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GESNER OLIVEIRA
Desburocratização ou morte!
Urge fazer plano de redução e
simplificação tributária; no
mundo globalizado, só assim
se pode atrair investimentos
UMA BOA e uma má notícia durante a Semana da Pátria. A
má notícia: o Brasil está na
121ª posição em um conjunto de 175
países classificados pelo Banco
Mundial de acordo com a qualidade
do ambiente de negócios. A boa notícia: foi aprovada na Câmara o projeto de Lei Geral da Micro e Pequena
Empresa, diminuindo um pouco o
pesadelo de impostos e burocracia
para segmento importante do setor
produtivo.
Os resultados do Banco Mundial
estão disponíveis em www.doing
business.org. A avaliação leva em
consideração o grau de dificuldade
que os empreendedores enfrentam
em cada país para abrir e fechar empresas, registrar e transferir propriedade, obter crédito e cumprir
contratos.
Nova Zelândia, Cingapura e Estados Unidos estão nas três primeiras
posições, equivalente a classificar-se
para a Libertadores em linguagem
de Campeonato Brasileiro. Talvez o
Brasil não consiga tanto em quatro
anos. Mas dá para sair da zona de rebaixamento. Tailândia, Chile e África do Sul, por exemplo, estão entre
os 30 primeiros. Na América Latina,
além do Chile, México (43ª) e Uruguai (64ª) estão em posições menos
vexatórias do que a brasileira. Uma
meta realista para o Brasil seria conquistar um lugar entre os 50 primeiros colocados até 2010.
Isso requer plano de ação que infelizmente não existe na atualidade
nem tampouco é objeto de debate
eleitoral. Seguem duas idéias. A primeira é a de fortalecer as ilhas de facilitação de negócios e coordenação
das burocracias, difundindo experiências bem-sucedidas em algumas
cidades e Estados.
A segunda é uma espécie de disque-denúncia para a "burrocracia",
definida como aquele conjunto de
exigências burocráticas irracionais
que não servem para nada; a não ser,
é claro, para gerar privilégios e corrupção. Mas não basta constatar o
absurdo. É preciso expurgá-lo em
vez de pensar de forma resignada
que "no Brasil é assim mesmo...".
Uma força-tarefa mista de Executivo e Legislativo das diferentes esferas de governo poderia manter acesa
a chama da desburocratização.
A aprovação do projeto de lei geral
para micro e pequenas empresas
constitui avanço. A proposição prevê razoável simplificação e beneficia
cerca de 5 milhões de micro e pequenas empresas que respondem por
20% do PIB e 60% dos empregos
formais. O chamado "supersimples"
em particular permite a unificação
de nove obrigações: seis impostos
federais (IRPJ, IPI, CSLL, PIS/Pasep, Cofins e INSS), um estadual
(ICMS), um municipal (ISS), além
das contribuições para as entidades
privadas de formação profissional e
de serviço social. A mera enumeração desses itens dá uma idéia da dor
de cabeça existente para quem pretende produzir no Brasil.
O maior benefício da desburocratização é a redução da informalidade. O cipoal de regras e os enormes
custos tributário e previdenciário
no Brasil constituem fortes incentivos econômicos para a empresa recorrer ao mercado informal. O mesmo Banco Mundial estima que a informalidade no Brasil represente
cerca de 40% do PIB. Tal fenômeno
condena o país ao crescimento medíocre ao inibir o investimento e limitar o acesso ao crédito.
Ações que atenuem a derrama fiscal e desburocratizem a economia
contribuem para o Brasil crescer rápido e de forma sustentada. O foco
na micro e pequena empresa é justificável pelo fato de os custos administrativos e contábeis pesarem proporcionalmente mais sobre o faturamento das pequenas do que das
grandes empresas. A desburocratização ajuda também a aumentar a
concorrência nos mercados ao reduzir barreiras à entrada de novas empresas.
No entanto, a desoneração das pequenas é insuficiente por si só para
resolver o problema. É insustentável manter regimes tributários radicalmente distintos por muito tempo. Isso termina por gerar mais distorções. É urgente, portanto, desenhar um plano de redução e simplificação da carga tributária para a próxima década.
No mundo globalizado não há outro caminho para atrair investimentos e gerar empregos. A substituição
do tempo burocrático pelo tempo
econômico se tornou questão de sobrevivência.
GESNER OLIVEIRA , 50, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP,
presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e
ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
gesner@fgvsp.br
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