pronunciou sobre o assunto.
Pessoas ligadas à nova administração da companhia avaliam que
o governo e os credores da Varig
consideram inviável negociar
com a fundação. Seria essa a razão
para a insistência na venda da aérea, apesar de o plano de negociações mais adiantado -o da aérea
estatal portuguesa TAP- passar
necessariamente pelo "encontro
de contas" com o governo.
"Encontro de contas" é como ficou conhecida a hipótese de eliminar as dívidas da companhia
com credores governamentais,
compensando-as com indenização que a União teria de pagar à
Varig, segundo o entendimento
do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Segundo a decisão, que não
é definitiva, a aérea tem o direito a
receber R$ 2,5 bilhões referentes a
perdas com congelamentos.
Sindicalistas e especialistas em
aviação dizem que, com o "encontro", que é pedido pela empresa há pelo menos cinco anos, a
venda da aérea é desnecessária.
"Eu não tenho dúvidas. A partir
do momento em que o governo
sinaliza para o encontro de contas, não há por que entregar ou
doar a companhia a investidor
nenhum, seja ele a TAP ou qualquer outro", afirma Graziella Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas.
O termo "doação" tem sido empregado pelos críticos à proposta
apresentada pela TAP. Em Portugal, a imprensa tem escrito que a
TAP controlará a Varig "sem precisar injectar nenhum dinheiro".
Se assim for, na análise dos consultores, será o "melhor negócio
de todos os tempos".
David Zylbersztajn, presidente
do conselho de administração da
Varig, disse ontem à Folha que,
diferentemente do que tem sido
dito, a TAP irá colocar dinheiro
na Varig. Já Fernando Pinto, administrador da aérea portuguesa,
diz que o dinheiro não virá da
TAP nem do governo português.
Em Portugal, o cenário é colocado com muito mais cautela do
que no Brasil. Se a Varig quer
mostrar que tudo está encaminhado para obter prazos na renegociação de dívidas com o governo, a TAP tenta minimizar os efeitos do negócio -o grande naquele país é o de que haja gastos que
aumentem o déficit.
O plano da TAP para recuperar
a Varig e ficar com 20% da companhia, segundo Zylbersztajn,
passa pela transformação de credores em acionistas e pela negociação de papéis da dívida da Varig no Brasil e no exterior -conforme a Folha antecipou-, além
de depender do acerto de contas.
Sem acordo, a Varig só teria
chance de receber o crédito por
volta de 2008, se continuar vencendo na Justiça. Analistas do setor dizem que a empresa não sobreviverá nem seis meses sem
uma injeção de capital.
A americana ILFC (International Lease Finance Corporation),
maior empresa de leasing do
mundo em valores negociados,
cobrou mais uma vez da Varig o
pagamento de parcelas atrasadas
em contratos, pedindo a devolução de 11 aeronaves arrendadas.
A Varig diz que não precisará
devolver aviões. Segundo
Zylbersztajn, a proximidade da
definição do acordo com a TAP
pode estar levando os credores a
pressionar a empresa. A aérea deve receber ultimatos de outras firmas de leasing até segunda-feira.
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