São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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CRISE GLOBAL

Banco para Compensações Internacionais diz que colapso argentino deverá afetar fluxo de investimentos

Argentina contagia emergentes, afirma BIS

DA REDAÇÃO

O colapso da Argentina deve provocar uma fuga de investidores dos chamados mercados de economia emergente, como o Brasil, de acordo com relatório publicado ontem pelo BIS (Banco para Compensações Internacionais, na sigla em inglês). A instituição, cuja sede fica na Basiléia (Suíça), também apoiou o enrijecimento do FMI (Fundo Monetário Internacional) na concessão de pacotes de ajuda financeira.
"A crise argentina pode afetar o investimento futuro dos bancos internacionais nos mercados emergentes, dadas as perdas sofridas pelos bancos estrangeiros [na Argentina"", diz o BIS, conhecido como o banco central dos bancos centrais, em seu relatório anual sobre a economia mundial.
Os países em desenvolvimento também tendem a enfrentar uma queda nos investimentos diretos (feitos em setores produtivos da economia). Segundo o BIS, isso ocorreria por causa das perdas que as multinacionais amargaram na Argentina.
Os prejuízos, de acordo com o BIS, estenderam-se ainda aos pequenos e médios investidores. "Devido às perdas dos europeus, que detinham estimados US$ 20 bilhões em títulos do governo argentino, os emergentes deverão ter dificuldades para rolar suas dívidas com pequenos investidores no futuro", afirma o relatório.
De acordo com o BIS, os bancos e correntistas argentinos precisam ter bom senso no momento e renunciar à parte de seus ativos.
"Os credores precisam entender que a única escolha é entre ter apenas meio pão ou ter pão nenhum. O potencial de acesso ilimitado a outras fontes de recursos impede tal entendimento", afirma a instituição, em referência ao socorro oferecido pelo Fundo em outras ocasiões.
E o BIS completa: "O FMI está certo ao criar a expectativa de que seus pacotes para os países em crise serão mais limitados. Isso irá remover a expectativa de que um pão inteiro ainda poderá estar sobre a mesa".
Pelas estimativa do BIS, o PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina vai despencar 12,2% neste ano, depois de ter sofrido uma contração de 4,5% no ano passado. A expansão média da América Latina não deverá passar de 0,5%.
Para o Brasil, a instituição prevê um crescimento econômico de 2,1%. A instituição destaca que, no ano passado, o crescimento foi afetado pelo racionamento de energia, além dos efeitos da retração econômica dos países ricos.
O tamanho do endividamento segue como ponto negativo. "O Brasil permanece exposto a um ambiente internacional volátil, por causa de sua grande (ainda que em tendência de queda) necessidade de financiamento externo", diz o relatório.

Escândalos
A eficiência do mercado financeiro enfrenta uma dupla ameaça, de acordo com o BIS: a baixa qualidade das informações disponíveis, como demonstrou o colapso da energética Enron, e a diminuição no números de prestadores de serviços financeiros.
"Debilidades no mecanismo de produção de informações desestimulam investidores e possivelmente distorcem os preços de mercado [das companhias], o que provoca uma má alocação de capitais", afirma o relatório.
A norte-americana Enron quebrou no ano passado em meio a uma série de denúncias de irregularidades contábeis e administrativas que eram virtualmente desconhecidas dos acionistas antes do colapso da corporação.


Com agências internacionais


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