São Paulo, quinta-feira, 09 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líderes do G8 ainda veem "significativos riscos" à economia

Recuperação ainda é frágil, e não há prazo para encerrar pacotes de estímulo dos países, afirmam governantes

Comunicado do G8 reafirma declarações de banqueiros centrais e do G20, indicando a crescente impotência do fórum restrito a países ricos
Andrew Mendichini/Associated Press
Integrante da organização do G8 marca posições para fotos; da esq. para a dir. Taro(Japão), Harper(Canadá). Obama(EUA), Sarkozy(França), Berlusconi(Itália) e Medvedev(Rússia)


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ÁQUILA

Os líderes dos sete países mais ricos do mundo e o da Rússia refugiaram-se ontem no blindado complexo da Guarda de Finanças, na devastada cidade italiana de Áquila, para reafirmar o que os presidentes de seus bancos centrais já haviam posto no papel há dez dias:
"A situação [econômica] permanece incerta e subsistem significativos riscos para a estabilidade econômica e financeira", diz o documento final da cúpula do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, além da Rússia).
Os chefes de governo anotaram, é verdade, que há "sinais de estabilização, incluindo uma recuperação nos mercados de ações, um declínio nos "spreads" e uma maior confiança de homens de negócio e consumidores" -ou seja, os "brotos verdes", como passaram a ser designados os incipientes sinais de recuperação.
Mas eles não bastam para que os líderes do mundo rico se animem a anunciar as "estratégias de saída", outra expressão cunhada a partir da crise e que significa fugir dos caudalosos pacotes fiscais (gasto público) e monetários (juros próximos de zero) de meses recentes.
No que os líderes concordaram foi em "preparar" as estratégias de saída, para o momento em que os "significativos riscos" diminuam ou sejam extintos. Mas adotá-las não está no horizonte, conforme admitiu Kazuo Kodama, porta-voz do governo japonês.
A reafirmação do que já fora dito muito recentemente pelos banqueiros centrais dos 55 países mais representativos do mundo, na assembleia geral do BIS (Banco para Compensações Internacionais), indica a crescente irrelevância (ou impotência) do G8.
Tanto que o comunicado final da cúpula reafirma também -e "fortemente"- "os compromissos assumidos na cúpula de Londres [do G20] no sentido de adotar todos os passos necessários para estimular a demanda, restaurar o crescimento e manter a estabilidade financeira, inclusive fortalecendo a regulação financeira e as instituições financeiras internacionais e mantendo os mercados abertos em todo o mundo".
É a agenda do G20, portanto, que se mostra de fato "mais pertinente" do que o G8, como dissera no início da semana a ministra francesa de Economia, Christine Lagarde.
O problema é que tampouco o G20 exibiu, até agora, poderes para eliminar os riscos, o que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um desabafo, na entrevista coletiva após outra cúpula, a do G5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul, os grandes emergentes):
"É importante trabalhar para que as coisas acordadas sejam cumpridas, senão fica tudo como está e não muda absolutamente nada".
Reclamou também do excesso de grupos discutindo os diferentes temas da atualidade, desde a crise até a mudança climática, passando pela segurança alimentar: "Os chefes de governo não podem ser divididos em 300 grupos diferentes".
No que depender da decisão de ontem do G8, a divisão vai continuar: o clubão dos ricos decidiu estender por mais dois anos o chamado "Processo de Heiligedamm", a cidade da Alemanha que hospedou a cúpula do G8 há dois anos. Significa que o grupo dos cinco grandes emergentes continuará participando do formato G8+G5 (em Áquila são seis, porque a Itália convidou o Egito).
É um modelo de primeira e segunda classe, reclama o chanceler Celso Amorim.
O comunicado do G8 discorda e batiza o mecanismo como "diálogo entre iguais".
Enquanto discutem a crise, os "grandes do mundo", como os trata a mídia italiana, debatem também os desequilíbrios que a antecederam e foram, em boa medida, responsáveis por ela. Na essência, os desequilíbrios referem-se ao fato de que há países que têm enormes déficits em conta corrente, caso principalmente dos Estados Unidos, e países (China, Alemanha e os grandes exportadores de petróleo) que têm superávits colossais.
Segundo Kodama, o porta-voz japonês, houve consenso sobre que, passada a crise, os gastadores como os EUA conterão seu apetite consumista e os exportadores darão força ao mercado doméstico.
Mas o comunicado é menos enfático. Diz apenas que "o crescimento estável e sustentável a longo prazo vai requerer desfazer suavemente os desequilíbrios existentes nas contas correntes [que medem todas as transações com o exterior]".


LEIA MAIS em Ciência


Texto Anterior: Paulo Nogueira Batista Jr.: A emissão de notas pelo FMI
Próximo Texto: Histórico das previsões feitas pelo Fundo recomenda cautela
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.