|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Foco
Leilão em hangar de aeroporto tem torcida, bandeiras e discursos
DA ENVIADA AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO
Da comemoração antecipada -com direito a bandeiras
do Brasil, discursos, torcida e
claque- à água fria de uma
única proposta de compra,
vinda de uma associação de
funcionários que está longe de
ser unanimidade mesmo entre os trabalhadores.
Foi nesse clima que aconteceu ontem o leilão de venda da
Varig, no hangar ao lado do aeroporto Santos Dumont, no
Rio de Janeiro.
O espaço ficou lotado de
funcionários, que acompanharam os acontecimentos
com bandeiras e camisetas de
incentivo à empresa. Antes do
início do leilão, Hino Nacional
em gravação de Fafá de Belém
e discursos de artistas que
contaram com o patrocínio da
Varig em telão deram o tom
do evento.
O juiz do caso Varig, Luiz
Roberto Ayoub, da 8ª Vara
Empresarial, que já se autodenominou "o anjo da Varig", virou estrela entre os funcionários pelas decisões que permitiram a viabilidade da companhia, e chegou a ser mais
aplaudido do que o presidente
da empresa, Marcelo Bottini.
Seu discurso, que precedeu
o leilão, pontuado de referências à "belíssima companhia
aérea", foi ovacionado pelos
trabalhadores. "Estou otimista, como um bom botafoguense, nesse dia belíssimo, em
que certamente em breve passará uma estrela", disse.
A estrela em questão era
uma referência ao símbolo da
Varig. E, tal qual a previsão,
um Boeing-737 pousou no
Santos Dumont durante o discurso. O comandante da aeronave colocou uma bandeira do
Brasil do lado de fora e foi
aplaudido de pé pelos funcionários, de forma similar ao
que ocorreu na última assembléia da companhia.
Na platéia, entre os credores da empresa que acompanhavam o leilão, chamava a
atenção Amaury Antunes
Guedes, 71, que carregava uma
bandeira brasileira. Aposentado pela Varig há 16 anos,
contava que foi ao leilão para
torcer por uma "vitória" da
empresa.
"A Varig não falindo já é
uma vitória. Tem que ganhar
nem que seja por 1 a 0", dizia
ele, que trabalhou por 36 anos
na empresa em diferentes
funções, como comissário de
bordo e aeroviário (trabalhador em terra), entre outras.
A percepção de que a crise
da Varig se prolonga indefinidamente foi motivo de reclamações. "A gente quer um
desfecho, não agüentamos
mais essa situação. Estamos
sem motivação para trabalhar. A única motivação é o
amor pela empresa", afirmou
Giane Carvalho, 29, analista
de informações de vôo.
Segundo a presidente do
Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, após a
proposta do TGV, o clima do
leilão passou a ser de velório.
"Ficou todo mundo mudo e
chocado com aquilo. Meu sentimento é de derrota. Quem
disse que o TGV pode usar os
créditos extraconcursais dos
trabalhadores? Nós não aprovamos isso. De onde eles vão
tirar o dinheiro?", disse.
Caso a proposta não seja
aprovada, Balbino afirma que
a única saída para a Varig é
uma intervenção do governo.
"O governo tem a responsabilidade de ver que todos os esforços já foram feitos para salvar essa empresa", disse.
A consultora de desenvolvimento de recursos humanos
Rosiléa Amatto, 47, ficou decepcionada com a falta de interesse das concorrentes. "Foi
meio desolador. Uma empresa com a reputação da Varig, e
só aparece uma proposta, dos
próprios funcionários", disse.
Ela trabalha na companhia há
17 anos.
Texto Anterior: Risco e falta de dados afastam os investidores Próximo Texto: Governo diz ter feito "o possível" pela Varig Índice
|